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O resgate moral das pesquisas eleitorais

Essa situação é ruim para todos os lados. Para o cidadão que passa a desconfiar das pesquisas. Para o instituto que vende o seu trabalho

15 de Outubro de 2022 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
Fachada do Supremo Tribunal Federal (STF) com estátua A Justiça, de Alfredo Ceschiatti, em primeiro plano
Fachada do Supremo Tribunal Federal (STF) com estátua A Justiça, de Alfredo Ceschiatti, em primeiro plano (Crédito: Marcello Casal JrAgência Brasil)

As pesquisas eleitorais são um instrumento importante para sinalizar a tendência do eleitorado. Muitas vezes são contratadas pelas próprias campanhas para balizar decisões internas, corrigir o discurso do candidato e descobrir qual grupo da população precisa ser abordado em busca dos votos que levem à vitória.

As pesquisas eleitorais são contratadas também por conglomerados financeiros com interesse em medir o pulso da sociedade e descobrir o momento certo de investir numa ou outra candidatura, ou de preparar o terreno e planejamento para o futuro que se apresenta. Essas sondagens também servem de trunfo para alavancar a audiência de veículos de comunicação que buscam, com a divulgação dos resultados, atrair leitores e espectadores.

Essa é a lógica no mundo todo. Só que no Brasil, os institutos responsáveis pelas pesquisas têm tido enorme dificuldade de acertar os resultados. Entra eleição e sai eleição, o vexame aumenta e a credibilidade de cada resultado é posta à prova. As desculpas são as mais diversas que vão do atraso no censo demográfico até movimentos concentrados dos eleitores na última hora. O que se sabe, com certeza, é que os erros têm-se acumulado e sempre prejudicam, por coincidência, o mesmo lado.

No primeiro turno das eleições deste ano o que se viu foi um verdadeiro show de horrores. Erros absurdos em quase todas as sondagens realizadas pelo país. Candidatos que estavam até na quarta posição acabaram o pleito em primeiro. A situação foi tão grave que os dias posteriores à apuração foram dedicados, por vários órgãos de imprensa, a questionar os dirigentes dos institutos de pesquisa.

O constrangimento de ambos os lados era visto a olho nu. Jornalistas que defenderam com unhas e dentes a confiabilidade das pesquisas expostas diante de especialistas cabisbaixos buscando explicação onde se sabe que não há.

A situação foi tão grave que gerou uma grita no Congresso Nacional. Deputados e senadores tentam instalar Comissões Parlamentares de Inquérito para investigar se o erro foi provocado por incompetência ou má fé. Outros parlamentares querem ressuscitar projetos de lei que dificultam a realização das pesquisas e sua divulgação.

O Ministério da Justiça pediu à Polícia Federal que investigasse os procedimentos adotados pelos institutos de pesquisa, e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) quer avaliar a atuação de institutos de pesquisas para saber se houve ou não combinação de resultados errados.

O problema é que no meio do caminho, como sempre, havia uma caneta. O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, decidiu na noite de quinta-feira (13) vetar a abertura dessas investigações. Ele justificou a decisão afirmando haver ‘incompetência absoluta‘ da PF e do Cade para investigar os institutos de pesquisa de intenção de voto e ‘ausência de justa causa‘ para apurar a atuação das empresas.

Moraes determinou ainda que a Corregedoria-Geral Eleitoral e a Procuradoria-Geral Eleitoral apurem ‘eventual prática de abuso de poder político, consubstanciado no desvio de finalidade no uso de órgãos administrativos com intenção de favorecer determinada candidatura, além do crime de abuso de autoridade‘.

No despacho, Moraes disse serem precipitados os dois procedimentos e que a motivação seria baseada, unicamente, em presunções relacionadas à desconformidade dos resultados das urnas com o desempenho de candidatos retratados nas pesquisas.

Diante desse cenário, o brasileiro vai ficar, mais uma vez, às cegas no processo eleitoral. A própria Justiça, que deveria ser a principal interessada num processo transparente, impede que se investigue o que todo mundo viu na prática. Erros absurdos e contra um único e determinado grupo político.

Nesse momento de indefinição, faltando poucos dias para o segundo turno, e num cenário onde qualquer um dos lados pode vencer as eleições, pesquisas com credibilidade seriam fundamentais para ajudar a sociedade a escolher o melhor para o país. Só que não é isso que teremos.

Essa situação é ruim para todos os lados. Para o cidadão que passa a desconfiar das pesquisas. Para o instituto que vende seu trabalho e está com a reputação cada vez mais ameaçada. Para quem contrata a pesquisa que passa a ter seu nome associado a uma possível fraude ou, na melhor das hipóteses, a uma empresa incompetente. Para os candidatos, que a cada divulgação, podem se sentir prejudicados.

Todo esse processo precisa ser revisto. As pesquisas eleitorais têm de ser tratadas como ciência e não destruídas pelas mãos de pessoas despreparadas. Que os erros sejam corrigidos e que, um dia, possamos voltar a acreditar nos resultados das pesquisas eleitorais.