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Editorial

Celular ao volante, ameaça constante

É difícil encontrar quem não tenha desrespeitado a lei, pelo menos uma vez na vida

17 de Julho de 2022 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: Fábio Rogério)

O avanço da tecnologia facilita, e muito, a nossa vida. A telefonia móvel, por exemplo, provocou uma verdadeira revolução. Até o início da década de 1990, a única opção que tínhamos, para telefonar de fora de casa era o orelhão. Quem nunca teve uma fichinha no bolso para uma emergência? Em cidades turísticas, na alta temporada, se formavam filas imensas nos telefones públicos. Todo mundo queria mandar um oi para a família e contar as peripécias do dia.

A chegada dos celulares, e sua constante evolução, acabou com tudo isso. Quase ninguém mais tem telefone fixo em casa e os orelhões viraram praticamente peça de museu.

Aos poucos, com o lançamento dos smartphones, toda a nossa vida passou a girar em torno do celular. Além de fazer ligações, ele substituiu o relógio, a previsão do tempo, os serviços de mensagem, os guias e mapas de ruas, o escritório, tudo está ali, ao alcance das mãos. Só que a nossa dependência por esses aparelhinhos mágicos ficou cada vez maior.

Antigamente, se você não estava ao lado de um aparelho telefônico, não conseguia se comunicar com ninguém. E poucas eram as informações que precisavam ser respondidas com urgência. Todo mundo sabia que o tempo de resposta era mais longo e se programava para isso. Hoje, ao receber uma mensagem ou ligação, bate aquela angústia em responder imediatamente.

Interrompemos almoços familiares, a sessão de cinema e até o namoro para dar satisfação para alguém. E muitas vezes, o assunto nem é tão importante assim. Só que algumas dessas atitudes podem causar sérios danos à sociedade. É o caso da utilizar os celulares enquanto se dirige.

Essa é considerada uma infração gravíssima pelo Código de Trânsito Brasileiro (CTB). A multa é de R$ 293,47 e são adicionados sete pontos à Carteira Nacional de Habilitação (CNH). Essa infração ainda pode ser combinada com outra, a condução de veículo sem as duas mãos ao volante, que rende punição no valor de R$ 130,16 e mais cinco pontos na CNH.

Além disso, a prática coloca em risco a vida dos ocupantes do próprio veículo e dos demais envolvidos no trânsito. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), manusear o aparelho eleva em 400% o risco de acidentes.

A situação já era ruim quando o motorista apenas atendia o telefone. E piorou, ainda mais, quando as redes sociais foram incorporadas ao aparelho. É só andar um pouco pelas ruas para flagrar pessoas digitando ao mesmo tempo que conduzem o veículo no trânsito.

Nos Estados Unidos, por exemplo, várias campanhas educativas foram realizadas para tentar orientar sobre os riscos dessa prática, mas parece que o bom senso nem sempre prevalece. E cada vez mais assistimos esse tipo de conduta irregular em nossas ruas. É difícil encontrar quem não tenha desrespeitado a lei, pelo, menos uma vez na vida.

Aqui em Sorocaba, o número de multas de trânsito por manuseio do celular ao volante caiu 8,8% no primeiro semestre deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado. Foram 5.164 autuações desse tipo nos seis primeiros meses de 2022, ante 5.663 em 2021. O levantamento foi feito pelo Cruzeiro do Sul, com base em dados divulgados pela Urbes -- Trânsito e Transporte, empresa que administra o setor na cidade, e pelo Departamento Estadual de Trânsito de São Paulo (Detran.SP). A queda das infrações, em Sorocaba, está na contramão da alta de 160% no Estado de São Paulo. Um dado bastante intrigante.

A Urbes relaciona a queda às diversas ações educativas e de conscientização que desenvolve. Já para o advogado Renato Campestrini, especialista em trânsito, mobilidade e segurança viária, o que ocorre é a falta de fiscalização. De acordo com ele, embora os dados indiquem diminuição, se vê cada vez mais nas vias da cidade esse tipo de abuso.

Nessa disputa, não faz diferença quem esteja certo. O importante é que devemos evitar o uso do celular ao volante. Segundo as estatísticas oficiais, essa já é a terceira maior causa de mortes no trânsito no País, atrás apenas do uso de álcool e do excesso de velocidade. E como pode se notar, todas as principais causas de morte no trânsito estão ligadas a condutas deliberadas do motorista e, portanto, evitáveis. Um pouco mais de respeito às regras de trânsito pode ajudar a derrubar esses números e salvar muitas vidas.