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Editorial

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Embora seu índice de letalidade seja baixo, há sempre o risco que mutações com efeitos mais devastadores surjam

28 de Julho de 2022 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: Shutterstock)

A varíola dos macacos chegou a Sorocaba. O primeiro caso positivo para a doença foi confirmado ontem (27) pela Secretaria de Estado da Saúde (SES). Segundo a prefeitura, o paciente é um homem de 28 anos de idade, que teria realizado uma viagem à cidade de São Paulo em 9 de julho deste ano. Ele passa bem, está em isolamento domiciliar e é monitorado pelos técnicos da Vigilância Epidemiológica. Quem teve contato com o paciente também será avaliado.

A doença tem causado preocupação no mundo todo. No último sábado (23), o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse que o atual surto de varíola dos macacos (monkeypox) já se tornou uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII).

Segundo relatos da OMS, a maior parte dos casos notificados foi identificada por meio de serviços de saúde sexual ou em unidades de saúde primária ou secundária, envolvendo principalmente homens que fazem sexo com homens.

Essa terminologia “homens que fazem sexo com homens”, também chamada de HSH, é uma classificação técnica adotada pelas áreas de saúde que inclui homossexuais, bissexuais e pessoas que não se identificam com alguma dessas orientações.

Desde o início do surto, médicos e cientistas de diversos países buscam respostas para explicar por que o vírus tem conseguido, pela primeira vez, se espalhar de forma significativa fora da África e por quais os motivos ele tem afetado principalmente os homens que fazem sexo com homens.

Para o principal diretor da OMS na Europa, Hans Kluge, os grandes eventos e festas têm colaborado para a disseminação da doença pelo mundo. “Com base nos relatos de casos até o momento, esse surto está sendo transmitido por meio de redes sociais conectadas principalmente por meio de atividade sexual, envolvendo homens que fazem sexo com homens. Muitos -- mas não todos os casos -- relatam parceiros sexuais casuais ou múltiplos, às vezes associados a grandes eventos ou festas”, disse o diretor da OMS.

Mesmo sendo associada, por enquanto, a um determinado grupo de pessoas e a determinados comportamentos, a varíola dos macacos se torna um risco para toda a população. E alguns cuidados vão ter que ser tomados até que se entenda mais sobre a doença e como ela está se espalhando.

Para prevenir, é importante não ter contato íntimo ou sexual com pessoas com suspeita ou confirmação da doença; manter sempre as mãos higienizadas; não compartilhar roupas de cama, toalhas, talheres, copos ou quaisquer objetos pessoais. A transmissão por gotículas respiratórias é rara e só acontece através de um contato pessoal prolongado, colocando família e profissionais de saúde em maior risco.

Os primeiros sinais aparecem até o 5º dia de contato e podem ser febre, dor de cabeça, dores musculares e nas costas, linfonodos inchados, calafrios ou cansaço. De um a três dias após o início dos sintomas, as pessoas desenvolvem lesões de pele, geralmente na boca, palma das mãos, planta dos pés, peito, rosto e ou regiões genitais. Os sintomas podem durar de duas a quatro semanas. Deve-se evitar o contato próximo com a pessoa doente até que todas as feridas tenham cicatrizado, bem como com qualquer material que tenha sido usado pela pessoa infectada.

A varíola dos macacos é mais um desafio colocado no caminho da sociedade. Embora seu índice de letalidade seja baixo, há sempre o risco que mutações com efeitos mais devastadores surjam no processo de disseminação da doença. Temos não só que ficar atentos, mas também cobrar das autoridades de saúde, de todas as esferas governamentais, medidas de combate, de controle e de prevenção.

Para o médico sanitarista Nésio Fernandes, presidente do Conselho Nacional de Secretários da Saúde (Conass), o Brasil precisa adotar três ações urgentes para conter a varíola dos macacos. Primeiro, reconhecer que todos os Estados estão em risco e já devem ter a transmissão comunitária deste vírus. Em segundo lugar, ter uma atenção especial com os critérios de isolamento dos casos confirmados. A terceira ação urgente, na visão do especialista, é acelerar a busca por vacinas que possam proteger contra a enfermidade.

“Precisamos entender que o Brasil é um ponto de grande circulação de pessoas. Ter essa doença descontrolada no nosso país representa um risco não só para nós, mas para a América Latina e o mundo inteiro”, disse Nésio Fernandes.

O caminho pode ser longo e vai exigir muitos cuidados. Acabamos de sair de uma grave pandemia e não podemos deixar que o surto de mais uma doença interfira no dia a dia da população. A torcida é que o aprendizado tirado durante a crise da Covid-19 sirva de atalho para a solução desse novo risco que surge mundialmente.