Editorial
Armadilhas que podem provocar a falta de alimentos no mundo
A situação é tão grave que o secretário-geral da ONU, António Guterres, retomou negociações com o presidente russo

O Brasil está plantando uma nova safra de grãos. No Sul e no Centro-Oeste as máquinas já estão preparando a terra para que as sementes sejam cultivadas logo nas primeiras chuvas da primavera. E a expectativa é de uma produção recorde.
Só que a situação de outros países produtores não é a mesma. O plantio corre risco por falta de insumos e já se fala numa queda global na produção de alimentos.
A situação é tão grave que o secretário-geral da ONU, António Guterres, retomou negociações com o presidente russo Vladimir Putin para garantir a exportação de fertilizantes e amônia. Só que o preço que o governo russo vai cobrar de quem tanto o atacou pela invasão da Ucrânia é uma incógnita.
Para Guterres, há risco de uma crise no mercado de fertilizantes. “Temos notícias de diferentes partes do mundo onde as áreas cultivadas são menores do que no ciclo anterior, o que significa que corremos o risco de ter ainda em 2022 uma falta real de alimentos”, disse o dirigente da ONU.
Tudo isso que está acontecendo agora foi previsto pelo governo brasileiro antes mesmo do início da guerra e das sanções contra a Rússia. Dezenas de analistas políticos ridicularizaram a visita feita pelo presidente Jair Bolsonaro a Putin em fevereiro deste ano. Ninguém aceitava os argumentos do presidente que havia necessidade de manter o comércio de fertilizantes com a Rússia ou o mundo todo sofreria. Bolsonaro advertiu também a Organização Mundial do Comércio e a própria ONU sobre o tamanho deste problema. Agora a conta chegou.
A diferença é que o Brasil se preparou e garantiu insumos suficientes para manter a produção agrícola nacional em alto nível. China e Índia, ao também se aproximar da Rússia, seguiram o mesmo caminho.
Já quem optou por atacar o governo Putin e dificultar as negociações para um acordo sobre o conflito na Ucrânia começa a ficar com o pires na mão. O inverno no Hemisfério Norte vai chegar. O custo da energia, sem o gás fornecido pelos russos, disparou e já se fala em racionamento e mortes pelo frio. Paris, por exemplo, vai apagar as luzes dos monumentos para economizar um pouco de eletricidade. A Alemanha reativou usinas nucleares aposentadas há tempos numa tentativa de gerar energia elétrica. Florestas inteiras estão virando carvão para garantir um pouco de calor para as famílias europeias. E ainda há o risco de faltar alimento. Um cenário terrível para quem optou por uma briga inútil em vez de negociar prazos e respeitar acordos internacionais assinados no passado.
Uma das principais agências que medem risco no mundo, a Fitch Ratings, apresentou relatórios sombrios para os próximos meses. A agência cortou drasticamente as previsões para o desempenho da economia mundial este ano e também no próximo. Os principais fatores levantados pelos analistas são o agravamento da crise energética na Europa, a escalada da inflação e o movimento global de aperto de juros. Em relatório divulgado na quarta-feira (14), a agência revela ter reduzido a estimativa para alta do Produto Interno Bruto (PIB) global em 2022, de 2,9% para 2,4%, e em 2023, de 2,7% para 1,7%.
A chance de recessão na zona do euro ainda este ano aumentou. O mesmo deve acontecer com os Estados Unidos no início do ano que vem.
“Tivemos uma tempestade perfeita para a economia global nos últimos meses, com a crise do gás na Europa, uma forte aceleração nos aumentos das taxas de juros e uma queda cada vez maior no mercado imobiliário na China”, explicou Brian Coulton, economista-chefe da Fitch Ratings.
Todo esse cenário foi previsto e alertado pelos ministros do governo Bolsonaro. Paulo Guedes, da Economia, cuidou de alertar as principais entidades internacionais e buscar soluções diplomáticas. Tereza Cristina, ex-ministra da Agricultura, viajou o mundo em busca de insumos para o Brasil e de acordos que garantissem o fluxo de fertilizantes russos para o País. Não foi por falta de aviso que os países desenvolvidos mergulharam nessa crise econômica severa.
O Brasil, na contramão do mundo, navega em águas mais tranquilas. Economia reaquecendo, PIB em alta e inflação em baixa. Sem contar na garantia de um estoque de insumos e fertilizantes que vão permitir a colheita de uma grande safra de grãos. Alimento que vai garantir o sustento não só dos brasileiros como o de várias nações que dependem da nossa agricultura. Tudo isso graças ao trabalho de um governo sério, com visão estratégica e que, por questões ideológicas, não é ouvido da maneira que deveria ser.