Editorial
O futuro do São Bento
Buscar razões para o desastre, embora não mude a realidade do que já está feito, pode ajudar para que ele não se repita
O inesperado rebaixamento do São Bento à Série A2 do Campeonato Paulista, desfecho infeliz para uma campanha que começou de forma promissora -- com oito pontos conquistados em 12 disputados nas quatro primeiras rodadas --, não deixou marcas somente dentro das quatro linhas: também prejudicou um planejamento a médio prazo para a reconstrução do clube no cenário do futebol nacional.
Ao deixar escapar a vaga para as quartas de final e não conseguir se manter na elite do futebol paulista, o Azulão deixou de faturar R$ 6 milhões, soma considerável para um clube de orçamento apertado.
Além disso, a disputa da segunda divisão em 2024 certamente impactará, mais uma vez, em redução de cotas de televisão e premiações. Outro aspecto é a renda da bilheteria, que não contará com a receita de jogos de grande público, como o arrecadado este ano contra o São Paulo.
Buscar razões para o desastre, embora não mude a realidade do que já está feito, pode ajudar para que ele não se repita. O mais intrigante é que, diferentemente de 2022, quando o Azulão foi vice-campeão da Série A2, não houve problemas extracampo.
O clube parecia ter aprendido com os próprios erros. Dessa vez, salários foram pagos em dia, houve estrutura de hospedagem e alimentação adequada e até mesmo a promessa de prêmios em dinheiro. A pré-temporada foi iniciada com a antecedência necessária.
“O futebol é e sempre será o esporte do improvável”, ponderou o técnico Paulo Roberto Santos, ao assegurar que nunca faltaram transparência, seriedade e dedicação.
Sua permanência quando as coisas começaram a ir mal chegou a ser questionada pelos dirigentes do Azulão. A opção foi por manter o trabalho e seguirem juntos até o fim, técnico e dirigentes, fosse qual fosse o resultado.
Nesse aspecto, é inevitável a comparação com o “vizinho” Ituano, que passou várias rodadas na zona do rebaixamento e, a partir da troca de Carlos Pimentel por Gilmar Dal Pozzo, reuniu forças para não só se garantir na Série A1, ao vencer o Santos na última rodada da primeira fase, mas ainda eliminar o Corinthians nas quartas de final.
Por outro lado, não se pode culpar unicamente Paulo Roberto. Razão pela qual tanto ele quanto o presidente Almir Laurindo assumiram a responsabilidade pelo desfecho -- mas a dividiram com os atletas.
Além de ter de “remar” a Série A2 novamente em 2024, o São Bento também ficou mais longe do retorno ao Campeonato Brasileiro ao deixar escapar a chance de chegar às quartas de final.
Agora, o único caminho passa a ser via Copa Paulista, que dá uma vaga na Série D do ano seguinte ao seu campeão. Isso implica, porém, em destinar recursos a um campeonato deficitário, que não costuma cativar o torcedor e, por isso, configura-se em uma aposta de risco.
Em 2021 e 2022, o clube não passou da primeira fase. Se falhar novamente, o possível retorno à Série D será apenas em 2025.
Se as notícias dentro de campo não são boas, um alento é a garantia, pelos dirigentes, de que a saúde financeira do clube está melhor, com renegociação de mais de 50% da dívida de R$ 1,4 milhão com o INSS, que ameaçava bloquear as contas do clube, e que será paga parceladamente em cinco anos; e o acerto de mais de R$ 600 mil de uma dívida de R$ 3,1 milhões referente ao FGTS.
O Complexo Humberto Reale continua em obras, com a construção da secretaria e do vestiário dos apartamentos, custeadas pela premiação Excelência Ouro da Federação Paulista de Futebol (FPF), que beneficiou o Azulão com R$ 76 mil.
Em outros momentos da história, o São Bento foi bem dentro das quatro linhas, mas desarranjou-se fora delas. Que o clube possa encontrar a harmonia entre esses dois aspectos para se fortalecer e retornar de maneira definitiva à elite do futebol paulista, sem ficar marcado como um time ioiô.