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Editorial

Infrações no trânsito precisam de solução

Para o advogado Renato Campestrini, a falta de consciência dos motoristas é a principal causa do problema

21 de Junho de 2022 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
(Crédito: Pedro Henrique Negrão / Arquivo JCS (1/2/2021))

O trânsito de Sorocaba sempre foi motivo de muitas piadas entre os próprios moradores da cidade. A falta do uso da seta, por exemplo, é um clássico que já motivou até campanhas educativas do poder público para tentar reverter essa situação.

A grande quantidade de lombadas também desafia a estrutura dos veículos que por aqui circulam. Por anos, bastava um acidente numa determinada rua para que os moradores pedissem ao vereador ligado ao bairro um novo obstáculo. A demanda era prontamente atendida pela prefeitura não importando as justificativas técnicas para a instalação ou não do equipamento.

O mesmo ocorreu com a aprovação de loteamentos abertos com profusão de ruas sem saída, limitando a possibilidade de ligação entre avenidas e estrangulando ainda mais o tráfego. E isso sem contar com os obstáculos naturais, como rios e córregos, e os que remetem à Sorocaba da época dos trens. Os trilhos da ferrovia traçaram cicatrizes perenes no relevo da cidade.

Somando-se tudo isso, é fácil constatar que o trânsito da cidade enfrenta dificuldades para fluir. Em alguns horários do dia, fica impossível se locomover em várias regiões.

Diante desse quadro, o motorista de olho no relógio acelera para recuperar o tempo perdido. Aí surgem as multas. De excesso de velocidade, por furar o sinal vermelho, estacionamento em faixa dupla ou em desacordo com a sinalização, uso do celular para avisar do atraso, e por aí vai. Uma infinidade diária de infrações nem sempre captadas pela fiscalização, mas com alto potencial de provocar acidentes e até mortes.

Segundo os dados divulgados pela Secretaria de Mobilidade (Semob) e publicados na edição de domingo (19) do jornal Cruzeiro do Sul, o número de multas de trânsito aumentou pouco mais de 16% em Sorocaba no primeiro quadrimestre deste ano, no comparativo com o mesmo período de 2019. De janeiro a maio de 2022, foram 67.098 registros, ante 57.797, em 2019. Nos dois, as autuações por excesso de velocidade lideram o ranking de infrações mais frequentes. A comparação, a pedido da nossa reportagem, foi feita com 2019 pois, devido à pandemia de Covid-19, os dados de 2020 e 2021 ficaram subestimados.

Em 2022, transitar em velocidade superior à máxima permitida em até 20% ocupa o primeiro lugar do ranking de infrações, com 33.881 casos. Depois, aparecem avançar o sinal vermelho, com 5.844, e trafegar acima da velocidade permitida em mais de 20% até 50%, com 5.171. Na quarta posição, está não usar cinto de segurança (4.757) e dirigir manuseando celular (1.949).

Em 2022, a maior velocidade registrada foi de 146 quilômetros por hora, na avenida Dom Aguirre, próximo à rua Ana Monteiro Carvalho. No local, o limite é de 70 km/h. Ou seja, o automóvel que cometeu a infração circulava acima do dobro permitido.

Se você achou essa quantidade de multas expressiva, veja o que pensa o advogado Renato Campestrini, especialista em trânsito, mobilidade e segurança viária. Para ele o número de infrações diárias no trânsito é muito superior ao informado pelo poder público, só que não há fiscalização suficiente para flagrar todas as irregularidades cometidas. “A legislação está muito mais favorável para aquele que transita em desacordo com a norma do que aquele que respeita a norma”, explica o advogado.

Para Campestrini, a falta de consciência dos motoristas é a principal causa do problema, embora ambas as questões estejam diretamente relacionadas.

O caminho para melhorar essa situação é longo. Passa por campanhas educativas, pela conscientização de motoristas, ciclistas e pedestres, e por uma reforma viária que amplie a possibilidade de escoamento do trânsito, sem interferir em excesso na paisagem urbana.

Algumas obras, como a nova marginal, estão prometidas há décadas, mas nunca saem do papel. Sem esse esforço conjunto, o trânsito de Sorocaba vai ficar cada vez mais travado e o número de infrações tende a crescer. O motorista precisa ser mais paciente e respeitar as leis. Já poder público tem que acelerar a tomada de decisões para resolver esse problema.