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Editorial

A economia em alerta

É fácil constatar a boa situação econômica brasileira. É só olhar para o lado e ver a situação enfrentada pela Argentina

17 de Dezembro de 2022 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
A elevação de 0,1% do PIB no terceiro trimestre colocou o Brasil na 28ª colocação no ranking de crescimento para o período
A elevação de 0,1% do PIB no terceiro trimestre colocou o Brasil na 28ª colocação no ranking de crescimento para o período (Crédito: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

Faltam duas semanas para que 2022 chegue ao fim. Poucas vezes se viu uma mudança no cenário econômico tão grande quanto à ocorrida, no Brasil, este ano. As previsões eram catastróficas. Recessão, desemprego, descontrole financeiro eram palavras de ordem nos relatórios dos analistas de mercado. Os piores adjetivos foram usados para rotular o que se esperava da administração Bolsonaro em seu último ano de mandato. O que é de se espantar é que essas previsões todas foram realizadas antes do mundo entrar em parafuso com a invasão russa à Ucrânia. Aí o quadro piorou ainda mais.

Só que o cenário pessimista pintado nunca chegou perto de acontecer. O PIB do País cresceu, o desemprego caiu e muita gente vai precisar repensar a forma de avaliar a economia do Brasil.

Nessa reta final de 2022, bons números surgem a cada dia. A inflação voltou para níveis considerados aceitáveis, muito próxima do centro da meta prevista pelo Banco Central. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a inflação de 2022 deve ser de 5,7% para o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) e de 6,0% para o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor). Já para 2023, se nada catastrófico acontecer, a projeção tanto para o IPCA quanto para o INPC é de 4,9%.

“Os dados mais recentes mostram que a melhora do cenário de inflação no País, iniciada no segundo semestre do ano, vem se mantendo nos últimos meses, conjugando forte queda dos preços administrados e recuo mais ameno dos preços livres”, justificou o Ipea, em sua Carta de Conjuntura publicada esta semana.

Para 2023, as estimativas preveem a continuidade do processo de desaceleração da inflação, mas com mudanças na trajetória dos preços monitorados e dos preços livres.

“No caso dos preços administrados, em que pese a expectativa de um comportamento favorável dos preços do petróleo no mercado internacional e de um cenário hídrico confortável, estima-se que a deflação apresentada por este segmento em 2022 seja revertida ao longo de 2023, pressionada pelos reajustes contratuais das distribuidoras de energia e das operadoras de planos de saúde, além de uma recomposição mais acentuada das tarifas de transporte público”, apontou o Ipea.

O instituto estima uma alta de 5,6% para os preços administrados em 2023 tanto no IPCA quanto no INPC. Em relação aos preços livres, é esperada desaceleração em todos os segmentos.

“Por certo, mesmo diante da piora do cenário externo e do aumento do risco sobre a taxa de câmbio -- advindos de um aperto monetário mais forte em diversos países --, a perspectiva de queda dos preços das commodities no mercado internacional, aliada à normalização das cadeias produtivas, deve impedir pressões adicionais sobre os preços dos bens industriais e dos alimentos”, diz a Carta de Conjuntura.

O Brasil ainda tem como trunfo a expectativa de uma safra recorde de grãos. Isso vai ajudar a segurar o preço, principalmente, das proteínas animais, com destaque para frangos e suínos. Essa safra só vai ser possível e rentável para o agricultor, graças ao esforço pessoal do presidente Bolsonaro em negociar com a Rússia a liberação e a entrega de fertilizantes mesmo em tempos de guerra.

É fácil constatar a boa situação econômica brasileira. É só olhar para o lado e ver a situação enfrentada pela Argentina. O país vizinho vai fechar o ano com inflação beirando os 100%, enquanto o Brasil, que soube fazer a lição de casa, deve terminar 2022 com inflação abaixo dos 6%. Isso sem contar com a falta de credibilidade dos argentinos junto aos investidores e a bagunça que eles fizeram no câmbio.

O Ipea, em sua Carta de Conjuntura, faz um alerta. Segundo o instituto não estão descartados “riscos inflacionários adicionais, que podem limitar este processo de desinflação em 2023”. O problema começa com a famosa PEC da Transição que promete aumentar o buraco financeiro do País em quase R$ 200 bilhões. Se a gastança irresponsável voltar, o Brasil pode mergulhar, novamente, num ambiente de incertezas que vai prejudicar toda a sociedade e recompensar uns poucos apaniguados.