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Editorial

O estica e puxa no setor automotivo

Com a melhora nas vendas de carros novos, o setor de usados começou a perder força

07 de Agosto de 2022 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
Com a melhora nas vendas de carros novos, o setor de usados começou a perder força
Com a melhora nas vendas de carros novos, o setor de usados começou a perder força (Crédito: Luiz Setti (8/1/2020))

O mercado automotivo sofreu muito desde o início da pandemia imposta pelo novo coronavírus. O impacto atingiu todos os setores, da produção de peças até a venda final para o consumidor. O mundo todo enfrentou um desarranjo comercial e os componentes usados nas fábricas de automóveis foram alguns dos itens mais escassos nas prateleiras das indústrias. Várias linhas de produção precisaram parar e colocar seus funcionários em férias.

Quando tudo dava sinais de melhora veio a disputa entre Rússia e Ucrânia e a situação voltou à estaca zero. A Rússia é uma das maiores fornecedoras de matéria-prima para a produção de semicondutores e com as sanções impostas por vários países, mais uma vez a escassez de produtos complicou o mercado automotivo.

Nesse período de estoques baixos e alta no preço dos veículos novos, os carros usados enfrentaram grande valorização. Agora a situação tende a se normalizar. Segundo balanço divulgado pela Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), na sexta-feira (5), a produção de veículos cresceu 33,4% em julho na comparação com o mesmo mês de 2021. Foram fabricadas em julho deste ano 219 mil unidades, o que também representa um aumento de 7,5% em relação a junho. No acumulado de janeiro a julho, foram produzidos 1,3 milhão de veículos, uma queda de 0,2% na comparação com os primeiros sete meses de 2021.

As vendas de veículos novos tiveram elevação de 3,7% em julho na comparação com o mesmo mês do ano passado. Foram emplacadas, 182 mil unidades no período. Na comparação com junho, as vendas aumentaram 2,2%. No acumulado do ano, a comercialização de veículos registra retração de 12% em relação ao mesmo período de 2021, com a venda de 1,1 milhão de unidades.

Segundo o presidente da Anfavea, Márcio de Lima Leite, apesar do crescimento, as vendas mantiveram estabilidade e a percepção foi a de que houve maior volume nas vendas para frotistas, com 50 mil unidades. Ele reforçou que a diferença não é tão significativa, porém impactou o setor e é motivo para observar e entender o que está ocorrendo.

‘A alta de juros e a restrição ao crédito naturalmente gera maior dificuldade de acesso, porque nosso setor depende fundamentalmente do crédito. Há uma redução que continua desde que os juros aumentaram e a participação das vendas à vista e a prazo começa a se distanciar. Neste ano 35% das vendas são a prazo e 65% à vista. No ano passado era exatamente o oposto‘, disse Márcio Leite.

Com a melhora nas vendas de carros novos, o setor de usados começou a perder força. Após um longo período de alta nos preços, que vem desde 2020 com a crise dos semicondutores, foi registrada queda significativa nos preços.

De acordo com os dados da FENAUTO (Federação Nacional dos Revendedores de Veículos), em média, os preços dos carros usados caíram 7,5% entre abril e junho deste ano. Essa retração ajudou a segurar a queda nas vendas, mas o consumidor acabou optando por modelos mais velhos. Os carros produzidos até 2009 representaram 1,9 milhão dos negócios fechados no primeiro semestre de 2022. A tendência agora é que o mercado comece a se reequilibrar.

‘No ano de 2021 tivemos um mercado hiperaquecido até setembro, mas com o aumento de preços dos carros houve uma queda nos últimos meses do ano e o comércio foi desacelerando. Os três primeiros meses de 2022 ainda tiveram reflexo do final do ano passado‘, explica Enilson Sales, presidente da FENAUTO. ‘Todo mês recuperamos um pouquinho e isso é positivo, mas esse pouquinho ainda não fecha o buraco que foi janeiro, fevereiro e março de 2022. A recuperação é lenta e acredito que iremos fechar o ano em torno de 5% a 10% abaixo nas vendas em relação ao ano passado‘, complementa Enilson.

Daqui até o fim do ano o que vai se notar é um estica e puxa entre o mercado de veículos novos e usados. Quando mais crescerem a oferta e as vendas de veículos novos, maior deve ser a queda dos preços no mercado de usados. Só que quanto maior for a procura pelos novos, as promoções diminuem, o preço aumenta e o consumidor migra novamente para os usados.

O importante, em toda essa disputa, é reconhecer que o brasileiro está com boa capacidade de investimento e apto a fazer a economia girar. O setor que souber identificar melhor os anseios e desejos do consumidor vai levar vantagem nessa disputa.