Buscar no Cruzeiro

Buscar

Editorial

Do discurso à prática

Os investidores querem saber, com clareza, o nível de interferência que o Estado pretende adotar em assuntos importantes

17 de Janeiro de 2023 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
Ministro da Fazenda, Fernando Haddad
Ministro da Fazenda, Fernando Haddad (Crédito: WILTON JUNIOR)

Todo início de ano as atenções do mundo se voltam para uma pequena cidadezinha de pouco mais de onze mil habitantes no norte de Suíça. É para lá que Chefes de Estado, ministros e a elite do mercado financeiro mundial se encontram para fazer previsões sobre o futuro do planeta.

Na edição deste ano, que começou nesta segunda-feira (16), um dos principais temas em debate é o aumento generalizado do custo de vida causado tanto pelos efeitos da guerra na Ucrânia, como pela reabertura econômica após a pandemia da Covid-19. Esses dois fatores somados exigirão muitos sacrifícios da sociedade nos próximos anos.

A crise do custo de vida pode empurrar milhões de pessoas à pobreza extrema e alimentar uma série de tensões sociais em diversas regiões, principalmente da África, da Ásia e da América Latina. Segundo os estudos, também representa um maior risco de ocorrência de desastres naturais, fenômenos climáticos extremos e guerras.

Mais de mil especialistas e políticos foram ouvidos no mundo todo por uma pesquisa que avalia os problemas globais mais eminentes e a principal conclusão foi que ‘os conflitos e as tensões geoeconômicas podem desencadear uma série de riscos mundiais profundamente interconectados‘.

Esses riscos incluem ‘pressões no suprimento de energia e alimentos que devem persistir nos próximos dois anos e aumentos acentuados da crise do custo de vida e do custo da dívida‘, devido à alta dos preços da energia e das taxas de juros.

Segundo o relatório final dessa mesma pesquisa, o crescimento desses valores ‘minam os esforços para enfrentar outras ameaças a longo prazo, principalmente as mudanças climáticas‘ e a perda de biodiversidade em vários biomas do planeta.

‘A pandemia e a guerra na Europa voltaram a trazer à tona a crise energética, inflacionária, alimentar e de segurança‘, acrescenta o comunicado, que também alerta para as ‘sociedades polarizadas pela desinformação e pela má informação‘ e para as ‘guerras geoeconômicas‘.

Na edição deste ano, o Brasil será representado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad e pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.

Ontem, Haddad afirmou que a ansiedade de investidores e empresários em relação ao novo governo será controlada com a implementação de medidas que já foram anunciadas durante a campanha eleitoral. ‘É uma ansiedade que será naturalmente controlada pelo fato de que as medidas que estão sendo tomadas vão na direção que o presidente Lula já anunciou na campanha‘, disse o ministro ao desembarcar em Davos.

Ele afirmou que dará três recados a empresários e investidores nos Alpes suíços: político, após os atos antidemocráticos em Brasília; retomada econômica com sustentabilidade fiscal e social e o meio ambiente.

‘A sustentabilidade ambiental ganhou uma dimensão na qual o Brasil tem muito a oferecer não apenas em termos da retomada de compromissos históricos como combate ao desmatamento e energia renovável, mas também na pauta do desenvolvimento‘, afirmou Haddad.

O ministro vai ter muito trabalho para convencer investidores que olham com um certo graus de desconfiança para o Brasil depois dos primeiros discursos públicos do novo governo.

Vai ser difícil um empresário aplicar seu dinheiro aqui sem a conhecer as regras do jogo se pretende implementar. Sem segurança jurídica, a chance de novos aportes financeiros no país tende a zero.

Os investidores querem saber, com clareza, o nível de interferência que o Estado pretende adotar em assuntos importantes como política de preço de combustíveis, reforma tributária, mudanças nas leis trabalhistas, privatizações, parcerias público-privadas, tudo isso ainda é uma lacuna que precisa ser preenchida.

O discurso que o Brasil pretende fazer em Davos, diante de enorme plateia, pode até ser bonito e cheio de esperanças e de simbologismo, mas sem o detalhamento das propostas, e a garantia que serão aprovadas no Congresso Nacional, é pouco provável que alguém se convença de pronto.