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Guerra diplomática

A troca de farpas entre Rússia e Estados Unidos

A reação feroz de Putin foi provocada pelo discurso do presidente dos Estado Unidos, Joe Biden, na Assembleia Geral da ONU

22 de Setembro de 2022 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
Presidente da Rússia, Vladimir Putin.
Presidente da Rússia, Vladimir Putin. (Crédito: Mikhail Klimentyev / SPUTNIK / AFP)

A invasão da Rússia ao território ucraniano completa, sábado (24), sete meses. Muitos esperavam que fosse uma guerra curta tal a diferença de potencial bélico entre as duas nações. Só que não foi isso que se viu na prática. O exército russo sofreu com a resistência ucraniana apoiada por países europeus que abasteceram o governo do presidente Volodymyr Zelensky com armas e ajuda financeira.

A disputa por territórios foi ficando cada vez mais lenta, torturando ainda mais a população ucraniana. No início dessa semana, a Ucrânia anunciou a retomada de várias regiões, alertando para um possível desgaste das tropas russas.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, mais preocupado com a brincadeira de gato e rato com a Europa no fornecimento de gás e petróleo, reagiu. Ele anunciou, nesta quarta-feira (21), um incremento na mobilização militar do país. Em um pronunciamento em rede nacional, o dirigente máximo da Rússia indicou que a medida envolve a movimentação de reservistas, e afirmou que a ação é “necessária”, sendo a “única opção” no momento.

Além disso, Putin declarou apoio aos referendos convocados em regiões separatistas da Ucrânia, em um movimento semelhante ao ocorrido durante a anexação da Crimeia. Entre as regiões afetadas, o mandatário destacou Luhansk e Donetsk. O russo defendeu seguidas vezes o que chamou de “libertação” de territórios de “neonazistas”.

O presidente Putin sugeriu ainda o uso de armas nucleares no confronto, indicando que todas as opções disponíveis podem ser utilizadas. “Eu não estou blefando”, afirmou. Segundo ele, o potencial nuclear do país deve ser lembrado por aqueles que fazem ameaças à Rússia e sua integridade territorial.

Putin fez uma série de críticas à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Ele afirmou que os ataques por parte da aliança contra a Rússia aumentaram nos últimos anos. Segundo Putin, o Ocidente não deseja paz entre Ucrânia e Rússia. “Não estão satisfeitos com uma solução de paz. Quando estivemos buscando atingir compromissos, houve comandos para atrapalhar negociações.”

Em sua visão, líderes ocidentais que vem buscando apoiar a Ucrânia com equipamentos militares visando o longo prazo estão tomando uma posição “irresponsável”.

A reação feroz de Putin foi provocada mais pelo discurso do presidente dos Estado Unidos Joe Biden na Assembleia Geral das Nações Unidas do que, efetivamente, pela disputa da Ucrânia.

Biden disse que a Rússia viola a Carta da ONU “descaradamente”, ao invadir e tomar território à força do vizinho. Ele ainda qualificou o plebiscito almejado por Moscou para áreas do território ucraniano sobre sua eventual incorporação à Rússia como algo “vergonhoso” e pediu união da comunidade internacional para resistir à ação russa e condená-la “de modo inequívoco”. “Essa guerra quer acabar com o direito da Ucrânia existir, simples assim.” Biden exigiu um “fim justo” para a guerra, que não inclua a tomada de territórios.

Enquanto as duas potências elevam o tom, a situação na Europa piora a cada dia. Com a aproximação do inverno, milhares de pessoas podem morrer de frio sem a liberação do gás russo. O preço da energia elétrica disparou e está ameaçando o custo de vida dos moradores de vários países. Já tem gente guardando lenha para conseguir enfrentar os dias mais gelados.

Enquanto Biden e Putin batem cabeça, não surge nenhum político capaz de encontrar uma solução de curto prazo para a disputa territorial na Ucrânia. A Europa enfrenta um vácuo de liderança, sem que ninguém tenha a capacidade de aglutinar forças para tomar uma decisão que realmente atenda os dois lados da disputa.

O problema é que o tempo não espera, a cada volta dos ponteiros do relógio o frio se aproxima. O verão, que termina daqui a algumas horas no Hemisfério Norte, já registra temperaturas na casa dos 8 graus Celsius em várias cidades. Muito em breve os sistemas de calefação das casas e comércios vão ser ligados e aí a crise energética se ampliará.

A torcida é que o bom senso ajuda o mundo a encontrar uma solução. Vai ser triste, após a pandemia de Covid, assistir a Europa recolher milhares de corpos de moradores mortos por conta do frio e da insensibilidade de alguns dirigentes políticos.