Editorial
Quando o governo improvisa, a população é quem paga
É incompreensível que sejamos "uma vitrine mundial, recordista em várias áreas", mas não visualizemos equivalência no dia a dia dos contribuintes
Qualquer pessoa que confronte o potencial de desenvolvimento do Brasil com a sua real situação econômica e social acaba se deparando com um paradoxo insólito: como um país detentor de tantos recursos em praticamente todos os setores pode enfrentar tão variadas e desproporcionais dificuldades e se manter na mediocridade?
O empresário José Antônio Puppio, autor do livro “Impossível é o que não se tentou”, relaciona alguns dos inumeráveis motivos que justificariam um posicionamento mais destacado do Brasil no ranking das nações: temos a maior área agricultável do planeta, a maior reserva de água potável do mundo, assim como recursos naturais abundantes, raros e únicos. No entanto, toda essa riqueza latente não impede, por exemplo, de termos 15 milhões de desempregados, de acordo com dados recentes do IBGE. Na opinião de Puppio, isso demonstra que o País não possui um plano assertivo para corrigir esse problema.
Lamentavelmente, a situação se repete em todas as áreas. A percepção é que o País foi transformado em um imenso laboratório medieval, onde alquimistas tentam encontrar soluções -- geralmente paliativas -- para problemas que já atingiram o seu limite, no método da tentativa e erro, como se tudo se resumisse à transmutação de ferro em ouro.
O exemplo mais recente recebeu a sugestiva denominação de “arcabouço fiscal”. De acordo com o Dicionário On-line de Sinônimos, arcabouço pode significar tanto esqueleto, ossada, ossatura e caveira, como, simplesmente, esboço. Na prática -- caso realmente se concretize -- ainda precisa passar por ajustes, o que não foi conseguido em um ano de campanha eleitoral, um mês de transição e mais 99 dias de mandato efetivo --, o tal arcabouço é a fórmula mágica para substituir o teto de gastos, método em vigor nos últimos anos para manter as contas públicas minimamente equilibradas.
É por essas e outras lambanças que milhares de empreendedores de norte a sul do País, assim como José Antônio Puppio, se mostram indignados. Para eles, é incompreensível que sejamos “uma vitrine mundial, recordista em várias áreas”, mas não visualizemos equivalência no dia a dia dos contribuintes.
A boa notícia -- aquela luz débil, mas que consegue se manter viva no fim do túnel -- é que ainda há um lado do Brasil que trabalha sério. Exemplo disso é o programa do governo paulista destinado a recuperar a economia do Estado, tão degringolada quanto a dos demais recantos do País. A ideia parece bem formada desde a sua gestação, pois tem como princípio a participação de todos os setores envolvidos. Ao invés do tradicional show de ilusionismo, sob os holofotes da mídia comprometida, para enfiar goela abaixo um plano pré-definido nos bastidores, o secretário de Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo, Jorge Lima, fiel à estratégia que vem caracterizando o novo governo paulista, está peregrinando por todo o interior, para conversar diretamente com aqueles que vivenciam as questões e sabem o que, onde, quando e como resolvê-las: os empresários, administradores e lideranças municipais.
Na Região Metropolitana de Sorocaba (RMS), o encontro aconteceu no dia 15 de agosto, no Parque Tecnológico (PTS). Lima debateu diretamente com centenas de participantes dos 27 municípios da região as ações e investimentos necessários para impulsionar o desenvolvimento econômico local, além de apresentar os planos do governo estadual nesse sentido. Ele citou variáveis a serem consideradas nesse âmbito: se as medidas vão prover desenvolvimento e atender às necessidades da população; se as propostas estão dentro da chamada política 3D, responsável por nortear políticas públicas responsáveis: desenvolvimento, dignidade e diálogo.
Ao invés de perder tempo, como podem pensar os críticos de plantão, o processo de ouvir os municípios acabará acelerando e aumentando a viabilidade do projeto. A expectativa é que o plano seja colocado em prática ainda neste semestre.
Tomara que as demais instâncias de governo adotem esse bom exemplo.