Editorial
Em busca da harmonia entre o rio e a cidade
Só o trabalho de desassoreamento parece não ser suficiente para contornar o problema
A bacia do rio Sorocaba, desde sempre, foi vital para o desenvolvimento da região. Boa parte das cidades cresceram e se desenvolveram aproveitando o curso das águas. Só que com o passar do tempo, o progresso foi se tornando um grande inimigo. O solo, cada vez mais impermeabilizado por milhares de construções, não tem mais a capacidade de absorver grandes volumes de chuva. Isso faz com que a água chegue com mais velocidade e em quantidade cada vez maior ao leito dos rios e córregos que nos rodeiam. Esse afluxo extra de água quase sempre causa problemas para os moradores.
Este ano, quando as chuvas superaram a expectativa, o problema se agravou ainda mais. Nossos rios não estavam preparados para receber tanta água. As notícias de enchentes e alagamentos foram frequentes nesses primeiros meses de 2023. Agora que o verão terminou, e a temporada de chuva mais intensa terminou, é hora de planejar o futuro para evitar que os problemas registrados na estação passada se repitam nos próximos anos.
Pensando nisso, a Prefeitura de Sorocaba retomou o trabalho de desassoreamento do rio que leva o nome da cidade. As obras podem ser vistas por quem passa pela avenida Dom Aguirre. Segundo o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae), desde o início do serviço, em maio de 2022, cerca de 83,5 mil metros cúbicos de sedimentos já foram retirados do leito e das margens do Sorocaba. Esse volume equivaleria a carga completa de 7 mil caminhões. Mesmo com essa atividade toda, vários bairros registraram inundações este ano. Moradores tiveram que deixar as casas e alguns chegaram a perder móveis e outros pertences. A harmonia entre a cidade e o rio está difícil de ser atingida.
Em diversos pontos do rio é possível perceber o afunilamento do leito e a formação de bancos de areia. A falta de vegetação nas margens também contribui para piorar a situação. Só o trabalho de desassoreamento parece não ser suficiente para contornar o problema.
Especialistas em meio ambiente e em recursos hídricos, ouvidos pelo jornal Cruzeiro do Sul em reportagem publicada no sábado (14), afirmam que esse tipo de obra não passa de uma medida paliativa e que sua eficácia é mais pontual, ou seja, serve para evitar as enchentes. O problema é que a médio e longo prazo são necessárias políticas públicas que ajudem a recuperar não só o rio Sorocaba mas também as Áreas de Preservação Permanente (APPs). Outro fator importante, de acordo com os especialistas, é melhorar o planejamento urbano para que os nossos recursos hídricos sejam melhor aproveitados.
O vice-presidente do Comitê de Bacia Hidrográfica Sorocaba e Médio Tietê (CBH-SMT), André Cordeiro Alves dos Santos acredita que para resolver a questão das enchentes e dos alagamentos é preciso atacar a questão da impermeabilização do solo, ou seja, evitar que toda a água da chuva, terra, sedimentos e o lixo jogado nas ruas tenham como único destino o rio. Ele aponta que a criação de parques e áreas verdes seriam uma solução mais inteligente para resolver o problema a longo prazo.
Todo mundo sabe que esse problema não será resolvido numa única gestão pública. Essa é uma missão que se perpetuará no tempo. Serão necessários muitos esforços e investimento para recuperar o que foi degradado durante décadas. É vital, neste momento, apostar no planejamento. Buscar alternativas modernas que solucionem o problema de uma forma mais eficaz e começar e implementá-las. Enquanto isso, o que nos resta, é dragar os sedimentos, aprofundar a calha do rio e torcer para que o excesso de chuva no próximo verão não castigue muito os bairros mais próximos do foco do problema.