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Editorial

Cresce o número de famílias com as contas no vermelho

O número de devedores com participação mais expressiva no Brasil em janeiro está na faixa etária de 30 a 39 anos

16 de Fevereiro de 2023 às 23:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
Depois de 5 anos as dívidas não precisam ser mais pagas
Aumenta o número de brasileiros endividados (Crédito: Depositphotos)

A economia brasileira vive um início de ano bastante complicado. Para 2023, os principais indicadores e análises apontam para um crescimento pífio, abaixo de 1%, inflação acima do limite da meta estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional e juros nas alturas, apesar dos ataques do presidente Lula ao comando do Banco Central. O escândalo financeiro protagonizado pelas Lojas Americanas também ajudou a contaminar o mercado. Muitas dúvidas surgiram na eficiência do controle contábil de várias empresas e do rigor aplicado pelas empresas de auditoria na vigilância dessas manobras ardilosas que visam esconder malfeitos.

Os bancos, muitos deles na lista dos credores das Americanas, estão agora mais cuidadosos na hora de emprestar dinheiro. Isso tem reduzido o volume de crédito no mercado, o que pode prejudicar outros tantos empresários. O risco de uma quebradeira em vários setores ainda é grande.

Saindo do campo das empresas, a situação também não é muito animadora para os cidadãos comuns. O número de inadimplentes no País voltou a crescer em janeiro, atingindo cerca de 65 milhões de pessoas devedoras, alta de 0,56% em relação a dezembro de 2022. Os dados estão no levantamento realizado pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), que destacou ainda que quatro em cada dez brasileiros adultos enfrentavam problemas para pagar ou mesmo em atraso nos pagamentos em janeiro deste ano.

Segundo o mesmo levantamento, o volume de consumidores com contas atrasadas cresceu quase 8% em relação ao mesmo período de 2022. O crescimento do indicador anual se concentrou no aumento de inclusões de devedores com tempo de inadimplência de 91 dias a 1 ano.

O número de devedores com participação mais expressiva no Brasil em janeiro está na faixa etária de 30 a 39 anos (23,85%). A inadimplência segue bem distribuída no recorte por gênero: 51% mulheres e 49% homens. Em média, a dívida por consumidor em janeiro era de R$ 3.883,63 e atingia pelo menos 2 empresas credoras. Os Bancos são o setor credor com maior concentração de dívidas (63,04%), seguido por Comércio (11,78%), Água e Luz (10,80%) e Comunicação (7,67%).

Mesmo com esse cenário preocupante, com dezenas de milhões de brasileiros com as contas atrasadas, estudos feitos pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) apontam que as famílias pretendem aumentar os gastos nesse mês de fevereiro, muitas impulsionadas pelos festejos de Carnaval.

A Intenção de Consumo das Famílias (ICF) subiu para 95,7 pontos, o maior nível desde o início da pandemia de Covid-19, embora ainda esteja em patamar considerado desfavorável. Na passagem de janeiro para fevereiro, o avanço na intenção de consumo foi puxado pelas famílias de renda mais baixa.

Vivemos no início de 2023 um cenário preocupante. De um lado famílias endividadas com vontade de consumir mais, do outro crédito escasso e juros altos. Essa equação não pode produzir um bom resultado. Apesar disso, a Federação Brasileira dos Bancos estima um crescimento de 17% no crédito tomado pelas pessoas físicas. Já as empresas estão bem mais comedidas e o aumento não deve passar muito de 7%.

O que se percebe é que a economia brasileira ainda está sem rumo. A troca de governo produziu uma série de incertezas, já que as intenções e pretensões dos novos comandantes, até agora, não foram reveladas. Fala-se muito em reforma fiscal e tributária, mas a base dessas mudanças é desconhecida. Diante desse vácuo de informações, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, já mandou seu recado: nenhuma reforma tributária radical passará pelo Congresso. Ao mesmo tempo, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foi duramente criticado num evento promovido pelo banco BTG Pactual. O sócio-fundador da gestora de fundos SPX Capital, Rogério Xavier, disse claramente que o motivo da inflação alta é porque ninguém acredita no plano fiscal traçado pelo governo. Xavier afirmou ainda que os especialistas não têm coragem para dizer ao ministro que sua proposta não traz credibilidade na política fiscal do País.

É hora de o governo dar uma resposta à sociedade. Deixar os discursos de lado e apresentar, ao debate, o que se pretende fazer com a economia do País. Até lá, a torcida é que os brasileiros saibam gerir seus recursos para não se afundar mais em dívidas.