Editorial
Uma Copa com potencial explosivo
Quando a bola rolar é que se vai ter uma noção exata de como tudo isso vai funcionar. E se algumas medidas anunciadas pelos organizadores renderão conflitos e protestos
Estamos a menos de quatro meses para o início da Copa do Mundo do Catar. A competição foi adiada para o final do ano para tentar driblar as altas temperaturas da península árabe. Sem o forte calor, as seleções classificadas vão ter uma chance maior de mostrar o bom futebol que todos queremos ver.
Nessa reta final de preparação, várias estrelas do torneio enfrentam um certo inferno astral. A França, por exemplo, pode perder Pogba, um dos líderes da equipe do ano e destaque na Copa da Rússia em 2018. O meia se lesionou, deve passar por cirurgia no joelho e é dúvida para o mundial.
Outro que não vive um bom momento nos campos e na vida particular é o atacante brasileiro Neymar. Seu clube, o PSG, até agora não confirmou sua presença na próxima temporada. A chance de ser negociado para outro time ainda é grande.
Neymar enfrenta também problemas com a justiça espanhola. Esta semana, um procurador pediu que o atacante brasileiro seja condenado a uma pena de dois anos de prisão num a ação em que é acusado de apropriação indevida de recursos na época de sua transferência do Santos para o Barcelona, em 2013.
O promotor também pede a condenação do então presidente do Barcelona, Sandro Rosell, acusado de corrupção e fraude, e uma multa de 8,4 milhões de euros (o equivalente a R$ 44,5 milhões) para o clube espanhol.
O julgamento está marcado para 17 de outubro, em Barcelona, e pode tirar a concentração do craque brasileiro na reta final de preparação para a Copa. Neymar nega todas as acusações, mas já perdeu um recurso na Suprema Corte espanhola em 2017, abrindo caminho para o julgamento de outubro.
Lionel Messi também não vive boa fase. O argentino trocou anos de Barcelona pelo PSG e também não colheu bons frutos. O desempenho de Messi, na temporada passada, foi muito abaixo do esperado. O que salvou a temporada dele, foi o título da Copa América diante do Brasil, o primeiro da carreira pela seleção portenha.
A vida não está nada fácil também para o português Cristiano Ronaldo. Em 2021, trocou a Juventus pelo Manchester United e decepcionou a torcida. O clube inglês ameaça romper o contrato com o jogador, que pode ficar sem um time de ponta neste início de temporada. Isso dificultaria sua preparação para o Catar. A seleção portuguesa só conseguiu a vaga na repescagem europeia depois de muito sofrimento.
Diante desse cenário, que atinge a carreira de grandes ídolos do futebol, a esperança é que novas estrelas surjam e garantam o espetáculo nos estádios catarianos. Nomes em ascensão não faltam.
Outra novidade que a Copa nos reserva é no campo dos usos e costumes. Será a primeira vez que um torneio de futebol dessa envergadura é disputado num país que preza tanto as tradições religiosas. E muitas torcidas vão enfrentar sérios problemas com as autoridades locais.
O consumo de álcool é um desses entraves. A bebida é proibida no país e só alguns poucos locais tem permissão para vender o combustível que move muitos torcedores. As mulheres também sofrerão uma série de restrições. Já que o Catar segue à risca as regras da religião muçulmana, que nem sempre respeita os avanços sociais conquistados nos países do ocidente. O governo do Catar já alertou, diversas vezes, que o país considera a homossexualidade como crime. E advertiu que não irá tolerar atitudes que violem a lei. Para se ter uma ideia, a pena para quem for preso e condenado pode chegar a 7 anos de prisão.
Quando a bola rolar é que se vai ter uma noção exata de como tudo isso vai funcionar. E se algumas medidas anunciadas pelos organizadores renderão conflitos e protestos. E, em casos extremos, até o boicote por parte de jogadores de uma seleção ou outra.
Vamos torcer para que, até o fim de novembro, tudo se ajeite e tenhamos uma Copa para ser lembrada pelo bom futebol e não pelo ocaso de algumas estrelas e por protestos dentro e fora dos estádios.