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Editorial

Olhar atento às nossas crianças

O sistema judicial brasileiro deve ser justo, mas não pode pender para o lado infrator e esquecer do conjunto da sociedade

08 de Abril de 2023 às 23:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
Alunos da Escola Classe 29 de Taguatinga participam de atividades do projeto Adasa na Escola
Alunos da Escola Classe 29 de Taguatinga participam de atividades do projeto Adasa na Escola (Crédito: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Milhões de crianças voltam, amanhã, às aulas depois do feriado da Semana Santa. No coração de muitos pais fica aquele sentimento de preocupação e de insegurança. Um certo temor surgiu depois dos recentes ataques registrados em escolas e creches pelo País. A situação só piorou depois que uma série de boatos, anunciando novos ataques, tomou conta das redes sociais. São pessoas mal-intencionadas que querem propagar o terror como arma para provocar o caos na sociedade. O importante, neste momento, é agir com serenidade.

A preocupação com a escalada dos ataques fez com que autoridades de todas as esferas buscassem soluções para prevenir esse tipo de ato. Desde o ataque ocorrido na Escola Estadual Thomazia Montoro, na capital paulista, no dia 27 de março, a Polícia Civil do Estado de São Paulo identificou, tanto no ambiente virtual como no escolar, um incremento de situações que sugerem o planejamento de novos atentados em escolas. As secretarias Estaduais de Segurança Pública e de Educação advertem que o compartilhamento de fotos e vídeos de casos de violência no ambiente escolar pode servir de gatilho para que outros casos semelhantes ocorram.

Em apenas uma semana, a Polícia Civil registrou 279 casos potenciais. Segundo reportagem publicada no jornal Cruzeiro de Sul de sexta-feira (7), o trabalho do setor de inteligência da Polícia Civil frustrou, entre os dias 11 e 12 de março, dezenas de possíveis atos violentos em escolas. Foram cumpridos sete mandados de busca e apreensão nos municípios de São José dos Campos, Caçapava e Tupã. Três adolescentes foram apreendidos e com eles estavam celulares, facas, máscaras, chips de telefonia, bandanas e cadernos com planos e anotações. Esse trabalho exemplar pode ter garantido a vida de jovens e de professores.

O Governo de São Paulo informou que faz o monitoramento e o acompanhamento contínuo das situações que envolvam possibilidades de atentados em escolas e realiza ações de prevenção, além das de policiamento, para garantir a segurança e proteção de toda a comunidade escolar do Estado.

Após o ataque do final do mês passado, a Polícia Militar reuniu os comandantes das companhias de área com os diretores escolares para discutir a ampliação dos programas e estratégias de combate a agressores ativos. Além desta medida, a gestão estadual também estuda contratar policiais da reserva para que eles fiquem de forma permanente nas escolas.

No âmbito municipal, as prefeituras também buscam medidas para aumentar a segurança nas escolas. A prefeitura de Votorantim, por exemplo, anunciou que vai ampliar o uso da Guarda Civil Municipal na proteção dos estabelecimentos de ensino. O patrulhamento será intensificado e qualquer denúncia, ou suspeita, averiguada.

Em Blumenau, Santa Catarina, onde ocorreu o último ataque, o luto ainda toma conta da população. O sentimento de impotência, diante do atentado surpresa, ainda deixa muita gente perplexa. Em frente à escola onde ocorreram os crimes, são centenas de homenagens às crianças mortas e pedidos de paz. Uma imagem que vai demorar, muito, para sair de nossas mentes.

Todas as medidas preventivas anunciadas pelos governos federal, estadual e municipal são bem-vindas. Quanto maior for a segurança para nossas crianças, melhor. Mas isso só não basta. A Justiça também precisa fazer sua parte.

No caso específico de Blumenau, o autor do crime já havia dado diversos sinais de violência e de instabilidade. Era um frequentador constante das delegacias e das audiências judiciais e sempre voltava às ruas para mais uma chance de recuperação. O problema é que toda essa empatia com um ser sabidamente descompensado e problemático tirou a chance de uma vida feliz para quatro crianças e suas famílias. Um prejuízo e tanto para a comunidade.

O sistema judicial brasileiro deve ser justo, mas não pode pender para o lado infrator e esquecer do conjunto da sociedade, que muitas vezes fica desprotegida diante de tantos criminosos à solta, com direito a uma segunda chance.

Todo o cuidado é pouco para proteger o nosso bem maior, nossas crianças. Que as medidas preventivas funcionem e não precisemos assistir, nem vivenciar, o drama que as famílias que tiveram vítimas nos atentados às escolas recentemente sofreram.