Editorial
Empregos em alta, inflação em queda
O mercado já sabe que agosto deve fechar com deflação, o que ajudaria a empurrar a inflação para perto da meta do BC
A última semana de agosto começa com uma série de bons números para a economia brasileira. A geração de empregos continua bastante aquecida, a confiança de vários setores na recuperação e no crescimento do País se firma e a estimativa para a inflação recua, mais uma vez. O otimismo começa a tomar conta de muita gente e fica cada vez mais difícil esconder o momento de prosperidade que o Brasil atravessa.
Só no mês de julho, foram geradas 218.902 vagas de empregos com carteira assinada. No acumulado de 2022, o número chega a 1.560.896 empregos formais, conforme consta do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgado ontem (29) pelo Ministério do Trabalho e Previdência.
Os números são ainda melhores se ampliarmos o recorte para o período de um ano. Entre agosto de 2021 a julho de 2022, o saldo positivo de vagas criadas ficou em 2.549.939. Todos os cinco segmentos analisados registraram saldos positivos em julho. O maior crescimento foi no setor de serviços, que apresentou saldo positivo de 81.873 postos de trabalho formais. A indústria registrou 50.503 novos postos; e o comércio gerou 38.574 vagas no mês.
São Paulo foi o Estado que registrou, no mês, maior número de empregos formais gerados: 67.009, o que representa uma alta de 0,51%. Minas Gerais e Paraná vem em seguida. Sorocaba teve um saldo positivo, em julho, de 895 novas vagas criadas. No acumulado do ano já passamos de 8 mil vagas de saldo.
Muitos críticos questionavam os números positivos da geração de empregos com a desculpa de que as novas vagas estavam sendo preenchidas por pessoas que aceitavam trabalhar por um salário menor. Mas nem esse argumento se sustenta mais. Pelo segundo mês seguido houve aumento no salário médio real de admissão. Na média, o valor acertado ficou em R$ 1.926,54, o que representa uma alta de 0,8%.
Em consonância com a geração de empregos e a melhoria da massa salarial, cresce também a aposta em novos investimentos no País.
O Índice de Confiança da Indústria (ICI) subiu 0,8 ponto em agosto para 100,3 pontos. Os dados são do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV-Ibre) e foram divulgados ontem.
De acordo com o economista Stéfano Pacini, do Ibre, a alta indica o bom nível de atividade mantido pelo setor no terceiro trimestre, com a melhora do ambiente de negócios influenciada pela descompressão de custos com a queda de preços de combustíveis e energia. Duas das grandes apostas do governo Bolsonaro para garantir a retomada do crescimento e o controle do índice inflacionário.
E essas medidas têm dado certo. A previsão do mercado financeiro para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerada a inflação oficial do País, caiu de 6,82% para 6,7% neste ano. É a nona redução consecutiva da projeção. A estimativa está no Boletim Focus de ontem (29). O mercado já sabe que agosto deve fechar com novo registro de deflação, o segundo seguido, o que ajudaria, ainda mais, a empurrar a inflação para uma zona próxima da meta perseguida pelo Banco Central. Mesmo assim a chance de redução de juros, ainda este ano, é considerada pouco provável.
As instituições financeiras consultadas pelo BC elevaram a projeção para o crescimento da economia brasileira este ano de 2,02% para 2,10%. E novas revisões são previstas graças ao bom desempenho da economia. Vários analistas acreditavam que o crescimento do Brasil perderia fôlego no segundo semestre deste ano, mas não é isso que se vê até agora. Com dois meses do período praticamente encerrados, é nítida a evolução do mercado brasileiro.
A nossa situação contrasta com a de países desenvolvidos do Hemisfério Norte. Os governantes de nações como França e Alemanha sabem que enfrentarão um fim de ano desesperador, com racionamento de energia, fome e inflação. Não vai nada fácil enfrentar o inverno que vem por aí sem que se chegue a um acordo compensador para a Rússia na guerra conta a Ucrânia.
O Brasil fez a lição de casa, atuou onde era necessário e conseguiu prever as mudanças que o mundo enfrentaria no pós-pandemia. O resultado está sendo colhido agora e enchendo de esperança a população, sedenta por dias melhores.