Crescimento populacional
Uma conta que não fecha
A força de trabalho cada vez menor e a população idosa cada vez maior
O mundo está perto de ultrapassar, agora em novembro, a marca de 8 bilhões de habitantes. Diante desse número é hora de refletir quem somos e o que queremos para o futuro.
De um lado existe a preocupação dos ambientalistas que acreditam que a Terra está muito próxima de esgotar sua capacidade de suportar tanta gente. Do outro, há quem comemore a maior longevidade das pessoas e a capacidade de desenvolvermos técnicas suficientes para curar um número cada vez maior de doenças e permitir que as pessoas tenham qualidade de vida.
“Oito bilhões é um marco importante para a humanidade”, disse a diretora-executiva do Fundo de População das Nações Unidas, a panamenha Natalia Kanem, que se alegra com o aumento da expectativa de vida e da queda da mortalidade infantil e materna. “Porém, percebo que este momento não é celebrado por todos. Alguns estão preocupados com a superpopulação, com pessoas demais e recursos insuficientes para viver”, acrescenta antes de pedir que não se tenha “medo” da quantidade.
Muitos especialistas rejeitam o conceito de que o planeta tenha uma capacidade máxima de habitantes. Eles defendem a tese de que há espaço para todo mundo, só não é necessário exagerar no consumo de recursos, principalmente nos países desenvolvidos. Aí entram fatores muito subjetivos, que podem ajudar a compreender melhor a questão. Um aparelho celular, por exemplo, deve durar quanto tempo? Há a necessidade de se correr tanto para se ter uma engenhoca cada vez melhor e com mais recursos? Essa busca desenfreada pela tecnologia e pelo luxo afeta, diretamente, os recursos naturais. Se todos tivéssemos a capacidade de entender que alguns bens duráveis devem realmente durar, o mundo sofreria menos.
Na outra ponta da teoria, os ambientalistas alertam que com o consumo excessivo, a Terra está perdendo a capacidade de se regenerar. Segundo as ONGs Global Footprint Network e WWF seria necessária 1,75 Terra para atender as necessidades atuais da população de forma sustentável. Isso equivale a quase dois planetas. Os principais vilões dessa equação seriam os combustíveis fósseis, que emitem considerável quantidade de CO2, provocando boa parte do aquecimento global.
No caso do clima, o último relatório dos especialistas da Organização das Nações Unidas (ONU), divulgado na semana passada, durante a COP27, no Egito, aponta que o crescimento populacional é um dos principais motores do aumento das emissões de gases de efeito estufa, mas menos do que o crescimento econômico.
“Nosso impacto no planeta é determinado mais pelo nosso comportamento do que pelo número” de pessoas, diz Jennifer Sciubba, pesquisadora do centro de estudos Wilson Center.
Certo ou errado, o fato é que somos 8 bilhões de terráqueos. E a tendência é que esse número não pare de crescer. Até 2030, são esperadas 8,5 bilhões de pessoas e 9,7 bilhões em 2050, antes de atingir o “pico” de 10,4 bilhões na década de 2080, que será seguido por uma estagnação até o final do século, tudo de acordo com as projeções da ONU.
Mais da metade do crescimento populacional até 2050 deve se concentrar em oito países, de acordo com o relatório: República Democrática do Congo, Egito, Etiópia, Índia, Nigéria, Paquistão, Filipinas e Tanzânia. Isso provocará enorme desequilíbrio mundial e a necessidade de correntes migratórias para outras regiões.
Ao mesmo tempo, um dos fatores que impulsionam o crescimento da população é o aumento da expectativa de vida: 72,8 anos em 2019, nove anos a mais do que em 1990. A ONU prevê que chegaremos aos 77,2 anos de média até 2050. Um envelhecimento que repercute no mercado de trabalho, nos regimes de aposentadoria e nos cuidados aos idosos, entre outros.
São todos esses fatores que tiram o sono dos governantes atuais. A força de trabalho cada vez menor e a população idosa cada vez maior. Menos gente para sustentar mais gente, uma equação que não fecha nunca. Um cenário que deve mudar muito pouco nas próximas décadas. Resolver esse problema é um dos desafios mais urgentes que a sociedade tem para enfrentar.