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Saúde pública

Uma equação difícil de ser resolvida

Moradores de municípios vizinhos acabam utilizando a rede de saúde de Sorocaba, dificultando o atendimento

21 de Setembro de 2022 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: Reprodução)

O Brasil tem, atualmente, mais de 500 mil médicos. Esse número é mais que o dobro do que tínhamos na entrada do século XXI. Mesmo assim enfrentamos sérias dificuldades no atendimento à saúde em muitos Estados e municípios. O problema está na falta de equilíbrio entre o número de profissionais e a distribuição geográfica da população. Algumas cidades sofrem para contratar e manter esses profissionais, mesmo pagando bem mais que outros municípios de maior porte. Ao mesmo tempo, grandes centros urbanos atraem um número muito superior de médicos das mais diversas especialidades.

O País tem hoje uma boa relação médico por mil habitantes. O índice chega a 2,4 segundo o último levantamento feito pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). Bem acima do recomendado pela Organização Mundial de Saúde que é de 1 médico por mil habitantes. Já a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) preconiza 3,4 médicos para cada mil habitantes.

Mesmo o Brasil tendo melhorado os seus índices, a disparidade começa aqui mesmo na Região Metropolitana de Sorocaba. Doze das 27 cidades que fazem parte da RMS estão com índice inferior a 1 médico por mil habitantes. Já as outras 15 atendem o recomendado pela OMS.

Sorocaba, por exemplo, tem 3,10 médicos por mil habitantes. Na RMS, só perde para Araçariguama que tem 3,13, de acordo com os dados da Fundação Seade. A média de Sorocaba supera a de países como Chile (2,5), Estados Unidos (2,6) e Canadá (2,7), conforme mostra estudo feito pela Universidade de São Paulo (USP) e pelo Conselho Federal de Medicina (CFM).

Já São Miguel Arcanjo com 0,45, Votorantim com 0,47 e Pilar do Sul com 0,51 médicos por mil habitantes são os municípios que apresentam pior relação.

No caso específico de Sorocaba, mesmo com bons índices, o atendimento à saúde sempre recebe críticas por parte da população. A procura por atendimento nas unidades municipais é grande, o que acaba gerando reclamações dos moradores, sobretudo nas unidades de urgência e emergência, e na hora de marcar consultas com especialistas. Há reclamações também da constante ausência de médicos nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs).

Sorocaba paga o preço de ser a maior cidade da região e a que reúne melhores condições de atendimento. Os moradores de municípios vizinhos acabam utilizando a rede de saúde de Sorocaba, dificultando o atendimento de quem mora aqui e complicando o planejamento do poder público local.

Esse cenário é explicado, exatamente, pelo desequilíbrio de profissionais médicos nos diversos municípios da RMS. Sem conseguir disponibilizar o serviço em suas cidades, apesar dos constantes esforços, os prefeitos das cidades menores têm, como única solução, embarcar os pacientes em carros, vans e até em ônibus em busca de atendimentos de maior complexidade em Sorocaba, ou até mesmo na capital.

A solução para esse problema começa com a elaboração de políticas públicas que consigam atrair e fixar os médicos nas cidades de menor porte. Uma das possibilidades é oferecer bolsas de estudos nas faculdades de medicina em troca de um período de trabalho em comunidades mais necessitadas. Isso ajudaria a desonerar o bolso nos estudantes e resolver parte do problema da falta de atendimento.
O Brasil oferece, anualmente, 35 mil novas vagas nos cursos de medicina. Um contingente expressivo de profissionais, que, no fim de cada ciclo, poderia ajudar a atender melhor a população.

Cursos temos, interessados temos, profissionais formamos. O que precisa ser feito é transformar esses números, que crescem anualmente, num melhor desempenho do setor de saúde. Só assim a população vai sentir a melhora no atendimento e ter a sua disposição não só a medicina curativa, mas também a preventiva. Esse é um caminho importante que precisamos trilhar, sem demora, para garantir uma vida melhor e mais saudável a todos os brasileiros.