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Editorial

O Brasil quer distância do vermelho

O governo vem tomando diversas medidas para garantir o resultado positivo das contas

25 de Setembro de 2022 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: José Cruz / Agência Brasil)

O Governo Federal anunciou, na quinta-feira (22), que pela primeira vez, este ano, as contas fecharão no azul.

Segundo o Ministério da Economia a projeção é de um superávit primário na casa dos R$ 13,5 bilhões. A previsão anterior apontava para um déficit de R$ 59,5 bilhões.

Trocando em miúdos, esse resultado mostra que o governo central (Tesouro Nacional, Previdência e Banco Central) deve gastar menos do que arrecada no ano, sem contar as despesas com a dívida pública. Se os cálculos estiverem certos, será o primeiro superávit desde 2013. Uma notícia e tanto para um país que ainda se recupera de dois anos de pandemia e dos reflexos mundiais da invasão russa ao território ucraniano.

De acordo com o secretário especial de Tesouro e Orçamento, Esteves Colnago, o resultado decorre de um aumento das receitas estimado em R$ 70 bilhões. Ele avalia que o saldo positivo pode ser ainda maior do que os R$ 13,5 bilhões, mas declarou que ainda há ‘um dever de casa fiscal a ser feito‘.

O governo vem tomando diversas medidas para garantir o resultado positivo das contas, como a antecipação do pagamento de dividendos das estatais - arrecadação que pode superar os R$ 100 bilhões no ano.

Apesar de termos motivos para comemorar esse resultado, esse superávit não deve se repetir tão cedo. Para 2023, por exemplo, o déficit previsto na proposta orçamentária enviada ao Congresso é de R$ 65,9 bilhões.

‘Uma coisa é você fazer um superávit derivado de reformas estruturais, com mudanças permanentes. Outra coisa é a que ocorre por questões não recorrentes ou choques exógenos, como a atual valorização das commodities‘, explica a diretora do Instituto Fiscal Independente (IFI), Vilma Pinto.

Mesmo que seja pontual, a previsão de contas no azul vem num momento em que o Brasil tem cortado uma série de impostos e lutado, muito, para controlar a escalada na inflação. Inflação essa que tem deixado muita gente que mora em países desenvolvidos do Hemisfério Norte sem dormir.

O corte de impostos permitiu a redução dos gastos das famílias com combustíveis, energia e telecomunicações. Só que nem tudo são flores, alguns alimentos e gêneros de primeira necessidade, por conta da alta mundial das commodities, insistem em subir para níveis acima dos desejados. O gasto maior com comida reduz o espaço das famílias de renda mais baixa para o consumo de serviços e de bens não essenciais, além de dificultar o pagamento de dívidas e de contas em atraso.

A carne de frango, uma das proteínas de preço mais acessível, está com forte demanda tanto no atacado como no varejo. Isso fez com que o preço voltasse a subir. Segundo levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Avançada (Cepea), de 14 a 21 de setembro, o valor do quilo do frango inteiro congelado, na Grande São Paulo, subiu 1,1%. Também subiram os cortes e miúdos no atacado da Grande São Paulo Conforme o Cepea, a asa e o peito resfriados registraram alta de 3% e de 2,3%. Já os preços da asa e do peito congelados subiram 1,7% e 2,1% o quilo.

Boa parte dessa demanda vem do exterior. De acordo com dados oficiais do Secex, que cuida das exportações, nas primeiras semanas de setembro (11 dias úteis), a média diária de embarque esteve em 20 mil toneladas, 15,4% acima da registrada em agosto e 8% superior à de setembro/21.

Se o mercado de alimentos empurra a inflação para cima, a Petrobras tem ajudado a conter a alta. A empresa determinou uma nova redução para os preços do gás de cozinha. O combustível já está 6% mais barato nas refinarias. É a segunda queda em menos de duas semanas.

A nova queda deve ajudar a conter a inflação, segundo André Braz, coordenador dos índices de preços do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV).

‘Para cada 1% de redução no preço do GLP, em 30 dias a inflação encolhe em 0,01 ponto porcentual. Então, é uma ajuda. E como esse energético pesa mais para a baixa renda, é como se eles finalmente sentissem os efeitos da queda na cotação do barril de petróleo‘, disse Braz.

Vivemos num mundo cada vez mais interligado. As influências externas são sentidas na economia em questão de horas. É preciso estar atento a tudo e a todos. O Brasil vem demonstrado ter essa capacidade. Só resta saber até quando estaremos no comando de nossos destinos.