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Infância roubada

O perigo mora ao lado

Em boa parte dos casos, as crianças são ludibriadas, corrompidas ou muitas vezes ameaçadas

17 de Setembro de 2022 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: Reprodução)

A pornografia infantil e o abuso sexual de menores são dois crimes que atentam contra toda a sociedade. As autoridades policiais, principalmente as que investigam o uso da internet para disseminação de fotos e vídeos com menores, têm atuado firmemente para combater essas quadrilhas.

O caso mais recente, e que chocou muita gente, foi a prisão em flagrante do ator José Dumont. Segundo a polícia, ele tinha, em sua posse, imagens de sexo protagonizadas por crianças.

As investigações da Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima (Dcav) foram iniciadas depois que uma câmera de segurança do condomínio onde o ator mora gravou imagens de Dumont praticando atos abusivos com um menino de 12 anos. As imagens mostravam beijos na boca e carícias íntimas.

A vítima seria fã do ator, que teria oferecido compensação financeira e presentes ao menor em troca do romance. José Dumont está detido, e a defesa dele ainda não se pronunciou sobre o caso.

A investigação pode envolver outros personagens famosos do mundo da televisão e do cinema nacional. Os computadores do ator devem conter vasto material de fotos e vídeos armazenados, além de trocas de mensagens e de arquivos com outras pessoas que desfrutam desse mesmo tipo de perversão criminosa.

O caso de José Dumont, se investigado corretamente pela polícia, pode desvendar uma verdadeira rede de abusos no cenário das artes brasileiras.

A pornografia infantil não é uma realidade só no Brasil. Autoridades policiais do mundo todo trabalham para combater esse tipo de crime. Mas o submundo da web e a troca de arquivos por meio de aplicativos de mensagens dificulta a apuração de muitos casos.

Um relatório internacional produzido pela organização britânica Internet Watch Fundation (IWF), uma fundação que monitora a internet, aponta que a quantidade de vídeos pornográficos feitos com crianças de 7 a 10 anos de idade cresceu 65% em 2022.

Em boa parte dos casos, as crianças são ludibriadas, corrompidas ou muitas vezes ameaçadas para produzir esse tipo de conteúdo.

Os criminosos aproveitam as facilidades tecnológicas e capturam essas imagens com a ajuda de celulares ou webcams para depois distribuir o material pelas redes e por plataformas e sites dedicados a esse tipo de conteúdo.

Os pesquisadores conseguiram encontrar e denunciar 19.670 páginas da web com material produzido por crianças dessa faixa etária só nos primeiros seis meses deste ano. Em 2021, no mesmo período, foram detectadas 11.873 páginas.

Embora o número de casos de abuso sexual contra crianças de 7 a 10 anos tenha aumentado consideravelmente, a faixa etária entre 11 e 13 é a que mais sofre e é a principal vítima desse tipo de crime.

Muitas dessas crianças vêm de famílias pobres e acabam seduzidas pelos presentes e promessas oferecidas pelos pedófilos. Os criminosos utilizam de sua experiência e malícia para envolver a vítima. Depois do ato consumado, e muitas vezes documentado, apelam para a coação, manipulação e o medo para manter o relacionamento ou para evitar que o crime seja denunciado.

Cerca de 70% das vítimas de estupro no Brasil são crianças e adolescentes. O País figura entre os primeiros do ranking internacional com mais casos de exploração sexual de menores entre os 7 e 14 anos.

O caso do ator José Dumont, flagrado numa relação homossexual com um menino de 12 anos, não é fato isolado. Infelizmente, esse tipo de crime ocorre todo dia, toda hora, em todas as regiões do País.

A TV Globo, onde o ator trabalhava, informou que José Dumont foi demitido do elenco da novela Todas as Flores, com estreia marcada para outubro. “O ator José Dumont estava contratado como obra certa especificamente para a novela Todas as Flores, a ser exibida no Globoplay. Diante dos fatos noticiados, a Globo tomou a decisão de retirá-lo da novela. A suspeição de pedofilia é grave. Nenhum comportamento abusivo e criminoso é tolerado pela empresa, ainda que ocorra na vida pessoal dos contratados e de terceiros que com ela tenham qualquer relação”, informou a Globo em nota.

Claro que o trabalho de desvendar as organizações criminosas que atuam no ramo da pornografia infantil é trabalho da polícia. Mas a sociedade tem de fazer também sua parte cuidando das crianças e dos adolescentes. Não só para evitar que eles se transformem em novas vítimas, mas também para impedir que eles sejam aliciados por pedófilos e exploradores desse mercado. Somos nós que temos de montar essa rede de proteção que beneficiará a todos.