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Editorial

Um caminho pedregoso e escorregadio

Segundo cálculo da Petrobras, esse aumento era necessário já que a defasagem dos preços da gasolina em relação ao mercado internacional atingiu 15%

25 de Janeiro de 2023 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
Preços da gasolina e do diesel têm ligeira queda nos postos
Petrobras reajusta combustível nas distribuidoras (Crédito: Fernando Frazão/Agência Brasil)

O Brasil acorda, hoje, com o preço dos combustíveis mais caros nas refinarias. O aumento foi determinado, ontem (24) pela Petrobras. O reajuste no preço do litro para as distribuidoras chegou a 7,5%. O combustível passa de R$ 3,08 para R$ 3,31 por litro, um aumento de R$ 0,23, de acordo com cálculos da própria estatal.

A notícia vem num péssimo dia para o Governo. O boletim Focus, produzido pelo Banco Central, já previa uma elevação na expectativa de inflação para este ano. Com esse reajuste na gasolina, o impacto nos preços será inevitável e é grande a chance de uma nova pressão inflacionária.

O reajuste acontece também muito próximo da primeira reunião do ano do Conselho Monetário Nacional. Diante desse quadro, a chance de redução da taxa de juros, pelo menos por enquanto, fica cada vez mais remota.

Segundo cálculo da Petrobras, esse aumento era necessário já que a defasagem dos preços da gasolina em relação ao mercado internacional atingiu 15% na segunda-feira, seguindo a volatilidade do preço do petróleo. O diesel, por sua vez, não tem sido tão pressionado devido ao temor de uma recessão global e incertezas em relação à recuperação chinesa.

A Petrobras estava há 50 dias sem alterar o preço da gasolina, enquanto a Acelen, controladora da Refinaria de Mataripe, na Bahia, subiu o preço do combustível na semana passada.

O presidente da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom), Sérgio Araújo, considerou o aumento do preço da gasolina insuficiente para que se abra uma janela de importação do combustível. Segundo Araújo, o preço no Golfo do México, usado como referência para medir a paridade de importação (PPI), política praticada pela estatal desde 2016, estava, antes do aumento, cerca de R$ 0,55 por litro em média acima do preço comercializado no mercado brasileiro.

‘Ainda ficou um espaço para novo aumento, a gente esperava um reajuste maior. Desde que a Petrobras anunciou o último reajuste, há 50 dias, a gasolina já subiu R$ 0,61 por litro no Golfo‘, explicou o presidente da Abicom.

O último alteração da Petrobras no valor da gasolina resultou numa queda de 6,11%, em 7 de dezembro do ano passado. De acordo com Araújo, já são 13 dias de janela fechada para importação.

No caso do diesel, que não foi reajustado pela estatal, a defasagem em relação ao mercado internacional está em 9%, o que poderia levar a um aumento de R$ 0,45 por litro para atingir a paridade, de acordo com o cálculo da entidade.

A Petrobras rebateu as críticas do setor. Em nota informou que esse aumento ‘acompanha a evolução dos preços de referência e é coerente com a prática de preços da Petrobras, que busca o equilíbrio dos seus preços com o mercado, mas sem o repasse para os preços internos da volatilidade conjuntural das cotações e da taxa de câmbio‘.


Nem mesmo a queda no preço médio do etanol hidratado vai ajudar a segurar o valor na bomba dos postos de combustível. O preço mínimo registrado na semana para o etanol em um posto foi de R$ 3,15 o litro, em São Paulo, e o maior preço estadual, de R$ 6,57, foi registrado no Rio Grande do Sul. A queda registrada em 17 estados, desde a semana passada, não foi suficiente para equilibrar as contas. Na comparação mensal, o preço médio do biocombustível no País subiu 0,79%.

Com a inflação sob pressão, os juros altos e a falta de uma política clara de corte de gastos públicos por parte do Governo Federal, fica difícil vislumbrar um cenário muito promissor para 2023. Para piorar as coisas, a maioria dos analistas econômicos aposta num crescimento abaixo do Produto Interno Bruto de 1%. O negócio é torcer para que o cenário que se desenha não seja tão aterrorizante quanto parece.