Buscar no Cruzeiro

Buscar

Editorial

Os alertas não impediram a tragédia

Espremido entre o mar e a muralha de pedra formada pela Serra do Mar, o litoral paulista sofre, frequentemente com esse tipo de problema

21 de Fevereiro de 2023 às 01:56
Cruzeiro do Sul [email protected]
Vias do Guarujá foram interditadas e tiveram de ser liberadas por tratores
Vias do Guarujá foram interditadas e tiveram de ser liberadas por tratores (Crédito: DIVULGAÇÃO / PREF. DO GUARUJÁ (20/2/2023))

A meteorologia alertou que o Carnaval seria de muita chuva no Estado de São Paulo. As previsões indicavam que o litoral seria a região mais castigada pela água e ventos, mas o que se viu, no último domingo (19), foi muito além das expectativas.

Municípios como Bertioga e São Sebastião receberam, num único dia, mais de 600 mm de chuva, para se ter uma ideia, várias regiões do país não recebem essa quantidade toda num ano inteiro.

O resultado foi devastador. Deslizamentos de terra, casas alagadas, rodovias interrompidas e muito prejuízo. Os turistas que se aventuraram a passar o Carnaval na praia, terão dramáticas histórias para contar por muito tempo. Isso sem falar dos quase quarenta mortos, nas dezenas de desaparecidos e nos milhares de desabrigados ou desalojados.

A situação só não se tornou mais grave ainda por conta da agilidade da Defesa Civil do Estado em acionar suas estruturas de apoio e de resgate. O governador Tarcísio de Freitas, logo depois dos primeiros relatos do caos instalado no litoral, sobrevoou a região e determinou ação no total para a mitigação dos danos.

O governador declarou, nesta segunda-feira (20), luto oficial de três dias em todo o Estado de São Paulo por conta da tragédia. O presidente Lula também visitou as áreas atingidas pela chuva na segunda-feira, a ministra Simone Tebet, que estava numa das praias, também ficou ilhada.

E não foi só esse tipo de apoio espiritual que os moradores do litoral receberam. O Comando de Aviação da Polícia Militar e o Exército Brasileiro ampliaram o número de aeronaves destacadas aos trabalhos de resgate, salvamento e identificação das vítimas.

Nessa segunda, 14 helicópteros ficaram à disposição para o trabalho de transporte das tropas aos locais de difícil acesso, bem como a remoção de vítimas e de corpos.

Mais de 500 pessoas, entre servidores das forças de segurança e resgate do Governo do Estado de São Paulo, das Forças Armadas, da Polícia Federal, da prefeitura de São Sebastião e voluntários, participam dos trabalhos de resgate.

A prioridade, nesse momento, é socorrer as vítimas e no fornecer apoio aos mais de 1.730 desalojados e 766 desabrigados em todo Estado. Até o momento, foram confirmados 36 óbitos, quase todos, 35, em São Sebastião e um em Ubatuba.

As estradas da região também foram bastante danificadas. A pista antiga da Rodovia dos Tamoios, no trecho de serra, precisou ser interditada devido ao risco de queda de barreira. Com isso, o trecho novo passou a funcionar com duas mãos de direção, tanto para a subida quanto para a descida.

Trechos da rodovia Rio-Santos, em Ubatuba, também foram interditados. No km 63, entre São Sebastião e Ubatuba, houve queda de barreira. Já no km 97, um alagamento causou a interdição da rodovia.

A Rio-Santos chegou a ser fechada em vários trechos tanto em Ubatuba como em São Sebastião. O excesso de chuvas também causou bloqueios na rodovia Mogi-Bertioga. De acordo com o Departamento de Estradas de Rodagem, houve o rompimento de uma tubulação, causando erosão na pista. Não há previsão para liberação da estrada.

É importante que essas estradas sejam prontamente recuperadas para permitir que os turistas que estão no litoral possam voltar em segurança às suas casas, antes que um novo temporal se avizinhe.

A precisão dos alertas meteorológicos não foi suficiente para impedir mais essa tragédia. Espremido entre o mar e a muralha de pedra formada pela Serra do Mar, o litoral paulista sofre, frequentemente com esse tipo de problema. Não há verão que a região passe incólume à força da natureza. Um problema bastante difícil de resolver e que pode ficar ainda pior com o aquecimento global e um futuro aumento no nível das águas dos oceanos.

Uma solução precisa ser encontrada. Por ora, o que temos, é o apoio governamental, até certo ponto eficiente, depois que a tragédia já se consumou. É pouco para um polo turístico tão importante para o Estado de São Paulo.