Ambivalência
Os exemplos que chegam do Velho Mundo
A Europa busca saídas conservadoras para rearranjar a casa e retomar o crescimento
As eleições em vários países da Europa têm mostrado um crescimento vertiginoso dos partidos de direita, que apoiam causas mais conservadoras. Essa tendência aparece em todo tipo de nação, desde os passionais italianos até os gélidos suecos. Na França, por muito pouco, a direita também não conquistou o governo. O centrista Emmanuel Macron teve que gastar todas as suas fichas políticas para se manter no poder e barrar a ascensão de Marine Le Pen.
O resultado dessa manobra de Macron é o caos que se vê instalado hoje na França. Greves brotam em todos os setores, o país sofre com o desabastecimento, principalmente dos combustíveis, e o líder do governo, aturdido, não sabe para onde correr sem ferir as alianças estabelecidas com partidos de esquerda que garantiram a sua reeleição.
Boa parte dessa reação da população europeia começou depois da pandemia da Covid 19. Diversos governos impuseram medidas restritivas muito rigorosas, que atropelaram vários direitos fundamentais, sem se preocupar com a bagunça que isso provocaria na economia.
A Itália caminha em sentido oposto ao da França. Nas eleições de 25 de setembro, o povo cansado de pagar as contas das ideias mirabolantes progressistas decidiu apostar em partidos bastante conservadores. A coalisão liderada por Giorgia Meloni conquistou um número absurdo de votos, o suficiente para controlar a Câmara dos Deputados e o Senado e garantir votos suficientes para que ela seja eleita primeira-ministra. Será a primeira vez na história da Itália que uma mulher ocupará essa posição.
Aliado de Meloni, Lorenzo Fontana, um católico ultraconservador de 42 anos conhecido por suas posições contra o aborto e a eutanásia foi eleito, na sexta-feira (14), presidente da Câmara dos Deputados da Itália. Na quinta-feira (13), o braço direito de Meloni, Ignazio La Russa, cofundador do Irmãos da Itália, foi eleito presidente do Senado.
Na mesma sexta-feira (14), com o apoio inédito da extrema-direita, a direita da Suécia anunciou um acordo para formar um governo que pretende, entre outras metas, reativar o uso da energia nuclear no país. ‘Os Moderados (conservadores), os Democrata-Cristãos e os Liberais formarão o governo e colaborarão com os Democratas da Suécia no Parlamento‘, declarou, em entrevista, o líder do partido Moderados, Ulf Kristersson.
A votação para a designação de Kristersson como primeiro-ministro acontecerá amanhã (17) e o novo gabinete deve tomar posse no dia seguinte.
Os aliados revelaram um plano que pretende, entre outras medidas, lutar contra a criminalidade e reduzir a imigração, assim como reativar o uso da energia nuclear, da qual a Suécia se afastou nas últimas décadas.
As mudanças no mercado de energia provocadas pela guerra na Ucrânia provocaram a retomada do debate sobre o futuro da política energética na Suécia, assim como em outros países da Europa.
O governo social-democrata que comandou o país nos últimos oito anos era tradicionalmente contrário à construção de novos reatores, mas admitiu este ano que a energia nuclear é crucial para o futuro próximo.
Após oito anos de governo social-democrata, a direita retoma o comando da Suécia com o avanço sem precedentes do Partido Democratas da Suécia (SD), grande vencedor das eleições de 11 de setembro com 20% de votos, um resultado recorde.
No Reino Unido, a primeira-ministra conservadora, Liz Truss, luta para aprovar um plano de recuperação financeira para a região. Apesar de ter tomado posso há pouco tempo já teve que trocar o seu ministro das Finanças. ‘Temos que atuar agora para tranquilizar os mercados‘, afirmou Truss, em entrevista coletiva.
Os mercados financeiros britânicos vivem momentos de tensão desde que em 23 de setembro o governo Truss apresentou um pacote de medidas que prevê importantes ajudas públicas e cortes de impostos, mas nada para financiá-lo. Como resultado, as taxas de juros da dívida pública britânica dispararam a níveis recordes, o que obrigou o Banco da Inglaterra a intervir comprando títulos de longo prazo.
Como se pode notar, a Europa busca saídas conservadoras para rearranjar a casa e retomar o crescimento. Saídas escolhidas pela própria população, no voto, de forma democrática.
Enquanto isso, na China, as lideranças comunistas, que decidem os rumos do país, vivem uma crise pouco antes do início do 20º Congresso do Partido Comunista. A censura chinesa da internet eliminou na sexta-feira (14) todas as referências a um protesto em Pequim que incluiu cartazes contra o presidente Xi Jinping e as restrições contra a covid-19. O país deve registrar o maior índice de inflação das últimas décadas e o crescimento será bem abaixo do previsto.
O Brasil precisa olhar esses exemplos, bem recentes, para determinar seu futuro. O que queremos para 2023 vai estar em jogo nas eleições de 30 de outubro.