Editorial
Marcas de um tempo que passou
A sede da AABB é usada como banheiro de moradores de rua, garrafas e cacos de vidro estão espalhados pelo local e o abandono traz consequências para os vizinhos
Toda cidade, em qualquer lugar do mundo, tem seus esqueletos expostos no horizonte. São obras inacabadas, construções abandonadas, prédios que perderam a serventia e ficam ali, sem utilidade alguma, enfrentando a ação de vândalos, ladrões e outros tipos de depredadores.
Acabam virando lar precário de quem vive nas ruas e podem também se transformar em pontos de tráfico de drogas e de disseminação de doenças. Esse tipo de situação acaba se tornando um desafio para os urbanistas e por quem é responsável por zelar pelas cidades.
Sorocaba, por exemplo, tem um caso típico de obra abandonada que virou ponto turístico. De vários lugares da cidade é fácil avistar a “Aranha do Vergueiro”. A obra, iniciada no fim da década de 1950, foi projetada para ser o Santuário de São Lucas, o padroeiro dos médicos, mas a construção nunca passou muito da fase inicial.
Os arcos entrelaçados de concreto e parte da armadura de aço permanecem ali, ao sabor do tempo, espreitando, do alto, o Conjunto Hospitalar. A área, pertencente à Fundação São Paulo, não causa problemas à cidade, mas acaba sendo um marco do insucesso de uma época.
Outros casos parecidos, de prédios e construções abandonadas, acabaram tendo melhor sorte. Com soluções arquitetônicas eficientes, transformaram-se em centros comerciais, shoppings e supermercados. Tivemos situações também de total descaso, onde a ruína e a destruição jogaram por terra parte da história da cidade e os terrenos nus deram lugar a construções modernas.
Atualmente, outra área abandonada chama a atenção e causa preocupação de quem vive em seu entorno. Conforme noticiado na edição de 22 de fevereiro do jornal Cruzeiro do Sul, a estrutura da Associação Atlética do Banco do Brasil (AABB), localizada na zona oeste da cidade, está abandonada e vive seus dias de ocaso.
Quem visita o local encontra janelas e paredes quebradas, vidros e pedaços de granito espalhados por toda parte, mato alto e muitas salas sem o forro de gesso, destruído por pessoas que aproveitam o abandono do imóvel para furtar alumínio, fiação elétrica, torneiras, corrimão e tudo o que se possa render algo de valor. Nem foi preciso a reportagem ficar muito tempo lá para flagrar um homem furtando fios e cabos da estrutura do clube.
Os quiosques, antes usados para festas e confraternizações, agora estão destruídos. Por todos os ambientes estão os sinais de abandono. As paredes com umidade e água no chão. A tubulação comprometida gera uma série de vazamentos. O salão de festas, localizado no segundo andar, já não tem mais a cobertura. As imagens parecem-se muito com uma área de guerra.
A sede da AABB é usada ainda como banheiro de moradores de rua, garrafas e cacos de vidro estão espalhados pelo local e o abandono do prédio traz consequências para os moradores vizinhos. A falta de segurança acaba afetando a todos. Nem a área da Congregação Irmãs da Providência, que fica ao lado do antigo clube, escapa dos ataques. Desde dezembro do ano passado, o imóvel da congregação já foi furtado quatro vezes.
Questionada sobre o problema, a Fenabb, federação responsável atualmente por cuidar do patrimônio do clube, informou que vai tomar providências para solucionar o problema e que pretende contratar um administrador provisório até que a área seja vendida. Diz a nota da entidade que será esse administrador o responsável por garantir “a preservação do patrimônio e inibição de novos atos de vandalismo e depredações”.
O problema pede uma solução urgente e, quem sabe, uma cobrança mais eficiente do poder público para que os transtornos cessem rapidamente. Sorocaba, nas últimas décadas, tem-se transformado numa cidade cada vez mais moderna e acolhedora e situações pontuais como essa devem ser resolvidas rapidamente para que não se tornem novos elefantes brancos manchando nosso cenário urbano.