Editorial
Olhar atento às nossas crianças
O sistema judicial brasileiro deve ser justo, mas não pode pender para o lado infrator e esquecer do conjunto da sociedade
Milhões de crianças voltam, amanhã, às aulas depois do feriado da Semana Santa. No coração de muitos pais fica aquele sentimento de preocupação e de insegurança. Um certo temor surgiu depois dos recentes ataques registrados em escolas e creches pelo País. A situação só piorou depois que uma série de boatos, anunciando novos ataques, tomou conta das redes sociais. São pessoas mal-intencionadas que querem propagar o terror como arma para provocar o caos na sociedade. O importante, neste momento, é agir com serenidade.
A preocupação com a escalada dos ataques fez com que autoridades de todas as esferas buscassem soluções para prevenir esse tipo de ato. Desde o ataque ocorrido na Escola Estadual Thomazia Montoro, na capital paulista, no dia 27 de março, a Polícia Civil do Estado de São Paulo identificou, tanto no ambiente virtual como no escolar, um incremento de situações que sugerem o planejamento de novos atentados em escolas. As secretarias Estaduais de Segurança Pública e de Educação advertem que o compartilhamento de fotos e vídeos de casos de violência no ambiente escolar pode servir de gatilho para que outros casos semelhantes ocorram.
Em apenas uma semana, a Polícia Civil registrou 279 casos potenciais. Segundo reportagem publicada no jornal Cruzeiro de Sul de sexta-feira (7), o trabalho do setor de inteligência da Polícia Civil frustrou, entre os dias 11 e 12 de março, dezenas de possíveis atos violentos em escolas. Foram cumpridos sete mandados de busca e apreensão nos municípios de São José dos Campos, Caçapava e Tupã. Três adolescentes foram apreendidos e com eles estavam celulares, facas, máscaras, chips de telefonia, bandanas e cadernos com planos e anotações. Esse trabalho exemplar pode ter garantido a vida de jovens e de professores.
O Governo de São Paulo informou que faz o monitoramento e o acompanhamento contínuo das situações que envolvam possibilidades de atentados em escolas e realiza ações de prevenção, além das de policiamento, para garantir a segurança e proteção de toda a comunidade escolar do Estado.
Após o ataque do final do mês passado, a Polícia Militar reuniu os comandantes das companhias de área com os diretores escolares para discutir a ampliação dos programas e estratégias de combate a agressores ativos. Além desta medida, a gestão estadual também estuda contratar policiais da reserva para que eles fiquem de forma permanente nas escolas.
No âmbito municipal, as prefeituras também buscam medidas para aumentar a segurança nas escolas. A prefeitura de Votorantim, por exemplo, anunciou que vai ampliar o uso da Guarda Civil Municipal na proteção dos estabelecimentos de ensino. O patrulhamento será intensificado e qualquer denúncia, ou suspeita, averiguada.
Em Blumenau, Santa Catarina, onde ocorreu o último ataque, o luto ainda toma conta da população. O sentimento de impotência, diante do atentado surpresa, ainda deixa muita gente perplexa. Em frente à escola onde ocorreram os crimes, são centenas de homenagens às crianças mortas e pedidos de paz. Uma imagem que vai demorar, muito, para sair de nossas mentes.
Todas as medidas preventivas anunciadas pelos governos federal, estadual e municipal são bem-vindas. Quanto maior for a segurança para nossas crianças, melhor. Mas isso só não basta. A Justiça também precisa fazer sua parte.
No caso específico de Blumenau, o autor do crime já havia dado diversos sinais de violência e de instabilidade. Era um frequentador constante das delegacias e das audiências judiciais e sempre voltava às ruas para mais uma chance de recuperação. O problema é que toda essa empatia com um ser sabidamente descompensado e problemático tirou a chance de uma vida feliz para quatro crianças e suas famílias. Um prejuízo e tanto para a comunidade.
O sistema judicial brasileiro deve ser justo, mas não pode pender para o lado infrator e esquecer do conjunto da sociedade, que muitas vezes fica desprotegida diante de tantos criminosos à solta, com direito a uma segunda chance.
Todo o cuidado é pouco para proteger o nosso bem maior, nossas crianças. Que as medidas preventivas funcionem e não precisemos assistir, nem vivenciar, o drama que as famílias que tiveram vítimas nos atentados às escolas recentemente sofreram.