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Editorial

Os gargalos do transporte coletivo

Existe a necessidade de escalonar os horários de entrada das várias atividades existentes na cidade

09 de Maio de 2023 às 23:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
Oshiya: Empurrador profissional, uma profissão inusitada no Japão
Oshiya: Empurrador profissional, uma profissão inusitada no Japão (Crédito: Divulgação)

O sistema de transporte coletivo de Sorocaba vem se modernizando ano a ano. Quem é morador mais antigo da cidade sabe quanto o serviço melhorou do início da década de 1990 para cá. Boa parte dessa melhora vem da capacidade dos prefeitos que se sucederam em investir num transporte de qualidade para os munícipes. Nem todos os projetos saíram do papel, mas não resta dúvida que a situação atual é incomparavelmente melhor que a de antigamente.

No final dos anos 1980, o transporte coletivo era sempre apontado pela população como algo a ser melhorado. Dia após dia, as manchetes do Cruzeiro do Sul da época relatavam o drama dos usuários. Os ônibus, vira e mexe, estavam quebrados, em péssimas condições mecânicas, sempre lotados e a limpeza deixava muito a desejar. Pontualidade era uma coisa que não existia. O cidadão esperava um tempão no ponto até a chegada da condução, que sempre vinha abarrotada. Às vezes nem era possível embarcar, em outras o motorista passava reto, sem condições de acomodar mais gente.

A primeira grande revolução veio em 1992, com a implantação dos terminais de ônibus e a integração das passagens. Na época, o projeto causou bastante polêmica, mas bastou entrar em funcionamento para que todos entendessem as suas vantagens. De lá para cá houve muita evolução. Foram implantados corredores de ônibus, mini-terminais em alguns bairros, o trajeto das linhas foi aos poucos modernizado, até a chegada do BRT. Mesmo com toda esse investimento e melhora, nem sempre o sistema agrada a todos. E isso não é uma realidade só de Sorocaba, nem do Brasil, mas atinge o mundo todo.

Por mais que o sistema de transporte público evolua, nos horários de pico, ele vai sempre causar um certo desconforto para os usuários. No Japão, por exemplo, o governo adotou uma figura interessante para atuar nesses momentos. É o “empurrador de multidão”. São senhores bem vestidos, com luva e tudo, que tem a função de forçar para dentro dos vagões do metrô quem está atrapalhando o fechamento das portas. A atuação deles não é nada delicada e acaba sendo compreendida por quem recebe esse “carinho” extra no momento do embarque.

Quem já frequentou a estação da Sé, na capital paulista, no horário do rush, também sabe como a coisa funciona. A multidão se aglomera e o número de pessoas por metro quadrado é aumentada consideravelmente. É trocar o conforto pela vontade de chegar mais cedo em casa ou no trabalho.

Aqui em Sorocaba a situação não é tão grave assim. Em alguns horários ainda há excesso de passageiros nos ônibus. Algumas linhas sofrem com a pouca disponibilidade de oferta, mas a realidade é bem melhor que na maioria das cidades do País.

Em reportagem publicada na edição desta terça-feira (9), do jornal Cruzeiro do Sul, vários usuários do transporte público de Sorocaba elogiaram o sistema, principalmente o BRT. Segundo eles, fora do horário de pico, é possível economizar tempo no deslocamento. Os entrevistados também elogiaram a modernidade do sistema que oferece ar-condicionado, tomadas para carregar os aparelhos celulares e wi-fi gratuito para acessar as redes.

É claro que esse tipo de sentimento não é unânime. Há quem discorde e acredite que muito ainda precisa ser feito para que o sistema seja realmente bom. Só que, muitas vezes, isso não depende apenas de quem administra o serviço. Existe a necessidade de escalonar os horários de entrada das várias atividades existentes na cidade.

Se o sistema tiver que receber, ao mesmo tempo, trabalhadores de vários segmentos, estudantes de todas as idades e pessoas que gostam de se deslocar, mesmo sem motivo, na hora do pico, fica impossível equilibrar o sistema como um todo. Seria necessário um número muito maior de veículos e profissionais que, terminado o momento de maior demanda, perderiam a utilidade e encareceriam o custo do transporte.

Se a sociedade conseguir se reunir e se organizar a ponto de reduzir o fluxo de passageiros no início da manhã e no final da tarde, a qualidade do serviço melhoraria mesmo sem a necessidade de agregar novos investimentos. Essa negociação dá trabalho e é um sonho de muito tempo. Apostar nesse debate é o melhor caminho para tornar a vida de todos que usam o transporte coletivo muito melhor.