Editorial
Uma resposta contra a chantagem ambiental
O mês de março encerrou o ciclo de um trimestre inteiro de intensa devastação na Amazônia
O Brasil está enfrentando, este ano, um verdadeiro desastre ambiental. Mês após mês os números do Governo Lula só pioram, o que prova que discurso e falácias são facilmente desmentidos na vida real.
Para se ter uma ideia, a área desmatada na Amazônia em março foi o triplo da registrada no mesmo mês em 2022, último ano do Governo Bolsonaro. Foram quase mil campos de futebol de vegetação nativa destruídos por dia. O mês de março encerrou o ciclo de um trimestre inteiro de intensa devastação na Amazônia. Essa foi a segunda maior onda de destruição já registrada entre janeiro e março, desde o início da série histórica produzida pelo Imazon, em 2008. Só ficou abaixo de 2021 quando 1.185km² de floresta foram destruídos.
Imagens registradas pelos satélites mostram que, metade de todo o desmatamento da Amazônia está concentrada em 17 municípios da região, principalmente nos estados de Mato Grosso e do Amazonas.
O principal órgão de fiscalização ambiental do governo alega não ter, atualmente, fiscais em quantidade suficiente para combater o desmatamento na linha de frente. Segundo o órgão, o Ibama conta com apenas 300 agentes para reprimir os mais diversos crimes ambientais em todo o território nacional. O presidente do instituto aguarda a realização de concurso para novos servidores. Enquanto isso, a solução encontrada foi de concentrar o trabalho nas áreas mais desmatadas.
O problema é que esse aumento no desmatamento e a falta de perspectiva de solução a curto prazo, desmonta uma série de promessas feitas por Lula logo que venceu as eleições. E essas promessas não foram apenas internas, o presidente atual assumiu, e tem assumido, compromissos no exterior que não vai poder cumprir.
Enquanto isso, o Brasil vai sendo ameaçado de retaliação, principalmente por deputados da União Europeia. O Parlamento Europeu aprovou na quarta-feira passada, dia 19, uma lei que obriga empresas a comprovar que produtos das cadeias de gado, cacau, café, óleo de palma, soja, madeira, borracha, carvão vegetal e papel não venham de áreas desmatadas de nenhum lugar do mundo. A lei, ainda não regulamentada, prevê também que cada país de fora do bloco seja classificado pelo risco de produzir em áreas desmatadas a partir de 2020. A intenção dos europeus é evitar que seus cidadãos, ao consumir produtos importados, estejam indiretamente colaborando com o desmatamento e o aquecimento global. Pelo que dizem alguns eurodeputados, o Brasil deve ser enquadrado como área de alto risco e cada negócio, para ser fechado, exigirá uma série de documentos comprovando a origem da produção.
Os deputados europeus só esqueceram de contar à sociedade que essa medida pode elevar, sobremaneira, o preço das coisas que consomem. Além disso, países que futuramente poderão ser afetados pela medida já começaram a reagir.
Descontentes com essas barreiras que podem ser impostas pela União Europeia (UE) sobre produtos agrícolas brasileiros, parlamentares daqui elaboraram também um projeto de lei (PL) para contrapor a criação de obstáculos sobre as mercadorias produzidas na Europa. O texto foi protocolado no Senado na segunda-feira, 24.
A lei brasileira, conforme prevê o PL, tornará obrigatório “o cumprimento de padrões ambientais compatíveis aos do Brasil, para a disponibilização de bens no mercado brasileiro”. O padrão previsto se restringe “aos bens e produtos oriundos de blocos econômicos e países que imponham restrições ambientais, de qualquer ordem, ao comércio internacional”. O projeto, que conta com forte apoio da bancada ruralista, tem a intenção de contrapor qualquer medida que possa prejudicar o Brasil.
O principal argumento é que se a União Europeia está preocupada com o desmatamento em nossa terra, os brasileiros também não devem se sujeitar a comprar produtos de nações que são conhecidas por emitir poluentes e por já ter destruído quase a totalidade de sua vegetação.
Como se pode ver aí vem briga para mais de metro. A vantagem brasileira é ter os alimentos para vender e bilhões de pessoas, em outros mercados, dispostas a comprar. A União Europeia deve calcular esse risco ou acabará enfrentando um sério problema inflacionário ao limitar, em demasia, suas opções de comprar internacionais.
Isso tudo não exime o Brasil de proteger suas florestas e produzir dentro dos melhores padrões ambientais. A maioria de nossos agricultores tem seguido esses parâmetros, e os fora da lei devem ser contidos e penalizados. O que não podemos é aceitar a chantagem de quem já prejudicou, e muito, o planeta como um todo. A história do comportamento europeu através dos séculos está registrada para quem quiser conferir.