Editorial
Desemprego em alta mesmo com oferta de vagas
A entrada de mais dinheiro em programas sociais faz com que parte da mão de obra disponível prefira ficar em casa do que trabalhar com carteira assinada
O Brasil tem registrado, neste ano, um incremento na taxa de desemprego. Mês a mês os números pioram e cresce o volume de pessoas fora do mercado de trabalho. Com pouca perspectiva de crescimento do País em 2023, muitos empresários decidiram cortar vagas e deixar novos investimentos para depois. Além disso, várias empresas vêm apresentando sérias dificuldades de se manter diante do quadro econômico. Queda nas vendas, juros altos e falta de acesso ao crédito no sistema bancário são fatores que empurram conglomerados considerados sólidos para a falência e para a recuperação judicial. Um problema que está longe de ser resolvido.
Ao mesmo tempo, a entrada de mais dinheiro em programas sociais faz com que parte da mão de obra disponível prefira ficar em casa ou pegar alguns bicos temporários do que trabalhar com carteira assinada. É fácil encontrar empresas, principalmente as de menor porte, com vagas disponíveis e pouca procura.
Em reportagem publicada na edição desta sexta-feira (12), do jornal Cruzeiro do Sul, comerciantes relataram o esforço que precisam fazer na hora de contratar funcionários novos.
Segundo o apurado pela reportagem, os pequenos comércios, localizados em bairros de Sorocaba, são os que mais enfrentam problemas na hora de repor a equipe. Nos supermercados, por exemplo, há falta de interessados para as vagas de repositor, estoquista e atendimento de padaria e açougue.
Os gerentes ouvidos pelo jornal testemunharam que, além da falta de gente qualificada, muitos trabalhadores não permanecem nas vagas depois de contratados e acabam desistindo do emprego. Um dos motivos aventados é o fato desses estabelecimentos funcionarem também nos finais de semana e feriados. De acordo com os gerentes ouvidos pela reportagem, em alguns casos, as vagas ficam abertas por vários meses.
No Posto de Atendimento ao Trabalhador (PAT) de Sorocaba, os dados do primeiro trimestre deste ano mostram que cerca de 1,8 mil trabalhadores foram inseridos no mercado de trabalho. Mesmo assim muitas vagas continuam sendo ofertadas, sem que sejam preenchidas. A cidade oferece, também, vários cursos gratuitos de requalificação profissional, permitindo que quem está fora do mercado possa se preparar para as vagas disponíveis e voltar a ter um emprego fixo. Oportunidades não faltam.
No Brasil como um todo, a taxa de desemprego subiu para 8,8% no trimestre móvel terminado em março. Os números estão na última pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em relação ao trimestre anterior, entre outubro e dezembro, o aumento no desemprego foi de 0,9 ponto percentual (7,9%) na taxa de desocupação. Com isso, o número absoluto de desocupados teve alta de 10% contra o trimestre anterior, chegando a 9,4 milhões de pessoas. São 860 mil pessoas a mais entre o contingente de desocupados, comparado o último trimestre do ano passado. Já o total de pessoas ocupadas teve um recuo de 1,6% contra o trimestre anterior, passando para 97,8 milhões de brasileiros. Cerca de 1,5 milhão de pessoas deixaram de trabalhar.
Essa massa de gente desempregada, ou vivendo apenas com rendimentos oferecidos pelo governo, acaba consumindo pouco, o que dificulta a retomada do crescimento do País em padrões considerados satisfatórios. Com menos gente apta a comprar, toda a cadeia de serviços, de comércio e de indústria acaba prejudicada.
O contrassenso, de toda essa situação, é que muitas vagas estão disponíveis para as mais diversas funções. Há gente disposta a contratar, mas falta interesse em buscar essa recolocação profissional. Em muitos casos, o valor do salário e o excesso de exigências e obrigações assustam os candidatos que preferem esperar por um momento melhor já que estão amparados por uma dezena de benefícios sociais. Essa colcha de proteção dada pelo governo é de vital importância para ajudar na recuperação e na subsistência de milhões de famílias, mas não pode ser uma muleta que tire do trabalhador a vontade de crescer e de ter uma vida melhor e mais digna.