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Editorial

Caminho sem volta

É difícil acreditar que, com tanta coisa errada, seja possível que o resultado, um dia, venha a ser validado

07 de Junho de 2022 às 00:01
Cruzeiro do Sul [email protected]
Fachada da Câmara Municipal de Sorocaba.
Fachada da Câmara Municipal de Sorocaba. (Crédito: LUIZ SETTI / ARQUIVO JCS (7/1/2020))

A Câmara de Sorocaba decidiu suspender, por quinze dias, o concurso público aberto para preencher 40 vagas, para dezenove funções. Milhares de inscritos vão ter que aguardar uma confirmação futura para saber se a prova realizada no dia 29 de maio teve validade ou se tudo terá que ser repetido. De qualquer forma, a imagem do legislativo sorocabano já ficou bastante arranhada em mais este episódio.

A suspensão do processo, que começou a valer ontem (6), foi aceita pela Mesa Diretora da casa depois de uma recomendação da comissão responsável pelo concurso. O objetivo é ganhar tempo para apurar dezenas de novas denúncias enviadas por e-mail ao Legislativo. A Câmara vai ter também que esclarecer, junto à empresa contratada para aplicar o concurso, como questões de Língua Portuguesa aplicadas numa prova do Maranhão foram repetidas em Sorocaba.

A Comissão de Concurso Público considerou, até agora, incompletas as respostas fornecidas pelo Instituto Avança SP, vencedor da licitação. O Instituto chegou a justificar, por nota, que as questões aplicadas no Maranhão eram de domínio público e, portanto, não haveria problema algum em replicá-las. Esse tipo de análise não é nem um pouco reconfortante para quem sonhava com um emprego na Câmara.

A comissão investiga três grupos de possíveis irregularidades nas provas objetivas aplicadas. O primeiro diz respeito aos cargos de Analista Orçamentário e Financeiro, Analista de Recursos Humanos, Designer Gráfico, Técnico em Informática e Engenheiro Civil, que tiveram provas com seis questões alternativas em comum com a prova do Maranhão. Essas questões estavam numa prova ao cargo de Professor de Ensino Fundamental - Inglês para a prefeitura da cidade de Buriticupu. Na cidade maranhense o concurso foi organizado pela empresa LJ Assessoria e Planejamento Administrativo Ltda.

O segundo bloco de irregularidades apontado foi nas provas objetivas para Oficial de Comunicação, Mestre de Cerimônias, Operador de Câmera e Oficial Legislativo, que reproduziram 15 questões, com as mesmas alternativas encontradas na prova para professores da cidade maranhense.

Já o terceiro bloco envolveu as provas para os cargos de Telefonista (9 questões reproduzidas), Oficial de Manutenção (7 questões reproduzidas), motorista (7 questões reproduzidas), agente de apoio legislativo (11 questões reproduzidas), todas presentes na avaliação para motoristas na Prefeitura de Buriticupu, organizada pela mesma empresa LJ Assessoria e Planejamento Administrativo Ltda.

Toda essa suspeita, por si só, deveria ter sido suficiente para a suspensão, em definitivo, do concurso da Câmara de Sorocaba. Mas teve muito mais. Vários concorrentes relataram total desleixo dos fiscais no acompanhamento do certame. Muita gente fez a prova de posse do telefone celular. Não há como saber se as provas foram fotografadas, enviadas para o ambiente externo e as respostas recebidas por meio eletrônico. Em muitas salas, alunos começaram a resolver as questões antes da hora determinada para o início da prova, o que quebraria a isonomia entre os candidatos.

A confusão foi grande e maculou a idoneidade do concurso. É difícil acreditar que, com tanta coisa errada, seja possível que o resultado, um dia, venha a ser validado. Mesmo que a Câmara decida seguir esse caminho, a Justiça provavelmente será acionada por aqueles que se sentirem prejudicados. Aí vira uma bola de neve.

O melhor, nesse momento, é cancelar o concurso, escolher uma nova empresa e reaplicar as provas. Só assim o cidadão terá certeza que o processo foi legítimo. Infelizmente, o sonho dos milhares de inscritos, e que pretendiam conquistar uma vaga, vai ter que ser adiado. Que a decisão do Legislativo seja breve e acompanhada de um longo pedido de desculpas à sociedade. Vai caber também aos vereadores saber como penalizar, de forma exemplar, a empresa que tentou brincar com o futuro e a esperança de tanta gente.