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Editorial

O jogo de gato e rato

Os pancadões precisam ser fiscalizados para o bem de toda a sociedade. O planejamento, ainda que tardio, está feito

28 de Dezembro de 2022 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
Giroflex polícia.
Giroflex polícia. (Crédito: Divulgação )

Os pancadões estão virando um problema de segurança pública. Além do som alto e da algazarra incomodarem quem mora perto dos locais de concentração, as festas improvisadas estão se tornando parada recorrente de traficantes de droga, falsificadores de bebida e um lugar para o acerto de contas de gangues rivais. Tudo isso misturado acaba gerando violência e confusão.

Na madrugada de sábado para domingo, bem na virada do Natal, um tiroteio encerrou um desses pancadões no bairro Ana Paula Eleutério (Habiteto). O saldo da confusão foi uma pessoa morta e quatro feridas. O corre-corre dos mais de setecentos presentes ainda colocou em risco outros tantos. A polícia foi acionada, mas quando chegou ao local só encontrou as marcas de mais essa tragédia urbana.

A situação vista nesse último fim de semana foi tão grave que foi necessário convocar uma reunião de emergência de autoridades públicas para discutir o problema e montar uma estratégia para impedir que o caos se repita no Réveillon.

Agora, no início de dezembro, a “Lei do Pancadão”, que proíbe e pune o som em volume muito alto em carros estacionados em via pública, completou sete anos de sua entrada em vigor no Estado de São Paulo. A lei foi elaborada pelos deputados Coronel Camilo (PSD) e Coronel Telhada (PP), e tem como objetivo garantir o sossego sonoro da população, além de buscar a diminuição do consumo de álcool e drogas por menores de 18 anos.

Para garantir o cumprimento da norma, é prevista a aplicação de multas, que podem ser até quadruplicadas em caso de reincidência dentro de um período de trinta dias. Além disso, infratores que se recusarem a diminuir o volume poderão ter o veículo e os aparelhos apreendidos pela fiscalização. Como se pode notar, instrumento legal existe para coibir e dificultar a disseminação dos pancadões. Falta um pouco mais de ação.

Todos sabemos que a missão é inglória. Uma das características dos pancadões é a mobilidade de seus organizadores. Basta escolher uma rua num bairro da periferia, estacionar o carro de som e convocar a galera pelas redes sociais que a bagunça está feita. Em segundos, as pessoas se deslocam para o lugar marcado e fica difícil para as autoridades fiscalizadores se anteciparem a esses movimentos.

Diante desse quadro é preciso muita inteligência e planejamento para impedir que essas festas ilegais continuem prejudicando a sociedade. Na reunião de segunda-feira (26), a Prefeitura de Sorocaba garantiu que a Polícia Militar (PM) dará sequência, “de forma intensificada, na realização da operação ‘Paciência Zero’, neste fim de ano”. Para isso, contará com o apoio da Guarda Civil Municipal (GCM), de agentes de trânsito da Secretaria de Mobilidade e de equipes da Fiscalização. “O objetivo é endurecer as ações preventivas de segurança pública, sobretudo, para coibir os chamados ‘pancadões’ e outros tipos de casos de perturbação do sossego e eventos clandestinos na cidade”, informou a Secretaria Municipal de Comunicação, em nota enviada ao Cruzeiro do Sul.

Neste fim de ano, a Polícia Militar vai reforçar o efetivo e realizar uma série de operações especiais em todas as regiões de Sorocaba, principalmente nos bairros estratégicos, onde há maior registro desse tipo de ação ilegal. A PM ainda pretende fazer monitoramento aéreo dessas áreas, por meio do helicóptero Águia, enquanto a prefeitura utilizará drones de videomonitoramento para a fiscalização. Os principais acessos da cidade serão monitorados pela Polícia Rodoviária.

“Abusos não serão tolerados. Usar qualquer veículo para, deliberadamente, interromper, restringir ou perturbar a circulação na via será considerada infração gravíssima, como valor multiplicado por 20 vezes e suspensão do direito de dirigir por 12 meses, além de remoção do veículo, conforme estabelece o artigo 253-A do Código de Trânsito Brasileiro”, alertou o secretário municipal de Mobilidade.
O problema está exposto. Os pancadões precisam ser fiscalizados para o bem de toda a sociedade. O planejamento, ainda que tardio, está feito. Só resta saber se a expectativa de sucesso vai se confirmar na realidade ou se, no jogo de gato e rato, os ratos, mais uma vez, vão levar vantagem.