No trilho
Combustível para conter a inflação
O Governo luta para manter a inflação nos trilhos, às vezes, abusando do remédio amargo dos juros

Toda segunda-feira, o Banco Central divulga o Boletim Focus que nada mais é que um relatório das instituições financeiras com as expectativas e perspectivas para os principais indicadores econômicos. Nas últimas treze semanas, esse indicador tem mostrado que o mercado financeiro, enfim, fez as pazes com o governo Bolsonaro. As projeções para a inflação têm caído semanalmente e a estimativa para o PIB, aumentado.
No último relatório, já se prevê uma inflação de 6,4% este ano. Já o PIB foi revisto para um crescimento de 2,39%. O País, diante desse cenário, mostra ter conseguido recuperar-se da pandemia de Covid-19 e dos efeitos iniciais provocados pela guerra entre Rússia e Ucrânia.
Outro fator que beneficia o Brasil é que estamos caminhando para o verão, estação na qual os índices inflacionários são mais administráveis pela fartura de produtos. Já o Hemisfério Norte segue em direção ao inverno, quando os preços aumentam, e a crise energética vai exigir muitos esforços da população.
Voltando ao Brasil, um fator decisivo para a retomada do controle da inflação foi a queda dos preços dos combustíveis. Isso tem muito a ver com a mudança de postura da nova diretoria da Petrobras e com a queda da cotação do barril de petróleo no mercado internacional.
Os preços da gasolina e do diesel têm experimentado constantes reduções, aliviando o bolso do consumidor. O etanol acompanhou essa queda e também se reposicionou no mercado.
Faltava, no entanto, equacionar um produto que mexe com a vida de milhares de donas de casa: o gás de cozinha. Item essencial para o arroz e feijão do dia a dia. Esse problema também parece estar com os dias contados.
A Petrobras promoveu uma queda de 4,7% no preço médio do gás liquefeito de petróleo (GLP). O valor do quilo (kg) passa de R$ 4,23 para R$ 4,03 nas refinarias. É a segunda redução consecutiva no preço do gás de cozinha. Segundo a Petrobras, o preço médio de 13 kg, correspondente à capacidade do botijão de uso doméstico, sofrerá uma redução de R$ 2,60 e ficará em R$ 52,34.
O problema é que aí entram outros custos, que mais que dobram o valor do botijão. A dona de casa, de fato, acaba pagando, em média, R$ 112,00 pelo botijão. A estatal calcula ser responsável apenas por 49,2% desse valor. Atualmente, o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Produtos (ICMS), tributo estadual, responde por 10,6%. O restante do preço é de responsabilidade das distribuidoras, que levam em conta os gastos logísticos e a margem de lucro.
Como se pode notar, a equação é bastante complexa. E a capacidade de interferência do Governo Federal acaba sendo mínima, já que a maioria dos custos está fora do alcance da caneta do presidente da República.
É por essa e outras questões que o ministro da Economia, Paulo Guedes, tanto insistiu na urgência de uma reforma tributária séria. Foram mais de três anos de negociações com o Congresso, estudos, ajustes e até o fatiamento das propostas, mas a falta de engajamento de nossos deputados e senadores da atual legislatura impediu que a coisa andasse.
Os projetos estão lá, preparados, esperando a ação daqueles que foram eleitos e que são remunerados para cuidar da elaboração de nossas leis. Sem essa reforma, vai ser difícil deixar a casa em ordem.
Enquanto ela não vem, o Governo luta para manter a inflação nos trilhos, às vezes, abusando do remédio amargo dos juros. As conquistas foram muitas e a situação está bem melhor do que se previa no início do ano. Mas ainda há muito por fazer. A margem de crescimento do Brasil é enorme e só um cenário de estabilidade mesclado com responsabilidade fiscal vai permitir que possamos atingir nossos objetivos. Todos queremos um país melhor e mais justo, para isso, a hora é de união e patriotismo.