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Editorial

Os obstáculos no caminho do Censo Demográfico

Aos trancos e barrancos, o Censo vai avançando.; e essas informações são vitais para reorganizar as políticas públicas

24 de Agosto de 2022 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: Tânia Rêgo / Agência Brasil)

O Brasil está investindo milhões de reais no novo Censo Demográfico. É um trabalho árduo, que envolve um batalhão de gente. Os recenseadores vão visitar, nas próximas semanas, um total 75 milhões de domicílios.

Em Sorocaba são cerca de 600 recenseadores e 60 supervisores que estão atuando desde o dia 1º de agosto. Eles devem visitar, de porta em porta, perto de 248 mil domicílios. O objetivo é aplicar os questionários preparados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Até segunda-feira (22), quase 30% do trabalho de coleta de dados dos moradores em seus domicílios já haviam sido realizados. E a previsão é que a coleta de dados seja concluída até 31 de outubro.

Para Fernanda Lopes, coordenadora de área do IBGE em Sorocaba, “a prioridade é a coleta de informações presencialmente, na casa do morador, e quando ninguém é encontrado na residência, o recenseador deixa um comunicado e um telefone de contato, para que o morador possa agendar um horário, se for necessário, ou ainda existe a possibilidade da opção de responder o questionário pela internet”.

Ela disse também que alguns recenseadores têm relatado alguns problemas na hora de abordar os moradores para a aplicação do questionário. “Uma das dificuldades que os recenseadores encontram é relacionada com a questão da segurança. Alguns moradores ficam com medo, mas todos os recenseadores do IBGE estão devidamente uniformizados e identificados, sendo que suas identidades podem ser checadas pelo morador no site do próprio IBGE”, explicou Fernanda Lopes.

Apesar de todo o cuidado, às vezes ocorrem situações delicadas para os que trabalham com o Censo. Na zona norte de Sorocaba, um morador chegou a ameaçar soltar os cachorros contra um dos recenseadores. E esse tipo de situação tem se repetido em todo o País. Alguns profissionais contratados pelo IBGE têm se afastado da função com medo das ameaças e da violência. Nas últimas semanas, foram registrados casos de assédio e agressões verbais em diferentes pontos do País.

Os relatos são numerosos em grupos das redes sociais que reúnem os profissionais. “Um homem quase me bateu quando perguntei o sexo dele; já saiu gritando comigo e me perguntando que tipo de pergunta é essa, porque ele é muito macho”, desabafou uma recenseadora em um grupo. “Ontem eu voltei para casa chorando, fiquei o dia todo escutando piadinhas dos moradores”, lamenta outra. “Eu vou desistir antes de terminar o primeiro setor”, contou outra agente.

Segundo o IBGE, as situações de agressão e de ameaças são casos isolados que estão sendo resolvidos localmente pelas unidades estaduais do instituto.

Outra dificuldade encontrada na hora da coleta de dados é a aplicação dos questionários em condomínios, sejam verticais e horizontais. “Por conta da segurança, temos encontrado um pouco de resistência, mas temos feito reuniões com as administradoras de condomínios para sanar dúvidas e explicar como é feita a identificação dos recenseadores”, afirmou a coordenadora do IBGE em Sorocaba, Fernanda Lopes.

Aos trancos e barrancos o Censo Demográfico vai avançando. E essas informações são vitais para reorganizar melhor as políticas públicas do País. Só assim vamos saber quem somos, quantos somos e o que precisamos.

O IBGE atualiza, anualmente, as projeções de crescimento de cada um dos municípios brasileiros. Mas os dados, calculados através de fórmulas matemáticas, não são capazes de identificar grandes mudanças que podem ocorrer numa determinada região. Um município que enfrentou uma grave crise financeira e muitos empregos foram fechados, por exemplo, terá em uma década um êxodo maior que uma área que permaneceu em equilíbrio. Ao mesmo tempo uma cidade que recebeu muitos investimentos e abriu milhares de postos de trabalho enfrentará uma situação diversa. O Censo Demográfico busca ajustar essas curvas e expressar de uma forma melhor a realidade. Com isso a distribuição de receita entre os municípios também é alterada.

Em conclusão, se você deseja uma cidade melhor e mais justa é vital contribuir com o trabalho dos recenseadores. Só com o retrato fiel do novo Brasil é que poderemos corrigir as distorções sociais acumuladas nos últimos doze anos e seguir, de maneira correta, rumo ao crescimento.