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Editorial

A paz e o barril de pólvora

Este ano foram 343 candidatos ao Prêmio Nobel da Paz, o segundo maior número da história

09 de Outubro de 2022 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: JONATHAN NACKSTRAND / AFP)

O mundo todo conheceu, na sexta-feira (7) os novos vencedores do Prêmio Nobel da Paz. O comitê, com sede de Estocolmo, concedeu o título a uma pessoa e duas organizações: Ales Bialiatski, de Belarus, a organização de defesa dos Direitos Humanos da Rússia, Memorial, e o Centro das Liberdades Civis, da Ucrânia.

Os organizadores consideraram que os vencedores “representam a sociedade civil em seus países de origem”. “O comitê do Prêmio Nobel quis honrar três campeões dos Direitos Humanos, da democracia e da coexistência pacífica nos países vizinhos Belarus, Rússia e Ucrânia”. Segundo o comitê, os vencedores promovem o “direito de criticar o poder e proteger os direitos fundamentais dos cidadãos”.

Após algumas escolhas polêmicas nos últimos anos, o Comitê vinha se abstendo de se posicionar diante de questões políticas. A tomada de posição foi adotada, segundo a organização, porque era necessário deixar claro “que estamos falando de dois regimes autoritários e de uma nação em guerra”, afirmou Berit Reiss-Andersen, presidente do grupo, afirmando ser necessário destacar a importância da sociedade civil na promoção de valores “que não são de agressão e de guerra”.

Ales Bialiatski é um dos principais representantes da oposição ao atual ditador de Belarus, Aleksandr Lukashenko, aliado de Vladimir Putin, presidente da Rússia. Bialiatski foi preso em 2020 pelo regime de Lukashenko e permanece atrás das grades. Ele esteve na vanguarda do movimento pró-democracia em Minsk, ainda nos anos 1980, e “dedicou sua vida à promoção da democracia e do desenvolvimento pacífico de seu país natal”.

Após o anúncio dos vencedores, os organizadores do Nobel pediram que as autoridades do país soltem o ativista. A porta-voz da oposição de Belarus afirmou que Bialiatski está atualmente preso “em condições desumanas”.

O líder da oposição no país, Pavel Latushko, disse que o Nobel reconheceu “todos os presos políticos em Belarus”. “(O prêmio) não é apenas para ele (Bialiatski), mas para todos os prisioneiros políticos que temos atualmente em Belarus”, declarou.

Já o Memorial russo, com mais de três décadas de atuação, é o mais antigo grupo de direitos humanos do país. Ele foi fundado por dissidentes soviéticos -- incluindo o vencedor do prêmio Nobel da Paz e físico nuclear Andrei Sakharov -- que se dedicaram a preservar a memória dos milhões de russos que morreram ou foram perseguidos em campos de trabalhos forçados durante a era Josef Stalin.
Proibido pela justiça de atuar na Rússia, o escritório da Alemanha da organização russa Memorial agradeceu a premiação classificando-a de “um reconhecimento do nosso trabalho com os Direitos Humanos e especialmente dos nossos colegas na Rússia, que sofreram e sofrem ataques e repressões inomináveis”.

O Centro de Liberdades Civis da Ucrânia é uma organização internacional de defesa dos direitos humanos fundada em 2007 em Kiev, Ucrânia, e liderada pela advogada ucraniana Oleksandra Matviichuk.

A organização teve papel importante na documentação de prisões políticas e desaparecimentos nos últimos anos na Ucrânia, principalmente depois das manifestações de 2013 e 2014 contra o presidente Viktor Yanukovitch.

O grupo também teve participação no monitoramento da movimentação russa na Crimeia e Donbas, e ganhou relevância com sua atuação depois da invasão russa. Em sua conta no Twitter, o Centro para as Liberdades Civis da Ucrânia declarou estar “orgulhoso” de ser um dos laureados do Nobel da Paz deste ano. “Manhã com boas notícias. Estamos orgulhosos”.

Este ano foram 343 candidatos ao Prêmio Nobel da Paz, o segundo maior número da história. Esse prêmio ganha importância numa época em que as tensões políticas tomam conta do planeta. São muitos os conflitos espalhados pelo mundo. Além de Rússia e Ucrânia, as dificuldades aumentam nas relações entre China e Taiwan, Coreia do Norte e do Sul, israelenses e palestinos. Isso sem contar os confrontos internos na Síria, em Mianmar, Afeganistão, no Irã, no Yêmen, na Nicarágua e em boa parte da África.

É hora dos líderes mundiais investirem na diplomacia, abaixando a temperatura da fervura e evitando que o barril de pólvora onde estamos sentados acabe por explodir. A Paz tem que ser perseguida a todo custo, sem que as liberdades individuais sejam destruídas ou cassadas.