Editorial
Pesquisa comprova: dinheiro não traz felicidade
Levantamento como este pode parecer inútil (...) porém, a saúde mental passa diretamente pelo bem-estar emocional
A frase “Dinheiro não traz felicidade” se mostrou mais do que um simples ditado e ganhou status de sabedoria popular cientificamente comprovada. Isso porque uma pesquisa feita com cerca de 5,7 mil pessoas traçou o Mapa da Felicidade do Estado de São Paulo e apontou que os entrevistados mais ricos e os mais pobres têm percepções semelhantes sobre felicidade.
Enquanto 37% dos abastados -- com renda familiar acima de R$ 13,2 mil -- classificam-se como “muito felizes”, entre os mais pobres -- renda familiar de até R$ 1,3 mil -- esse índice fica em 44%. Os resultados foram divulgados na segunda-feira (20), quando se comemorou o Dia Internacional da Felicidade.
Realizada pelo Instituto Cidades, a pesquisa foi feita pela primeira vez em 2004 e reeditada agora. Na avaliação “dinheiro e felicidade” houve uma forte inversão entre as duas faixas econômicas em comparação aos resultados de duas décadas atrás, quando apenas 22% dos mais pobres e 52% dos mais ricos se disseram muito felizes. Hoje, claramente, a sensação de felicidade entre essas duas faixas sociais está mais próxima. O índice de felicidade subiu de 6,21 para 6,54 entre os mais pobres -- a melhor média entre todas as faixas de renda -- e caiu de 7,79 para 6,53 entre os mais ricos.
Os resultados indicam ainda que, atualmente, a espiritualidade é o atributo mais decisivo para a sensação de felicidade dos paulistas e as mulheres se tornaram mais felizes do que os homens. Entre 11 pilares avaliados, “espiritualidade” obteve o maior impacto, com índice 7,3 no quesito importância, enquanto “governo” ficou no lado oposto, com 5,1.
Dos entrevistados em 2023, 72% se disseram “felizes” ou “muito felizes”, ante 84% há duas décadas. Houve, no entanto, diferença significativa a favor de 2023: 39% dos entrevistados se definiram como “muito felizes”, ante 25% em 2004. Na situação oposta, 13% dos entrevistados se disseram “infelizes” ou “muito infelizes” em 2023, ante 4% em 2004. São indícios de que parece estar havendo radicalização dos sentimentos: mais pessoas se sentindo muito felizes e mais pessoas se sentindo muito infelizes.
Outra revelação: o índice da faixa entre 16 e 24 anos caiu de 7,11 para 6,32, passando do primeiro para o último lugar entre as cinco faixas etárias avaliadas. No lado oposto, pessoas com mais de 60 anos têm nível de felicidade 6,48, ante 6,26 em 2004. Chama a atenção também o fato de que as mulheres passaram a se sentir mais felizes do que os homens. O índice dos homens foi reduzido, no período, de 6,84 para 6,37, enquanto o das mulheres caiu bem menos, de 6,53 para 6,44. Elas estão mais felizes que eles.
Para que a comparação entre as duas edições da pesquisa fosse possível, o Instituto Cidades aplicou a mesma metodologia da pesquisa anterior. Em 2004, foram feitas 5.952 entrevistas em 74 municípios. Na edição deste ano, foram realizadas 5.777 entrevistas em 71 municípios das mesmas regiões, com o trabalho de campo sendo realizado entre 1º e 10 de março.
A fase é de valorização do tema felicidade no mundo corporativo, movimento impulsionado pelas pesquisas científicas que indicam a importância dessa sensação para a saúde mental e a gestão das emoções. Muitas empresas até já criaram um cargo executivo para cuidar do tema, conhecido pela sigla CHO -- sigla em inglês para Chief Happiness Officer, ou simplesmente Diretor de Felicidade.
Um levantamento como este pode parecer inútil ou apenas fofo aos olhos mais céticos. É importante lembrar, porém, que a saúde mental passa diretamente pelo bem-estar emocional das pessoas e a percepção de felicidade faz parte desse quadro. Assim, com dados científicos em mãos, a sociedade como um todo tem ferramentas para buscar uma melhor qualidade de vida trabalhando aspectos benéficos para a saúde emocional do povo.