Editorial
O que esperar da CPMI do dia 8 de janeiro
Agora que a CPMI, ao que tudo indica, vai se tornar uma realidade, começa outra batalha: definir quem comandará os postos-chave da comissão
Esta quarta-feira (26) promete ser agitada em Brasília. Tudo converge para o início da apuração, pelo Congresso Nacional, das manifestações do dia 8 de janeiro. O protesto, até então pacífico, de repente, transformou-se num ataque descontrolado aos prédios dos Três Poderes da República.
O que não se tem certeza, até agora, é o que motivou essa mudança tão radical no comportamento das pessoas e quem foi que, realmente, acendeu o pavio do barril de pólvora.
A sessão que permitirá a leitura do requerimento que oficializa a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) foi convocada pelo presidente do Congresso Nacional, senador Rodrigo Pacheco, para o meio-dia desta quarta-feira (26). Depois disso, os partidos indicam seus representantes na proporção de suas bancadas. Só aí será iniciado o trabalho da CPMI.
Senadores ligados ao Governo, no final da legislatura passada, colheram assinaturas suficientes para uma primeira CPI, mas o Governo pediu que eles desistissem da empreitada e deixassem as investigações a cargo da Polícia Federal e do Supremo Tribunal Federal. Assim foi feito!
Só que de lá para cá, surgiram vários indícios de que aliados e integrantes do próprio Governo Lula teriam participado, ajudado e até facilitado as invasões. Isso fez com que a oposição se mexesse e conseguisse assinaturas suficientes para abrir uma CPMI.
Mostrando preocupação com o resultado dessas investigações, Lula fez de tudo para impedir a abertura dos trabalhos. O Governo ofereceu vantagens para que deputados e senadores retirassem suas assinaturas, mas a manobra surtiu pouco efeito e a quantidade de apoiadores da CPMI sempre superou o número mínimo necessário.
Para ganhar tempo, Lula contou também com a ajuda do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, que protelou, várias vezes, a leitura do requerimento que instalaria, automaticamente, a CPMI.
A divulgação de imagens, pela CNN, do próprio ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) dentro do Palácio do Planalto, durante os ataques, fez o caldo entornar e aumentar a pressão sobre Pacheco, que acabou marcando para esta quarta-feira (26) a sessão que oficializa a CPMI.
A força das imagens foi tão grande que dois deputados da região, Simone Marquetto e Vitor Lippi, correram para assinar o requerimento de apoio à CPMI. Só o deputado Jefferson Campos tinha apoiado a investigação desde o início da proposta. Simone negava-se a anunciar uma posição e Lippi, reiteradas vezes, disse ser contra a CPMI.
Agora que a CPMI, ao que tudo indica, vai tornar-se uma realidade, começa outra batalha: definir quem comandará os postos-chave da comissão, principalmente a presidência e a relatoria.
Por tradição, espera-se que o proponente da investigação seja o presidente do colegiado, ou seja, o deputado André Fernandes (PL-CE), que conseguiu as assinaturas de 218 deputados e 37 senadores.
Mas isso, na prática, só vai ser definido durante a primeira sessão da CPMI, quando os integrantes vão escolher quem ocupará os cargos previstos.
A expectativa é de que os parlamentares aliados do Governo tentem atropelar a tradição e impor nomes de confiança para comandar e, se preciso, controlar e abafar as investigações. Vai ser necessária muita articulação política da oposição para garantir o controle de pelo menos um dos postos decisivos.
Uma missão bastante difícil já que a CPMI deverá ser composta por 32 integrantes titulares (16 deputados e 16 senadores), e os governistas calculam ter a capacidade de indicar 20 nomes.
Mesmo que o Governo consiga manter algum controle sobre os depoimentos da CPMI, vai ser difícil que nomes como os do ministro da Justiça, Flávio Dino; do ex-ministro do GSI, Gonçalves Dias; e do fotógrafo da Reuters, Adriano Machado, não sejam questionados pelos parlamentares.
Aliás é sobre a presença de Adriano Machado no Palácio do Planalto, no momento dos ataques, que pairam as maiores curiosidades. Como os ferozes manifestantes, acusados diuturnamente de criminosos pela Justiça e por boa parte da imprensa, teriam autorizado a permanência de Adriano ali, tão perto dos atos extremistas?
Qual o sentido da pose para as fotos ou de tentar destruir uma porta blindada que já estava aberta? Como explicar a confraternização entre o fotógrafo e os manifestantes após a checagem do resultado das fotos?
A própria Reuters, como empresa de comunicação séria e tradicional que é, já deveria ter vindo a público esclarecer o que um profissional ligado a ela estava fazendo naquela hora e local.
Muita coisa ainda há para ser esclarecida sobre o dia 8 de janeiro. A expectativa é de que a CPMI jogue luz sobre os fatos e que os verdadeiros culpados pelos atos, omissões e prevaricações sejam finalmente conhecidos por toda a sociedade.