Editorial
Os cuidados com o corpo
Deixar para trás o sedentarismo é vital para uma existência mais longeva e com qualidade de vida. Só não dá para ultrapassar os limites

Vivemos num mundo cada vez mais tecnológico. A invasão de aplicativos para celular tem tornado algumas tarefas bem mais simples. Com alguns toques na tela você resolve problemas e serviços que antes te tomariam tempo e esforço físico. O problema é que tanta facilidade faz aumentar o sedentarismo. Um corpo malcuidado fica vulnerável a uma série de doenças. Assim sendo, é necessário introduzir em nossa rotina uma boa quantidade de exercícios.
Na hora de tomar essa decisão, é vital que cada um conheça bem os seus limites. Outro cuidado fundamental é procurar um médico antes de se aventurar pelo maravilhoso mundo das academias e das atividades esportivas ao ar livre. O especialista vai poder te orientar até onde seu corpo está preparando para suportar cargas extras de esforço físico e te ajudar a criar um cronograma de desenvolvimento da sua capacidade física.
Não é recomendável que alguém fora de forma e com pouca capacidade atlética escolha, num primeiro momento, atividades de impacto muito severo para o organismo. Nesses casos, o risco acaba sendo maior que o próprio sedentarismo.
Mesmo atletas com treinamento e experiência estão sujeitos a enfrentar problemas. Esta semana, um aluno de jiu-jitsu, de 41 anos, morreu em uma academia no bairro Wanel Ville, na zona norte de Sorocaba. Ele começou a passar mal logo depois do treino e sofreu uma parada cardíaca. Uma equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), chegou a prestar socorro à vítima, mas a tentativa de reanimá-lo foi em vão.
Por meio de uma nota, a academia informou que: ‘o aluno treinava desde 2018 e sempre se demonstrou muito disposto e adepto a exercícios físicos‘.
Casos como esse não são raros. Algumas vezes geram problemas clinicamente contornáveis, em outras sequelas permanentes e, no limite extremo, a morte. Mesmo pessoas com hábitos saudáveis e praticantes regulares de exercícios físicos estão sujeitos a esse tipo de situação.
O caso do aluno de jiu-jitsu é classificado na literatura médica como ‘morte súbita do esporte‘. Segundo o cardiologista e médico do esporte Daniel Fernando Pellegrino dos Santos esse tipo de ocorrência médica pode se dar em um período que compreende o momento da atividade física até vinte e quatro horas após o encerramento da prática esportiva.
‘Em 90% dos casos as mortes súbitas têm origem cardíaca. Mas isso não significa que sempre é decorrente de um infarto fulminante, que é a obstrução das artérias coronárias, as artérias que levam o sangue para o músculo cardíaco. Também existem causas genéticas da doença cardíaca que a pessoa possa ter e não saiba‘, explicou o médico.
Daniel dos Santos ressalta a importância de se fazer uma avaliação médica antes de iniciar qualquer prática esportiva e lembra que ‘o sedentarismo sempre vai ser mais perigoso que a prática de qualquer atividade física‘.
Outro fator que se deve considerar é a intensa rotina de treinos. O corpo acaba sentindo a sobrecarga e chega um momento no qual os limites físicos se tornam adversários do esportista. De acordo com Nabil Ghorayeb, médico especialista em Cardiologia e Medicina do Esporte, da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (SOCESP), ‘treinos intensos por longos períodos provocam uma queda da defesa imunológica do organismo, representada pela redução dos glóbulos brancos e dos marcadores da imunidade, os linfócitos chamados CD3, provocando riscos de ocorrência da chamada ‘síndrome do excesso de treinamento (SET)‘.
Segundo o médico, a síndrome pode ser prevenida por meio da orientação de especialistas. Ele ressalta que, no caso dos praticantes amadores, é importante ter sempre em mente qual a razão para ultrapassar os limites do corpo.
‘Se a prática esportiva for para saúde, é desnecessário passar dos limites. Se o caso é competir, é necessário consultar um profissional que organize o treinamento sem pôr a saúde em risco‘, completa Nabil.
Em tudo na vida, o equilíbrio é fundamental. Deixar para trás o sedentarismo é vital para uma existência mais longeva e com qualidade de vida. Só não dá para ultrapassar os limites que o próprio organismo lhe impõe. Sabendo dosar, a atividade física só trará benefícios e bons resultados.