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Editorial

Um mundo com três papas

O futuro do papa Francisco ainda é incerto. Em viagem ao Canadá, ele chegou a falar da hipótese de renúncia

27 de Agosto de 2022 às 23:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: AFP / Vatican Media)

A Igreja Católica pode vivenciar, nos próximos meses, uma situação inédita na história da religião. Três papas vivos ao mesmo tempo. Bento XVI, Francisco e o próximo a ser escolhido pelo colegiado do Vaticano.

A renúncia de Bento XVI surpreendeu o mundo em 2013. Menos de oito anos após ser eleito, o Papa alegou não ter mais disposição para exercer a função. O alemão Joseph Ratzinger foi proclamado o sucessor de João Paulo II em abril de 2005. Teólogo de grande expressão, com perfil conservador, Bento XVI foi um grande defensor das doutrinas mais ortodoxas da Igreja Católica. Seu pontificado foi marcado por protestos e escândalos, com denúncias de atos de pedofilia dentro da Igreja.

O anúncio inesperado de que deixaria o cargo foi feito durante uma reunião com cardeais em 11 de fevereiro de 2013. O papa informou o colegiado que a partir das 20h, horário de Roma, do dia 28 de fevereiro, o Trono de Pedro ficaria vago até que fosse realizado o conclave. Em março, o argentino Jorge Mario Bergoglio foi escolhido como novo líder da Igreja Católica. Adotou o nome de Francisco e desde então vem exercendo a função de líder espiritual dos católicos. Só que a idade avançada e a saúde frágil estão dificultando o desempenho da função. Repetidas vezes, Francisco deu sinais que pretende seguir os mesmos passos de Bento XVI e também deixar o cargo.

Antes que isso ocorra, o papa tem tomado algumas providências para reorganizar a igreja dentro dos princípios que considera ideias para o futuro. Um dos atos foi realizado, ontem (27), no Vaticano.

Francisco participou da cerimônia de posse de 20 novos cardeais da Igreja Católica, dois dos quais são brasileiros: o arcebispo da Amazônia, Dom Leonardo Steiner, e o de Brasília, Dom Paulo Cezar Costa.

O chamado Consistório Ordinário Público, reunião em que são empossados novos cardeais, foi realizado na Basílica de São Pedro e é esse grupo que geralmente aconselha o papa na decisão sobre pedidos de canonização.

Com a posse dos novos cardeais, o Brasil passa a ter oito integrantes no Colégio Cardinalício, corpo responsável por tomar as principais decisões e, na prática, ocupar cargos e funções ativas na administração do Vaticano. Na última atualização, feita em 8 de agosto, constavam 206 cardeais na lista da Santa Sé, ainda sem incluir os empossados neste sábado.

Desses, 116 são eleitores, quer dizer, possuem menos de 80 anos e podem participar da reunião que vai escolher um novo papa. Além de votar, eles também podem ser votados. O Brasil passa, agora, a contar com seis eleitores.

O futuro do papa Francisco ainda é incerto. Em recente viagem ao Canadá, ele chegou a falar da hipótese de renúncia. Mas descartou que isso possa ocorrer a curto prazo. Francisco está com 85 anos, sofre com as dores no joelho e apresenta sérias dificuldade de locomoção. Nos últimos meses tem adotado, com mais frequência, o uso de cadeira de rodas.

Francisco passa, nesse domingo, por mais uma prova de sua fé. Vai visitar a cidade italiana de L‘Aquila, na região de Abruzzo. Há uma mística em torno desse local. O papa Celestino V lá renunciou, horas depois de assumir o posto. Disse não estar preparado para liderar a Igreja. Bento XVI também passou por lá antes de tomar a decisão de renunciar.

Especulações à parte, Francisco se prepara para conceder o Perdão Celestino, uma tradição de séculos na Igreja Católica. O papa vai receber também o Prêmio do Perdão, concedido para aqueles que lutam diariamente em defesa dos mais fracos. Nas últimas semanas o pontífice tem repetido, em seus pronunciamentos, a importância de se encerar a guerra entre Rússia e Ucrânia e também tem se esforçado em negociar uma reaproximação entre as Coreias.

Os próximos passos da Igreja Católica devem ficar maios claros nos próximos meses. Resta saber quanto tempo mais Francisco terá condições de liderar os católicos e qual será sua influência na escolha de um sucessor. O futuro, a Deus pertence.