Editorial
A máscara precisa cair
Na esteira do descontrole financeiro do Brasil, a inflação medida pelo IPCA fechou março com alta de 0,71%
O presidente Lula completou cem dias de Governo a caminho da China. Ele cumpre, agora, agenda adiada do mês de março por causa de uma pneumonia. Em sua bagagem, Lula levou ministros, parlamentares e empresários, alguns com uma reputação no mínimo duvidosa depois de uma série de escândalos de corrupção descobertos por várias operações policiais. Na comitiva também está o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que até agora tem feito mais confusão do que apresentado soluções para a economia brasileira.
Enquanto o avião presidencial cruza os oceanos na tentativa de vender ilusões para os chineses, por aqui o País colhe os frutos da desorganização que o atual governo implementou desde que assumiu o Palácio do Planalto.
A taxa de juros, definida técnica e de forma independente pelo Banco Central, tem sido alvo preferencial dos ataques de Lula e de seus aliados. Só que todo brasileiro sabe que enquanto a inflação estiver fora da meta, os juros altos continuarão sendo o remédio amargo para combater essa doença. Sem medidas claras do Governo, pouca coisa tem mudado no cenário econômico e o risco de inflação alta subsiste, mesmo que o presidente prometa, numa canetada, mudar a meta da inflação.
Na esteira do descontrole financeiro do Brasil, a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechou março com alta de 0,71%, ante um avanço de 0,84% em fevereiro. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e foram divulgados nesta terça-feira(11).
O número ficou dentro do esperado pelos analistas do mercado financeiro, que não tinham grandes expectativas pela confirmação desse índice. A taxa acumulada no ano já está em 2,09%. Quase sessenta por cento da meta para 2023, isso em apenas três meses. O INPC mede a variação dos preços para as famílias com renda de um a cinco salários mínimos e chefiadas por assalariados.
O que mais impactou o índice, em março, foram os preços do item Transportes, que subiram 2,11%. Esse grupo, sozinho, representou quase metade da inflação brasileira. E o maior responsável pelo aumento foi o próprio Lula, que decidiu retirar os subsídios dos combustíveis sem apresentar uma alternativa que reduzisse o rombo no bolso da população.
Só a gasolina aumentou 8,33% e foi o subitem que causou maior impacto individual no índice inflacionário do mês, 0,39 ponto porcentual. O etanol subiu 3,2%. O ministro da Fazenda esqueceu de relembrar ao presidente que tudo depende dos combustíveis e que o repasse desse aumento nos outros setores ainda virá, contaminando ainda mais a economia.
O cenário de improvisos praticado pelo Governo fica escancarado no último relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI). O órgão revisou para baixo a projeção de crescimento do Brasil no primeiro ano do atual governo. A nova estimativa aponta para uma expansão de 0,9% do Produto Interno Bruto (PIB) doméstico em 2023, contra alta de 1,2%, que havia sido prevista em janeiro. Um recuo de 25% em apenas três meses.
Se as projeções do FMI se confirmarem, o Brasil terá passado por uma relevante desaceleração econômica na comparação com o ano passado, quando a economia brasileira, sob o comando de Jair Bolsonaro e Paulo Guedes, cresceu 2,9%. Ao revisar para baixo a projeção deste ano, o FMI espera que o crescimento do primeiro ano do governo de Lula fique abaixo do desempenho visto na estreia de seu antecessor. Em 2019, o PIB brasileiro avançou 1,2%.
Lula, antes mesmo de viajar para a China, já conhecia os números que seriam divulgados pelo FMI. Prova disso é que horas do anúncio, criticou o relatório. Segundo o petista, se a sua gestão for se basear no que o mercado e as perspectivas do Fundo indicam para o Brasil, ‘é melhor desistir‘ ‘É importante que essa gente fale, para que a gente faça diferente do que eles falam‘, disse Lula.
O problema é que o diferente que Lula e sua equipe apresentam é muito parecido com o que foi feito no início da segunda gestão de Dilma Rousseff e o resultado todo mundo conhece, um desastre total.
Lula pode espernear, reclamar, duvidar e até desmerecer dos relatórios econômicos que têm sido produzidos no Brasil e no exterior, mas se demorar a tirar a máscara de campanha e assumir o papel de presidente, com os pés no chão, nem o pífio crescimento do PIB apontado hoje será alcançado pelo País.