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Editorial

Na economia, tudo está interligado

Se a condição das empresas depende da capacidade financeira dos consumidores, a situação tende a se agravar

04 de Abril de 2023 às 23:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
Equipe do Ministério da Fazenda defende reverter a redução
Boa parte do sucesso pretendido pelo novo arcabouço fiscal vem do aumento da arrecadação (Crédito: MARCELLO CASAL JR. / ARQUIVO AGÊNCIA BRASIL)

A economia brasileira terminou o primeiro trimestre de 2023 em compasso de espera. Pouca coisa se sabe, até agora, dos rumos da política econômica do governo atual. O novo arcabouço fiscal, que deve propor medidas para substituir o teto de gastos, não passa ainda de um balão de ensaio. Ideias jogadas ao vento para sentir o humor do mercado financeiro e dos atores políticos do Congresso Nacional. No fundo são os parlamentares que vão ter que aprovar, ou modificar, o texto.

Boa parte do sucesso pretendido pelo novo arcabouço fiscal vem do aumento da arrecadação. Isso significa que o projeto estará atrelado a uma reforma tributária que ainda nem se sabe qual é. E nem que setores da sociedade vão ter que pagar essa conta.

Enquanto tudo permanece no campo das promessas e das intenções, o dia a dia do brasileiro comum fica mais complicado. A inflação segue com tendência de alta, o desemprego voltou a subir e muitas empresas estão com dificuldade de pagar as contas.

Em fevereiro, de acordo com o Indicador de Inadimplência das Empresas da Serasa Experian, 6,5 milhões de empresas estavam negativadas. O volume representa R$ 112,9 bilhões em compromissos atrasados e é o maior montante da série histórica do índice, que começou a ser produzido em 2016. O total de empresas negativadas no período supera os números de fevereiro de 2022, quando 6 milhões de empresas estavam inadimplentes. Só que uma ano atrás ainda enfrentávamos os efeitos da pandemia da Covid-19 e os primeiros reflexos da invasão russa à Ucrânia.

De acordo com a Serasa, em média, cada empresa possui sete dívidas vencidas por CNPJ. Entre os setores, Serviços lidera a lista de empresas inadimplentes, representando 53,8% do total, seguido pelo Comércio (37,3%) e Indústria (7,7%).

Segundo o economista da Serasa Experian, Luiz Rabi, o endividamento das empresas possui correlação com a inadimplência dos consumidores. “Mesmo que existam oscilações positivas e alguns empreendedores consigam quitar suas dívidas, como aconteceu em janeiro, a melhoria contínua da inadimplência dos empreendimentos depende muito do cenário de negativação entre os consumidores”, avalia. “Enquanto esse não diminuir de fato, as empresas seguirão encontrando desafios para manter um quadro de melhora significativo”, explicou o economista.

Se a condição das empresas depende da capacidade financeira dos consumidores, a situação tende a se agravar. O mesmo relatório produzido pela Serasa Experian mostra que, no segundo mês deste ano, o Brasil atingiu a marca de 70,5 milhões de inadimplentes. Foram 433 mil novos registros de pessoas negativadas no País.

O cartão de crédito continua sendo o segmento com o maior número de brasileiros inadimplentes (31,6% das dívidas), seguido pelas contas básicas (21,7%) e pelo setor de varejo (11,2%). Na comparação com fevereiro de 2022, as contas com bancos e cartões contabilizaram aumento de 3,0%, enquanto os débitos com contas básicas e no varejo caíram 1,5% e 1,3%, respectivamente.

O valor de todas as dívidas somadas em fevereiro é de R$ 326 bilhões, 24% maior do que o valor do mesmo período do ano passado (R$ 263,0 bilhões). De acordo com o levantamento, o valor médio da dívida é de R$ 4.631,78.

Com o desemprego e a inflação aumentando, e sem grandes perspectivas de melhora na economia, a situação tende a piorar nos próximos meses. O crescimento do País deve ficar abaixo de 1% no ano, o que pode prejudicar seriamente milhões de famílias.

Em relatório divulgado na terça-feira (4) pelo Banco Mundial, a expectativa internacional é que o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresça aproximadamente 0,8% este ano, menos de um terço do crescimento de 2022, que ficou na casa dos 2,9%.

O Banco Mundial detalha ainda que há poucos investidores estrangeiros interessados em apostar no Brasil. E isso atrapalha ainda mais o desempenho financeiro do País. A incerteza jurídica tem aumentado, com projetos e ações tomadas no passado sendo revistas pelo atual governo mais por ideologia do que por justificativa técnica. Além disso, os altos impostos e a falta de estabilidade econômica tornam o mercado “menos atraente para investidores”, relata o Banco Mundial.

O que se vê, nesses quase cem dias de Governo Lula, é muito barulho e pouca ação. O brasileiro tem sentido, no bolso, a falta de rumo na economia. Se a situação não mudar rapidamente, muito em breve teremos um número ainda maior de consumidores e empresas inadimplentes e o risco crescente de um desemprego cada vez maior.