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Editorial

Retomada e evolução da indústria

Nas últimas décadas, por uma série de motivos, a indústria brasileira foi perdendo espaço (...) agora, o Brasil precisa recuperar seu lugar e o tempo perdido

21 de Março de 2023 às 23:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
Confiança da Indústria sobe 0,1 ponto em abril, a 94,5 pontos, maior nível desde outubro
A Revolução Industrial, na Inglaterra, transformou o mundo (Crédito: Miguel Ângelo / CNI / Direitos reservados)

Nenhum outro setor da economia cria mais riquezas que a indústria. É dela que saem produtos diversos: veículos, máquinas, ferramentas, móveis, eletrodomésticos, roupas, alimentos processados e quase tudo o que é necessário em termos materiais para a vida do ser humano.

A Revolução Industrial, na Inglaterra, transformou o mundo. Marcou a passagem de métodos de produção manual para máquinas, novos processos de fabricação, além do uso das energias a vapor e hidráulica. As mudanças tiveram efeito multiplicador em muitos países. Houve consequências negativas, como a exploração do trabalhador e a poluição ambiental. As indústrias, porém, impulsionaram o desenvolvimento da ciência, de novas tecnologias e, nas sociedades mais organizadas, o bem-estar da população.

O Brasil, cuja industrialização atrasada teve início timidamente ao final do século 19 e ganhou força a partir dos anos 1930, pode progredir vertiginosamente baseado nesse setor da economia. A crise do café foi um fator importante para o investimento maciço na indústria e grandes grupos se consolidaram, diversificando sua atuação e contribuindo para suprir as necessidades dos brasileiros.

Sorocaba foi conhecida como a Manchester Paulista. Com Votorantim, que se emancipou em 1963, faz parte do pioneirismo industrial no Brasil, inicialmente com as tecelagens. As fábricas foram se adaptando às mudanças tecnológicas e vieram as multinacionais, com algumas ocupando galpões do tamanho de vários campos de futebol e cujos trabalhadores precisam tomar ônibus ou vans para ir ao refeitório.

Nas últimas décadas, por uma série de motivos, a indústria brasileira foi perdendo espaço. O avanço dos produtos chineses em todo o mundo, mais baratos, serviu para depenar velhas fábricas. Chegou-se a um ponto em que produzir produtos eletrônicos, utilidades domésticas e brinquedos no Brasil, entre outros itens, não valia mais a pena. E houve demissões. Mas há os resistentes. Como os fabricantes brasileiros de calçados, que insistiram na qualidade e se mantiveram.

Agora, o Brasil precisa recuperar seu lugar e o tempo perdido na indústria. A evolução é permanente, às vezes rápida demais, mas é preciso acompanhá-la. Energias renováveis, Indústria 4.0 e sustentabilidade são alguns desafios atuais e das próximas décadas a serem colocados em foco.

Iniciativas das próprias indústrias, universidades e centros de pesquisa precisam de meios eficazes para poder fluir, sem a velha burocracia, carga tributária excessiva, dificuldade para crédito ou desdém de administradores públicos.

Há alguns passos sendo dados neste sentido. O governo de São Paulo publicou na semana passada decreto que cria o Conselho Estadual de Promoção da Nova Industrialização. É uma medida para fomentar a retomada da atividade industrial no Estado. O governador Tarcísio de Freitas citou seis pilares de atuação desse conselho: energia, infraestrutura, crédito, tributação, capacitação profissional e digitalização.

O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Josué Gomes, acredita que o conselho trará bons resultados. A entidade será uma das participantes. Entre as atribuições do conselho está a de propor diretrizes para promover o desenvolvimento econômico e industrial competitivo, inclusivo, sustentável e inovador; estabelecer canal de diálogo permanente entre o poder público e o setor produtivo; e propor e estimular a produção de estudos, análises e indicadores de desenvolvimento industrial.

Outra ação, do Ministério de Minas e Energia, é aumentar a competitividade do setor de gás natural no País. Também na semana passada foi anunciado um programa chamado Gás para Empregar. A proposta é fazer com que as petroleiras direcionem mais combustível obtido nas plataformas marítimas para uso na indústria e também na produção de fertilizantes.

Existe uma série de medidas ou decisões que precisam ser tomadas com agilidade, em termos de energia, transporte, desburocratização e eficiência, a fim de dar respaldo a esse importante setor que fez o Brasil crescer no século 20 e que tem a força de contribuir para o crescimento, com emprego, renda e responsabilidades sociais. Para isso acontecer, no entanto, é indispensável que os governantes -- em todos os níveis -- ouçam a sociedade e façam a sua parte sem demora.