Editorial
A nova onda Bolsonaro
O erro das pesquisas, em São Paulo, não se limitou ao cargo de Presidente da República. Para o governo do Estado e para o Senado também foram registradas divergências enormes
As urnas falaram forte neste domingo, 2 de outubro. Os principais institutos de pesquisa apontavam para um cenário bastante desfavorável para o presidente Jair Bolsonaro e seus aliados nos Estados, mas o que se viu foi uma reação que modificou o panorama da eleição.
De norte a sul do país, as viradas foram se acumulando e o próprio presidente ponteou, por boa parte do tempo, a apuração dos votos. Foi na reta final, com a entrada dos votos da região Nordeste, que o ex-presidente Lula passou e acabou o primeiro turno na liderança. A diferença de votos, na casa de 4%, foi bem menor que o apontado por pesquisas como a do Ipec (antigo Ibope) e Datafolha.
Essas mesmas pesquisas apontavam, por exemplo, que Bolsonaro estava atrás no estado de São Paulo. Nessa previsão, erraram redondamente. Bolsonaro teve 47% dos votos, quase dois milhões a mais que Lula. Uma vantagem e tanto, acima de qualquer margem de erro estipulada pelas sondagens pré-eleitorais.
O erro das pesquisas, em São Paulo, não se limitou ao cargo de Presidente da República. Para o governo do Estado e para o Senado também foram registradas divergências enormes. Durante todo o período eleitoral, Fernando Haddad, aliado de Lula, aparecia na frente das intenções de voto. Tarcísio de Freitas, apoiado por Bolsonaro, ficava em segundo a uma boa distância, superior aos dez pontos. Só que a opinião da população paulista não foi bem captada pelo Ipec e pelo Datafolha. Resultado Tarcísio terminou em primeiro com uma larga vantagem sobre Haddad. Os dois agora vão disputar o segundo turno.
O mesmo ocorreu no senado. A vaga paulista era dada como certa para Márcio França, também aliado de Lula, mas o astronauta Marcos Pontes, ex-ministro de Bolsonaro, decolou rumo à vitória, contrariando todas as expectativas.
Esse tipo de situação foi registrada, também, em vários outros estados. No Rio Grande do Sul, Onix Lorenzoni superou Eduardo Leite, que liderava todas as pesquisas eleitorais. O vice-presidente Hamilton Mourão derrotou o petista Olívio Dutra e ficou com a vaga gaúcha para o Senado.
Caso surpreendente aconteceu em Mato Grosso do Sul. Durante o debate da noite de quinta-feira (29), na TV Globo, a senadora Soraya Thronicke, que também disputava a presidência, provocou Jair Bolsonaro. Ela queria que o presidente anunciasse apoio ao candidato Capitão Contar, que disputava o governo do estado. Segundo Soraya, Bolsonaro tinha abandonado o amigo, que estava numa péssima posição nas pesquisas. Sem titubear, Bolsonaro demonstrou apoio total ao capitão.
O recado do presidente foi ouvido pelo povo de Mato Grosso do Sul e Contar saiu da quarta posição nas pesquisas para a liderança. O candidato favorito ao pleito, André Puccinelli, nem para o segundo turno foi.
Outras vitórias pessoais de Bolsonaro foram registradas no Rio Grande do Norte, com a eleição do ex-ministro Rogério Marinho para o senado, e no Distrito Federal com a ex-ministra Damares Alves conquistando o mesmo cargo. No Espírito Santo, a eleição do amigo Magno Malta também foi comemorada por Bolsonaro.
No Rio de Janeiro, a eleição de Cláudio Castro, no primeiro turno, derrotando Marcelo Freixo, também foi motivo de muita alegria para o presidente.
A surpresa foi tanta que os próprios comentaristas da Globonews, que tanto bateram no presidente nos últimos anos, tiveram que se render à nova onda Bolsonaro. E reconheceram que o presidente sai muito fortalecido para o segundo turno, apesar de ter ficado alguns pontos atrás de Lula.
Agora começa uma nova eleição. Lula e Bolsonaro terão praticamente um mês para convencer a população de que merecem dirigir o país nos próximos quatro anos. Os dois terão tempos iguais no horário eleitoral e vão se enfrentar, cara a cara, nos debates. As empresas de pesquisa terão nova chance de entender melhor o pensamento do eleitorado e quem sabe, desta vez, consigam prever corretamente o resultado.
Já o eleitor terá uma nova chance de escolha, principalmente os 35 milhões que não compareceram às urnas neste domingo. Esse número representa praticamente 215 do eleitorado. Isso significa que apenas 79% dos brasileiros se interessam pela escolha do próximo presidente.
Essa realidade precisa mudar. É o futuro do Brasil que está em jogo e participar desse momento histórico é fundamental para a democracia.