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Editorial

Transporte de passageiros pode voltar aos trilhos

O avanço a respeito do assunto já é notável, mas somente o projeto técnico é que coloca o trem "em movimento"

31 de Março de 2023 às 22:50
Cruzeiro do Sul [email protected]
Implantação do Trem Intercidades (TIC) ligará São Paulo a Campinas, Sorocaba, Santos e São José dos Campos
Implantação do Trem Intercidades (TIC) ligará São Paulo a Campinas, Sorocaba, Santos e São José dos Campos (Crédito: Emídio Marques / Arquivo JCS (11/8/2018))

Pode parecer notícia de 1º de abril, mas não é: o trem de passageiros ligando Sorocaba a São Paulo, chamado de Trem Intercidades (TIC), voltou à pauta do noticiário. Desta vez, pelo menos, há um prazo definido: conforme informações prestadas nas últimas semanas pelo Governo do Estado ao jornal Cruzeiro do Sul e a outros veículos de comunicação, como a Revista Ferroviária, a concessão do chamado “braço Oeste” do Trem Intercidades, ou TIC Sorocaba, deverá ocorrer no fim da atual gestão, ou seja, nos últimos meses de 2026.

Descontinuado pouco depois da transferência da antiga Fepasa ao governo federal, em 1998, o sistema de transporte de passageiros sobre trilhos entre a capital paulista e o interior é assunto de promessas há, pelo menos, mais de uma década.

Nesse período, diversos modelos de projetos foram ventilados pelo Palácio dos Bandeirantes. O que está mais perto de ser concretizado é o TIC Campinas, ou braço “Norte”. Seu edital, com as regras para as empresas interessadas em participar do leilão internacional de concessão patrocinada, foi publicado ontem (31).

O valor estimado da obra é de R$ 12,8 bilhões. Haverá um prazo de 240 dias para recepção de propostas e a realização do leilão está marcada para 28 de novembro.

Essa concessão ofertará, conjuntamente, três serviços: a linha 7-Rubi do Trem Metropolitano, atualmente operada pela Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), que passará por uma revitalização das vias, operando entre a Barra Funda e Jundiaí; o Trem Intermetropolitano (TIM), que seguirá do município de Jundiaí com paradas nas estações em Louveira, Vinhedo e Valinhos; e o Trem Intercidades propriamente dito, uma opção expressa, com percurso total de 96 km que terá duração de aproximadamente 1h e passagens custando em torno de R$ 64.

O TIC Sorocaba, por sua vez, ou braço “Oeste”, será o próximo a ser implantado, com prioridade sobre os TICs São José dos Campos (Leste) e Santos (Sul). As quatro rotas, após concluídas, formariam uma rede que, partindo da Capital, teriam quatro “braços” para o interior, totalizando investimento de R$ 69 bilhões.

Porém, mesmo cumprida a etapa política -- do “querer fazer” --, resta a etapa técnica, de se projetar “como fazer”. Nesse sentido, a Secretaria de Parceria de Investimentos (SPI), criada pelo governo estadual para fiscalizar parcerias público-privadas (PPPs) já em vigência e construir novas parcerias com a iniciativa privada, já definiu a ideia de que o TIC Sorocaba se conecte com as linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda da CPTM, atualmente operadas pela ViaMobilidade, e conte com linhas de passageiros e cargas, terminando na Estação Água Branca, numa viagem de 51 minutos de duração.

Neste momento, ainda há mais dúvidas do que certezas. Por exemplo: o TIC Sorocaba vai aproveitar a estrutura da chamada Malha Oeste, ferrovia federal que começa em Corumbá e termina em Mairinque, passando por Sorocaba? No caso do TIC Campinas, a compatibilização foi possível, mediante acordo entre Estado, União e concessionárias de cargas.

A discussão é pertinente porque paralelamente ao projeto do TIC Sorocaba, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) está conduzindo o processo de relicitação da Malha Oeste, prevendo um investimento de R$ 18 bilhões pelo novo operador privado que, ao vencer o leilão previsto para o início de 2024, terá, entre outras atribuições, a de reconstruir toda a via férrea existente entre São Paulo e o Mato Grosso do Sul, em bitola larga -- o que permitiria o compartilhamento da nova estrutura com o trem de passageiros. Já de Mairinque até São Paulo, a via férrea pertence à CPTM e não à União.

O avanço a respeito do assunto já é notável, mas somente o projeto técnico é que coloca o trem “em movimento”. Por isso, é essencial que a sociedade continue cobrando dos governantes as respostas aos seus anseios e, estes, sigam sensíveis às necessidades da população -- cansada dos congestionamentos das rodovias Castello Branco e Raposo Tavares e frequentemente exposta aos riscos e perigos do trânsito. Somente assim o trem São Paulo-Sorocaba deixará de ser assunto em um 1º de abril -- ou pior, do dia de “São Nunca”.