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Editorial

Aos trancos e barrancos, chegamos ao fim das eleições

Nesse embate entre duas candidaturas de ideologias opostas, que deveria ser apenas político, surgiu um fator extra que está provocando um certo desequilíbrio

30 de Outubro de 2022 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: Antonio Augusto /Ascom / TSE)

O Brasil encerra, neste domingo, uma das mais longas e complexas campanhas eleitorais do século 21. A disputa começou em março de 2021 e só se encerrará hoje, quando as urnas receberem os últimos votos. O resultado ainda é uma incógnita. As campanhas dos dois candidatos cantam vitória e, por conta das viradas vistas no primeiro turno, é muito difícil saber quem tem razão. A decisão vai ficar para a hora da apuração.

O cenário político brasileiro estava tranquilo até que, em 8 de março de 2021, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, surpreendeu a sociedade ao anular todas as condenações do ex-presidente Lula pela Justiça Federal no Paraná relacionadas às investigações da Operação Lava Jato. Essa decisão fez com que o ex-presidente, embora não fosse considerado inocente, recuperasse seus direitos políticos e pudesse voltar a concorrer numa eleição.

Desde essa fatídica data, a disputa pela cadeira de presidente da República se intensificou e os ânimos só se acirraram com o passar do tempo.

Os aliados de Lula acreditaram que bastava que o nome dele fosse apresentado à população e a eleição estava garantida. Não foi o que se viu. Jair Bolsonaro mostrou resiliência e os votos começaram a ser disputados um a um.

O primeiro turno chegou e os que apostavam numa vitória de Lula ficaram desapontados com o resultado. Bolsonaro não só teve mais votos do que apontavam as pesquisas eleitorais como também elegeu a maior bancada na Câmara dos Deputados e no Senado. A diferença entre os dois foi pequena e o desastre para Lula só não foi maior graças aos eleitores dos Estados do Nordeste, que votaram maciçamente no ex-presidente.

Já Bolsonaro conseguiu vitórias importantes. Elegeu a maioria de seus ex-ministros e colocou outros tantos na disputa de segundo turno para os governos estaduais. Nomes como Damares Silva, Rogério Marinho, Tereza Cristina, Hamilton Mourão, Marcos Pontes e Jorge Seif terão, pelos próximos oito anos, assentos garantidos no Senado.

Nos Estados, a presença de bolsonaristas também é expressiva. Em São Paulo, Tarcísio de Freitas barrou o governador Rodrigo Garcia, do PSDB, e agora enfrenta Fernando Haddad, do PT, no segundo turno. Tarcísio terminou o primeiro turno na liderança e segue com boa vantagem sobre o ex-prefeito de São Paulo.

No Rio Grande do Sul, Onyx Lorenzoni, também ex-ministro de Bolsonaro, enfrenta no segundo turno o ex-governador Eduardo Leite, do PSDB. Onyx, apesar de ter terminado o primeiro turno na ponta, agora aparece atrás nas pesquisas de intenção de voto. Só que o apoio dado pelo PT a Leite parece estar provocando efeito contrário nas intenções de votos dos gaúchos.

Bolsonaro ainda apoia candidatos fortes em Estados como Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e Amazonas. Todos com reais chances de vitória, o que ampliaria o leque de candidatos apoiados por Bolsonaro eleitos ou reeleitos.

Na outra ponta, Lula luta para recuperar alguns votos no Sudeste, não deixando que Bolsonaro abra vantagem muito grande nos Estados com maior número de eleitores. O petista torce para que a diferença de votos no Nordeste seja suficiente para lhe dar mais uma oportunidade de governar o Brasil.

Nesse embate entre duas candidaturas de ideologias opostas, que deveria ser apenas político, surgiu um fator extra que está provocando um certo desequilíbrio. É a atuação do Judiciário, em todas as suas instâncias. As decisões que temos acompanhado estão deixando ruborizados experientes juristas. Nem o ex-ministro do Supremo, Marco Aurélio de Mello, conseguiu esconder sua indignação diante de algumas posições.

Jornalistas censurados, órgãos de imprensa censurados, mudança de regras com o jogo em andamento, processos arquivados sem análise, tudo parece ser orquestrado para testar os limites e a paciência de Jair Bolsonaro.

Mesmo com todos esses obstáculos, o presidente tem mostrado força e foco no objetivo de se reeleger. As armadilhas montadas contra ele parecem dar mais força para que seus aliados se empenhem cada vez mais no trabalho de virar votos e convencer indecisos.

O resultado dessa batalha está próximo. Hoje, no meio da noite, conheceremos o nome de quem vai governar o Brasil pelos próximos quatro anos. O que desejamos é que o brasileiro saiba escolher bem o melhor caminho para seu futuro.