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Da Corte

Perdeu, mané, não amola

Enquanto uns não podem se expressar, pois são censurados, outros se sentem seguros em humilhar o povo. Essa é a triste realidade que tem gerado indignação em grande parte da população brasileira

17 de Novembro de 2022 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
Ministro Luís Roberto Barroso foi hostilizado em NY
Ministro Luís Roberto Barroso foi hostilizado em NY (Crédito: Reprodução)

Ao ser questionado por uma pessoa sobre a segurança do código-fonte das urnas eletrônicas brasileiras enquanto caminhava pelas ruas de Nova York, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, disse simplesmente: “Perdeu, mané, não amola”.

Uma resposta inaceitável proferida por um ministro de uma suprema corte.

Como cantava Bezerra da Silva: “E malandro é malandro, mané é mané (Podes crer que é)”, cabe pensar que se “mané perdeu”, “malandro ganhou”.

O protesto pela transparência, contra a censura, ações do STF, o processo eleitoral e principalmente o direito da liberdade de expressão, seja no Brasil, em Nova York, ou em qualquer parte do planeta não é uma questão simples de ganhar ou perder, mas sim o direito de se expressar de grande parte da população brasileira.

A palavra “mané” é muito utilizada, informalmente, no Rio de Janeiro. Há pelo menos dois usos conhecidos: o primeiro tem o mesmo sentido de “cara” ou “gajo”, e o segundo é um insulto, com o significado de “bobo” ou “canalha”. É originária de África. No império de Mali, os guardas eram apelidados de Mané. Com a chegada dos brancos e o comércio do escravo, um bom número de “manés” foram levados para as américas e outras partes do mundo como escravos. Passou-se a utilizar “manés” para identificá-los. Com o tempo passou a ser insulto. Mais recentemente, “mané” pode ser o apelido dos que se chamam Manoel ou Manuel, nomes muito utilizados em Portugal e posteriormente na colônia brasileira.

E o “malandro”? Entre outras definições, podemos citar: “diz-se da pessoa que se utiliza da esperteza para sobreviver sem trabalhar, geralmente abusando da confiança de outras; vadio. Diz-se de quem é esperto, astuto; sagaz. Que é indolente; preguiçoso. No Brasil político, “malandro” pode ser atribuído a quem disse em entrevista ao jornal El País que: “é uma questão de tempo pra gente tomar o poder. Aí nós vamos tomar o poder, que é diferente de ganhar uma eleição”. A frase polêmica foi dita por José Dirceu, ex-ministro e homem forte do governo do PT, preso na 17ª fase da Operação Lava Jato, batizada de Operação Pixuleco, acusado de envolvimento no escândalo de corrupção na estatal Petrobras. Dirceu foi indiciado pela Polícia Federal por quatro crimes em 1º de setembro de 2015, mas a qualquer momento pode ser anunciado ministro do novo governo.

Em 2021, o próprio Barroso disse: “Eleição não se ganha, se toma”. A frase teve grande repercussão e, mais tarde, o ministro do STF explicou que naquela ocasião, caminhava pelo salão verde da Câmara dos Deputados ao lado de alguns parlamentares, entre eles Jhonatan de Jesus (Republicanos-RR), e disse ter brincado dizendo que eleição em Roraima não se ganha, se toma.

Relembrando Bezerra da Silva: “E malandro é malandro, mané é mané (Podes crer que é)”. Para o ministro que usou o termo em Nova York, “manés” seriam aqueles que se vestem de verde-amarelo, e se postam em avenidas, nas frentes de quartéis e em outros lugares para expressar em manifesto pacífico um questionamento sobre fatos ou a imposição de verdades absolutas? Uma enorme parte da população brasileira está cansada de ser tratada como “manés”. Seriam assim taxados por persistirem juntos e propagarem o amor ao Brasil verde-amarelo?

Muito triste ser referenciado ou chamado neste sentido pejorativo de “mané”, simplesmente por perguntar educadamente a um servidor público, algo relevante e importante para o momento que estamos vivendo: “O senhor vai deixar o código fonte ser exposto? O Brasil precisa dessa resposta ministro, com todo o respeito. Por favor Barroso, responde pra gente”. Nada é tão ruim que não possa piorar, eis que o autor da pergunta recebeu como resposta um pedido para não amolar!