Editorial
Uma lição que vem dos refugiados ucranianos
O que para muitos seria um conflito rápido, com uma das maiores potências do mundo esmagando seu frágil adversário, acabou se tornando um embate de dimensões planetárias, com reflexos na política e na economia
A invasão russa à Ucrânia completou, na sexta-feira (24), seu primeiro aniversário. O que para muitos seria um conflito rápido, com uma das maiores potências do mundo esmagando seu frágil adversário, acabou se tornando um embate de dimensões planetárias, com reflexos na política e na economia. Muitos países do Ocidente, principalmente os Estados Unidos, não mediram esforços para ajudar os invadidos e, com isso, tentar enfraquecer o presidente russo Vladimir Putin. As mais diversas sanções foram aplicadas ao governo russo e aos seus cidadãos, mas isso tudo não surtiu o efeito desejado. A economia do país fechou o ano de 2022 com uma retração de 2%, um resultado e tanto para quem se viu impedido de comercializar suas riquezas para a maioria dos países do mundo.
O efeito dessas sanções foi tão pífio, que os membros da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) já estudam novas maldades contra Putin. As novas punições pretendidas terão como alvo uma dúzia de bancos russos, além de pessoas ligadas às indústrias militar e de tecnologia que tentam escapar das sanções já existentes. A Casa Branca prometeu ainda incluir os setores de metais e mineração da Rússia e empresas de energia. Na sexta-feira, o presidente americano, Joe Biden, se reuniu virtualmente com Zelenski e líderes do G-7 para coordenar os próximos passos da ajuda ocidental. O problema, nisso tudo, é que o que a Ucrânia quer são armas mais poderosas para enfrentar os russos, o que pode aumentar o tamanho da guerra.
No campo diplomático, a China e até mesmo o Brasil, apresentaram propostas de paz para o conflito. O acordo de 12 pontos sugerido por Pequim foi considerado favorável demais ao presidente russo, Vladimir Putin. Ele prevê um cessar-fogo que congela as posições russas dentro do território ucraniano e a suspensão de todas as sanções internacionais à Rússia.
Ao apresentar o projeto, o governo chinês tentou assumir uma posição de neutralidade, apesar de estar desde o início do conflito ajudando a economia russa a superar as sanções internacionais. “Todas as partes devem apoiar a Rússia e a Ucrânia a trabalhar na mesma direção e retomar o diálogo direto o mais rápido possível”, afirmou o chanceler chinês, Qin Gang.
Americanos e europeus disseram que o plano era inaceitável. O conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Jake Sullivan, disse que o acordo estava morto logo na primeira das 12 propostas, em que pede “respeito à soberania de todos os países”. “A guerra pode acabar amanhã, se a Rússia parar de atacar a Ucrânia e retirar suas tropas”, disse.
Jens Stoltenberg, secretário-geral da Otan, e Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, rejeitaram o plano, dizendo que Pequim já havia tomado partido na guerra. “A China não tem credibilidade”, afirmou Stoltenberg. “Os chineses já escolheram seu lado”, disse Ursula.
O presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, que conhece o poderia chinês, foi um pouco mais diplomático ao criticar o plano da China. Em coletiva em Kiev, ele sugeriu uma reunião com o presidente chinês, Xi Jinping, dizendo que o encontro seria “útil”. “Até onde eu sei, a China defende a integridade territorial. Por isso, ela precisa fazer o possível para garantir que a Rússia se retire de nosso território”, disse Zelenski.
Diante desse quadro de incertezas, cerca de 15 milhões de refugiados ucranianos tentam retomar a vida em outros países. Só que a adaptação não é nada fácil e a saudade de casa parece ser mais forte que o medo da guerra.
Em Sorocaba, quatro famílias de refugiados já estão se preparando para voltar para a Ucrânia. A decisão foi tomada levando em conta as dificuldades de comunicação e de conquistar um novo trabalho. Em entrevista ao jornal Cruzeiro do Sul, uma das ucranianas que vive atualmente em Sorocaba, contou que “foi uma experiência intensa e inesquecível, cheia de ganhos, mas a saudade da Ucrânia é maior”.
Enquanto os líderes das maiores potenciais mundiais medem o tamanho de suas teimosias, são esses milhões de refugiados que sofrem diariamente. Eles perderam as raízes, dezenas de familiares e quase todos os bens que conquistaram por gerações. Mesmo assim continuam amando o seu país e a sua história e preferem voltar para casa, mesmo durante a guerra, a desistir de lutar pela soberania de sua Nação. Uma lição e tanto.