Editorial
O tiro que saiu pela culatra
A proteção à natureza tem seus limites, para não beirar a histeria. Foi o caso da capivara Filó moradora de uma fazenda no interior do Amazonas
A preservação ambiental deve ser uma missão de todos. Em pleno século XXI, é difícil encontrar alguém que defenda a destruição das matas e florestas e que não esteja nem um pouco preocupado com o aquecimento global e com o futuro do planeta. Proteger a diversidade da flora e da fauna é um dever diário de todos nós.
Essa luta em busca de proteção da natureza deve começar logo pela manhã, assim que acordamos, tomando o cuidado de economizar água na hora do banho e de escovar os dentes e atravessa o dia, evitando o desperdício de alimentos e de produtos e buscando meios de transporte e consumo cada vez mais econômicos.
Mas a proteção à natureza tem seus limites, para não beirar a histeria. Foi o caso da capivara Filó, moradora de uma fazenda no interior do Amazonas.
Tudo começou com uma série de posts nas redes sociais. Agenor Tupinambá, um jovem de 23 anos, ganhou destaque por mostrar sua rotina ao lado da capivara Filó. A imagem de amizade entre os dois acabou provocando indignação em alguns pseudo ambientalistas.
Resultado: no dia 18 de abril, ele foi denunciado por suspeita de abuso, maus-tratos e exploração animal e multado, pelo Ibama, em cerca de R$ 17 mil. Além disse, foi notificado a retirar os conteúdos com a capivara da web.
A situação já seria, por si só, ridícula e ficou ainda pior depois que o órgão ambiental brasileiro decidiu usar de força máxima para retirar Filó das mãos do jovem influencer. Foram enviados até a fazenda veículos da polícia, um avião, um helicóptero e diversos fiscais para fazer o resgate da capivara.
Uma grana danada, do dinheiro público, foi desperdiçada na operação justamente numa época que o próprio presidente do Ibama declarou não ter fiscais e nem equipamentos suficientes para fiscalizar o desmatamento da Amazônia.
A declaração, com ares de desculpa esfarrapada, foi dada depois da constatação que, no primeiro trimestre do Governo Lula, a devastação da Amazônia foi uma das piores da história. Um jogo de cena para encobrir a falta de planejamento de quem tanto prometeu e nada entregou até agora.
Só que o feitiço virou contra o feiticeiro. A atuação do Ibama foi avacalhada nas redes sociais e o Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), em Manaus, para onde a capivara havia sido levada, se mostrou ter péssimas condições para abrigar o animal. Filó, que vivia livre em seu habitat ao lado do amigo Agenor, passou a viver presa numa pequena jaula, sem nada do luxo que estava acostumada.
O Ibama tentou se defender, informou que os Cetas funcionam como unidades para tratamentos e reabilitação de animais vítimas do tráfico ou resgatados. Segundo dados do Instituto, desde janeiro deste ano, foram devolvidos à natureza, após reabilitação, 5,6 mil animais no País.
O Ibama reafirmou ainda que o trabalho desses centros é fundamental para a proteção da fauna brasileira e manutenção do equilíbrio ambiental.
As justificativas não colaram e o caso foi parar nos tribunais. Por decisão do juiz federal Márcio André Lopes Cavalcante a guarda provisória da capivara voltou para as mãos de Agenor Tupinambá. O animal silvestre foi devolvido na manhã de domingo para euforia das redes sociais.
Filó voltou para casa, sem entender nada do que aconteceu com sua vida nos últimos dias. A única coisa que a capivara sabe é que agora está no ambiente de onde nunca deveria ter saído.
Toda essa confusão mostra o despreparo de nossas entidades ambientais e daqueles que dizem defender a natureza diretamente de seus luxuosos apartamentos em áreas nobres dos grandes centros urbanos. Falta equilíbrio e percepção de como funciona o mundo real.
E de como uma ação impensada pode causar muito mais prejuízo ambiental do que ganhos para a natureza. O caso Filó é emblemático e fez a causa ambiental mais perder aliados do que ganhar admiradores.