Editorial
O resgate da história sorocabana
Quem passa pelo Largo de São Bento, há anos se depara com o mesmo cenário. Tapumes, sonhos e pouca atividade de trabalho
O centro de Sorocaba guarda verdadeiras joias da história da cidade. Infelizmente nem todas são devidamente respeitadas e preservadas. Há muita coisa perdida, que passa despercebida dos olhares das gerações mais novas. Falta um pouco de incentivo e de investimento para que possamos recuperar marcos da construção da nossa identidade.
Um desses exemplos é o conjunto arquitetônico existente no entorno do Mosteiro de São Bento. Já são décadas de luta de abnegados sorocabanos para recuperar e conservar os prédios ali existentes. Os avanços existem, mas são muito pequenos diante da grandiosidade e da importância que toda a obra tem.
Quem passa pelo Largo de São Bento, há anos se depara com o mesmo cenário. Tapumes, sonhos e pouca atividade de trabalho. As obras de preservação do prédio histórico, que começaram em 2005, com a aprovação do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat), estão paralisadas desde 2020, quando foi entregue a restauração da Igreja de Sant’Ana, que faz parte do complexo arquitetônico.
O restante da área está protegida com tapumes e a fachada com o reboco aparente, denunciando a necessidade urgente de investimento no local. As janelas também estão danificadas e a porta da frente do Mosteiro continua fechada. Para entrar na igreja, é preciso se dirigir até um portão que dá acesso à porta lateral.
É triste constatar essa situação. Pior ainda é conviver com tudo isso e ficar de mãos atadas diante da dificuldade financeira que impede que os trabalhos sejam acelerados. É o caso do monge beneditino Rocco Fraioli, responsável pelo Mosteiro. Ninguém sofre com a morosidade tanto quanto ele.
Em conversa com a reportagem do jornal Cruzeiro do Sul, ele explicou que o restauro do mosteiro foi dividido em partes e ainda não foi concluído por falta de recursos financeiros. A princípio foi realizada uma intervenção emergencial no prédio. Os telhados com vazamento foram reparados e o local passou por uma descupinização. Após essa etapa, os recursos que sobraram foram concentrados na restauração da Igreja de Sant’Ana.
O templo passou por um trabalho de recuperação artística que devolveu ao prédio suas características originais tanto na estrutura como nas peças sacras, incluindo altares laterais, arco do cruzeiro, altar mor e a douração do retábulo, como é chamada a estrutura de madeira ao fundo do altar.
Fraioli contou que os recursos para essa restauração foram conquistados por meio da iniciativa privada, através de projeto aprovado no Programa de Ação Cultural (ProAC-ICMS). O documento foi elaborado pela Associação Amigos de São Bento e a quantia de R$ 980 mil aprovada, foi patrocinada pela empresa Flex, a título de incentivo fiscal do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS).
Passado esse momento, o dinheiro ficou curto e, agora, para concluir a reforma faltam cerca de R$ 900 mil. Verba que seria usada para recuperar a fachada do prédio e fazer os reparos na parte elétrica, hidráulica, além da recuperação de lugares que estejam mais danificados pela ação do tempo.
“Graças a Deus, apesar da pandemia, conseguimos entregar a igreja restaurada para a cidade. Agora falta essa parte do Mosteiro, a parte estrutural. Se começar o restauro, é preciso terminar, não dá para fazer apenas uma parte da fachada”, disse o monge Rocco Fraioli.
A direção do mosteiro aguarda a liberação de um novo Proac que vai permitir que outras empresas troquem o pagamento de impostos estaduais pelo investimento na restauração do Mosteiro. Enquanto esse processo burocrático não é concluído, o sorocabano vai ter que conviver com essa cicatriz no coração da cidade.
A torcida de todos nós é que esse dinheiro chegue logo e que possamos comemorar, todos juntos, a recuperação desse patrimônio tão significativo para a história de Sorocaba.