Editorial
Lobos em pele de cordeiro
Pessoas aparentemente normais, num arroubo momentâneo, tornam-se capazes de cometer as maiores atrocidades
A violência tem muitas faces. A mais conhecida é a praticada por aqueles que abertamente descumprem a lei com o objetivo de assaltar, matar e estuprar. Fazem parte desse grupo também as organizações criminosas que se unem, formando verdadeiros exércitos, com a clara motivação de levar vantagem financeira, ganhar poder e subjugar parte da sociedade.
Esse tipo de violência é mais fácil de ser combatida pelas forças policiais. São criminosos que geralmente têm um padrão de atuação, um “modus operandi”, que pode ser rastreado e identificado com o passar do tempo.
O problema é que a sociedade de hoje tem vivido casos atípicos de violência. Pessoas aparentemente normais, num arroubo momentâneo, tornam-se capazes de cometer as maiores atrocidades. Esses surtos que aparecem aqui e ali, sem data nem hora marcadas, dificultam o combate da criminalidade. Do nada, surge uma cadeia de fatos que desemboca numa tragédia.
A edição de sexta-feira (3) do jornal Cruzeiro do Sul publicou uma dessas histórias. Na cidade de Ibiúna, um homem que fazia compras numa loja de material de construção foi assassinado a golpes de alicate por um pastor. Segundo testemunhas, o autor da agressão estaria se vingando de uma traição. O pastor foi preso pela polícia posteriormente. Um crime que chocou a comunidade não só pela violência, mas também pela origem dos envolvidos.
Outros casos parecidos chamaram a atenção esta semana. Em São Paulo, na região do Tremembé, uma discussão entre um idoso e um motorista de ônibus também terminou em morte. A vítima de 73 anos foi atropelada na tarde de domingo, 26, e morreu na quinta-feira, dia 2, depois de passar por várias cirurgias.
O motorista, de 51 anos, que já havia sido indiciado anteriormente por tentativa de homicídio, agora passa a responder por homicídio. Tudo isso por causa de uma discussão boba dentro do ônibus. O motorista, irritado com as palavras ditas pelo idoso, usou as rodas do veículo como arma para cometer o crime. Um motivo fútil que acabou destruindo duas famílias: a do idoso que perdeu seu ente querido e a do motorista que agora se transformou num fora da lei.
Mas esse não foi o caso mais bizarro da semana. Em Portugal, um brasileiro foi detido transportando carne humana numa mala. O mineiro Begoleã Fernandes, de 26 anos, foi preso na segunda-feira (27), no aeroporto de Lisboa. Ele estava viajando de Amsterdã, na Holanda, para Belo Horizonte com documentos falsos e transportava numa mala restos mortais de uma pessoa ainda não identificada.
Na Holanda, Begoleã já era procurado pelo assassinato de outro brasileiro e, ao ser preso, justificou que estava de posse de carne humana para provar sua inocência. Ainda segundo o advogado contratado pela família, o jovem teria fugido da Holanda para evitar que fosse morto.
A história ainda exige muitas explicações e investigação; o que não se consegue entender é como um jovem de boa educação, de repente, transforma-se num monstro de fama internacional. Qualquer que seja o desfecho dessa narrativa, pelo menos duas pessoas foram mortas e a motivação ainda segue sendo uma incógnita.
Poderíamos passar o dia descrevendo mais uma série de casos escabrosos ocorridos no Brasil e no mundo nos últimos dias e meses. Exemplos de crimes hediondos não faltam. O problema maior, nesse momento, é descobrir o gatilho que está fazendo com que pessoas consideradas normais, do dia para a noite, transformem-se em criminosos frios. A sociedade como um todo deve essa explicação a si mesma. Do jeito que a coisa anda, vai ser cada vez mais difícil confiar até mesmo na pessoa que vive ao nosso lado.