Buscar no Cruzeiro

Buscar

Editorial

Preparativos para uma batalha campal

O ministro da Agricultura tem afirmado que as invasões de terra são tão graves quanto a invasão do Congresso

28 de Abril de 2023 às 23:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
Ministro condena as ações ilegais promovidas pelo MST e tenta convencer outros ministros a seguirem o mesmo caminho
Ministro condena as ações ilegais promovidas pelo MST e tenta convencer outros ministros a seguirem o mesmo caminho (Crédito: FÁTIMA MEIRA/FUTURA PRESS)

O mês de maio vai ser movimentado no Congresso Nacional. Como se não bastasse a instalação da CPMI que vai investigar os atos de 8 de janeiro, o governo vai ter de enfrentar também a CPI do MST, autorizada a funcionar na Câmara dos Deputados.

Os partidos já começaram a mobilizar-se para indicar os deputados que vão fazer parte dessa investigação e é grande a chance de a relatoria acabar nas mãos de Ricardo Salles, do PL, um dos mais combativos membros da oposição.

Já a presidência da CPI deve ficar com o tenente-coronel Zucco, do Republicanos, autor da iniciativa. Se isso se confirmar, a ideia é convocar, logo de cara, duas lideranças históricas do movimento sem-terra: José Rainha Júnior, o “Zé Rainha”, preso em São Paulo por chantagear e ameaçar proprietários rurais, e João Pedro Stédile, que incitou invasões de terra no mês de abril e, de presente, ganhou uma viagem à China na comitiva oficial do presidente da República.

Os parlamentares querem saber os objetivos do MST e as fontes que financiam o movimento. Devem ser solicitadas, também, a quebra de sigilo bancário de várias lideranças. Essa CPI tem o apoio da numerosa bancada ruralista do Congresso que está indignada com a pouca ação do governo diante da retomada das invasões de terra no Brasil. A preocupação dos ruralistas é de que o movimento ganhe cada vez mais força e seja impossível controlar a escalada de violência no campo.

Para se ter uma ideia do tamanho do problema, de janeiro a abril deste ano, o número de invasões a imóveis rurais no país alcançou uma marca maior do que a registrada em cada um dos cinco últimos anos: 33 invasões.

Integrantes do movimento sem-terra invadiram também 12 sedes estaduais do Incra. São, portanto, 45 invasões no total. Durante os primeiros três meses do governo Lula, as invasões já haviam superado o total das ações registradas em todo o primeiro ano da gestão Bolsonaro.

Voz dissonante dentro do governo Lula, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, tem afirmado, reiteradas vezes, que as invasões de terra são tão graves quanto a invasão do Congresso Nacional, em referência aos atos de 8 de janeiro.

O ministro condena as ações ilegais promovidas pelo MST e tenta convencer outros ministros a seguirem o mesmo caminho, mas a tarefa não tem sido nada fácil. Muitos companheiros de Esplanada insistem em ficar do lado dos invasores. “Invasão de terra tem de ser repelida no rigor da lei”, reforçou Fávaro.

Só que os alertas do ministro ao governo têm surtido pouco efeito. Lula vem cedendo cada vez mais espaço ao MST e seus aliados. Desde o início do mandato, em janeiro, o presidente beneficiou membros do movimento com cargos estratégicos, como a presidência da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e diversas diretorias do Incra nos Estados. Um movimento considerado uma verdadeira afronta pela bancada ruralista.

Mesmo posicionando-se, na maioria das vezes do lado do agronegócio, o ministro da Agricultura teme que a CPI da Câmara dos Deputados, transforme-se num grande palanque político que só sirva para acirrar, ainda mais, os ânimos no campo.

E as críticas ao governo, da parte dos ruralistas, chegam aos montes e de todos os cantos. O próprio ministro da Agricultura foi aconselhado a evitar participar, na segunda-feira, da abertura da Agrishow, em Ribeirão Preto.

Isso tudo porque a grande estrela da festa deve ser o ex-presidente Jair Bolsonaro, que estará no evento ao lado do governador paulista Tarcísio de Freitas. Fávaro chegou a dizer que não iria à feira porque havia sido “desconvidado”, fato negado pelos organizadores do evento.

O que está claro é que o governo Lula tem enorme dificuldade em se aproximar do agronegócio e pouca coisa faz para mudar essa condição. As sinalizações favoráveis aos líderes do movimento sem-terra ampliam ainda mais esse abismo e dificultam o diálogo. A CPI, que em breve iniciará seu trabalho na Câmara dos Deputados, deve colocar mais lenha nessa fogueira e vai ser difícil controlar os dois lados envolvidos nessa verdadeira batalha campal.