Mão de obra
Executivos em falta no mercado de trabalho
O mercado de recrutamento de altos executivos encerrou o primeiro semestre em ebulição

Temos acompanhado, mês a mês, a queda do desemprego no País. O último levantamento do IBGE mostrou que a taxa de desocupação caiu para 9,1% no trimestre encerrado em julho. A redução foi de 1,4 ponto percentual na comparação com o trimestre anterior. Esse índice é o menor registrado pelo Instituto desde dezembro de 2015, que também foi de 9,1%.
O número de pessoas ocupadas também bateu um recorde desde que a série histórica foi iniciada em 2012. São 98,7 milhões de pessoas trabalhando. Para completar esse círculo virtuoso, o rendimento médio dos trabalhadores também começou a crescer.
Quando falamos em emprego e desemprego, sempre pensamos nas camadas mais carentes da população. Na grande massa de trabalhadores que precisa garantir uma vaga para levar o sustento da família todos os meses para casa. São esses os setores mais afetados pelas crises econômicas e que necessitam de maior apoio e de uma de proteção social.
Só que o mercado de trabalho é formado também por profissionais de alto nível técnico, disputados pelas grandes empresas e que lutam por remunerações, quase sempre, milionárias. E nesse momento de recuperação do Brasil, esse setor também apresenta um cenário bastante aquecido.
O mercado de recrutamento de altos executivos encerrou o primeiro semestre em ebulição e com as consultorias especializadas em garimpar esses profissionais atingindo volume recorde de trabalho. É que a dança de cadeiras nos postos mais elevados das corporações se intensificou com o arrefecimento da pandemia e a volta das atividades presenciais.
A maior parte do aumento das movimentações no alto escalão se deve a trocas nos quadros adiadas pela Covid-19 e a projetos e investimentos de grande monta interrompidos e, agora, retomados. Mas uma parcela do aumento das contratações ocorre também por causa do fim da “lua de mel” entre empresas e executivos -- no caso daqueles que trocaram de emprego no auge da pandemia e, sem conhecer as equipes, não conseguiram liderá-las remotamente.
“Alguns executivos mudaram na pandemia e perceberam que o novo emprego não era o que esperavam. Agora, estão fazendo um novo movimento”, explica Tiago Salomão, sócio sênior da Korn Ferry, ema importante consultoria de mercado de trabalho.
Os cargos mais demandados foram de diretor financeiro, presidente, diretor comercial, diretor de negócios, diretor de operações e conselheiros.
Mais da metade das trocas de executivos em postos de alto escalão registradas no primeiro semestre deste ano -- independentemente dos motivos da mudança -- ocorreu por iniciativa das empresas, que viram os resultados não sendo atingidos, aponta pesquisa da consultoria americana Signium, especializada no recrutamento desses profissionais.
Do lado dos executivos, entre os principais motivos para querer trocar de emprego, apareceu a dificuldade de adaptação cultural, potencializada pelo fato de as equipes estarem trabalhando remotamente durante a pandemia, aponta Eduardo Drummond, sócio da consultoria.
“As pessoas não estão saindo de uma empresa para ir para outra por causa de salário”, diz Drummond. O momento de parada forçada provocada pela pandemia fez com que as lideranças começassem a refletir sobre a identidade cultural com a empresa na qual trabalham e se os propósitos são coincidentes, se têm a mesma “pegada”, diz o consultor.
Com o crescimento econômico do País, a entrada de novos investimentos e a crise energética na Europa, esse mercado de trabalho para executivos ainda vai se manter em alta por um bom tempo, com salários e benefícios cada vez mais vantajosos.
Só que para surfar nessa onda é preciso estar preparado, atualizado e antenado com as principais necessidades de cada setor. Conhecer de perto as empresas de recrutamento e seus headhunters (caçadores de talentos) e escolher o melhor caminho para deixar seu currículo à disposição de quem pode te oferecer uma oportunidade de recolocação, ou mesmo de promoção.
Como já disse e repetiu o ministro da Economia Paulo Guedes, o Brasil é a bola da vez. Só que temos que estar preparados para ocupar todos os espaços que possam surgir. A educação e a capacitação profissional são fundamentais para atingir esses objetivos e transformar oportunidade em ganho real.