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Editorial

Que a busca pela paz domine os corações no G7

A cúpula de três dias, que começa na sexta-feira em Hiroshima, deve produzir um documento contundente contra a Rússia

16 de Maio de 2023 às 23:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
Kharkiv está sob cerco intenso desde que o presidente russo, Vladimir Putin, ordenou a invasão contra a Ucrânia na quinta-feira passada.
Kharkiv em fragmentos (Crédito: AFP)

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, comemorou, nesta segunda-feira (15), a promessa de vários países do ocidente em fornecer armas modernas para que seja possível enfrentar, em pé de igualdade, os ataques russos. Após conversas com vários líderes, Zelensky se mostrou confiante de que a guerra possa tomar um novo rumo a partir de agora.

Só que bastou o presidente ucraniano anunciar o fechamento de acordos internacionais para a Rússia intensificar os ataques a várias regiões do país invadido. Entre a promessa de França, Alemanha, Itália e Reino Unido e a chegada dos equipamentos, a Ucrânia pode não resistir ao avanço dos exércitos de Putin.

Esse recrudescimento da guerra vai ser tema central da reunião dos países mais ricos do mundo, esta semana, no Japão. Os líderes do G7 pretendem intensificar a pressão contra a Rússia e definir uma linha unificada ante o crescente poderio militar e econômico da China, grande aliada de Putin.

A cúpula de três dias, que começa na sexta-feira (19) em Hiroshima, deve produzir um documento contundente contra a Rússia. Os países da Europa Ocidental, Canadá e Estados Unidos devem pedir um basta à invasão e que Putin volte a respeitar as fronteiras e o território ucraniano.

Na contramão desse movimento, o Brasil faz de tudo para negociar uma posição mais neutra e menos agressiva durante a reunião. O País foi convidado a participar do encontro do G7, mas não concorda com a entrada de outras nações no conflito. Lula, inclusive, recusou pedido da Alemanha de enviar munição para a Ucrânia.

O Itamaraty se esforça para que o texto final do encontro, que tem como tema a segurança alimentar e deve ser adotado de forma consensual, não seja usado como plataforma para atacar Moscou por causa da guerra na Ucrânia.

Os nossos diplomatas sabem que a guerra necessariamente será citada por conta de seus efeitos negativos, em escala global. Mas, segundo o embaixador Maurício Lyrio, secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do Itamaraty, o Brasil atua para adequar a linguagem, de forma que ela esteja em sintonia com a posição brasileira.

O governo Lula busca uma posição de neutralidade, uma tarefa bastante difícil e que tem desagradado mais do que agradado. Da maneira como está, o Brasil não se une aos aliados da vítima Ucrânia, nem tem coragem suficiente para defender de peito aberto a agressão russa. Acaba ficando no limbo da diplomacia.

A posição brasileira já foi informada aos organizadores da cúpula. Na semana passada, o chanceler Mauro Vieira afirmou que o País não isolará a Rússia em fóruns multilaterais, nem tem interesse em tomar lado no conflito. Embora condene a violação do território da Ucrânia pela Rússia, o chanceler disse que o Brasil não aceita sanções unilaterais e rejeita articulações para isolar Vladimir Putin. A Rússia não faz mais parte do bloco, antigo G-8, desde 2014, quando anexou a Crimeia.

Muita coisa está em jogo nessa guerra. A liderança econômica do mundo pode mudar de mãos conforme o resultado dela. Se a Rússia vencer o embate, a China passará a dar as cartas no cenário global. Uma situação que, de maneira alguma, os Estados Unidos pretendem aceitar.

Enquanto uma solução de paz não surge, o comércio de armamentos tem crescido e movimentado bilhões de dólares da indústria bélica. De um lado para abastecer as linhas de defesa da Ucrânia, de outro os russos que precisam repor os estoques gastos com os ataques de mais de um ano de invasão.

Zelensky, ao comemorar as novas armas recebidas dos aliados, acabou antecipando os ataques russos sem ter, ainda, como se defender. Com os ânimos mais acirrados, o discurso de Putin fica cada vez mais agressivo. O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, chegou a afirmar que a chegada de mais armas só vai provocar mais destruição.

Fora do foco da guerra, milhões de pessoas, no mundo todo, sofrem seus efeitos. O custo dos alimentos fica mais caro, a inflação atinge as nações e a insegurança aumenta. A procura por um cenário de paz deve ser o caminho para solucionar o problema de vez e impedir que quem está interessado em faturar com a guerra lucre cada vez mais.